Sábado, 5 de agosto de 2017
E se cantam, ou se estão
presentes e não se retiram, é porque são desaforados, são traidores da
Pátria.
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Da Tribuna da Internet

Ilustração do 27º Batalhão da PMM/SP
Jorge Béja
“C’est vrai. Sont même les deux plus beaux hymnes nationaux dans le
monde”. Foi o que ouvi dizer os dois “gendarmes” (policiais da França)
que mais acompanhavam emocionados do que escoltavam aquela homenagem
prestada às celebridades sepultadas no cemitério parisiense do Père
Lachaise. Éramos muitos: um imponente piano preto de cauda inteira, um
pianista de fraque, turistas, gente da própria França, muitas sepulturas
e todos os entes homenageados – invisíveis, mas presentes. E diante das
sepulturas, entre alamedas (allées) estreitas e outras não, fui
tocando: as Polonaises, Militar e Heróica, frente do túmulo de Chopin,
que as compôs. O Sonho de Amor (Rêve D’Amour), de Liszt, ao lado do
jazigo de Oscar Wilde. Jesus, Alegria dos Homens, de Bach, frente ao
mausoléu de Allan Kardec. La Vie En Rose, junto de Édith Piaf e muito
mais.
Ao final, mesmo cansado, emocionado e sem força no corpo, nos braços e
nas mãos, não deixei de atender aos pedidos dos gentis gendarmes: “La
dernière, s’il vous plaît”. O que eles pediam era a “saideira”, a
“canja”, isto é, a última música, como diz, carinhosamente, o povo
brasileiro.
O HINO MAIS BELO – Embora aquelas quase duas horas
não fossem de um “show”, mas de um solitário ato de fé, de homenagem,
de agradecimento, de reverência, sem “glamour” e sem a presença de
repórteres e jornalistas, ato marcado por tudo que seja transcendental,
vieram força e coragem para a “saideira”. Vou tocar então o hino mais
belo do mundo, respondi. E executei a Marselhesa, com garbo e acordes
cheios.
Ao terminar, executei em seguida o Hino Nacional Brasileiro, com o
mesmo estilo, garbo e acordes cheios. Os gendarmes, que identificaram o
Hino Brasileiro, disseram: “Realmente, são mesmo os dois mais belos
Hinos Nacionais do mundo”. E assim terminou aquele recital. Recital para
a Espiritualidade, para os Espíritos, que depois me deram provas de que
ouviram e agradeceram. E lá se vão cerca de 38 anos.
TUDO A VER – O que tem a ver o título deste artigo
com o este introito? Tem tudo a ver. É um prefácio necessário. Isto
porque enquanto executava o Hino Nacional Brasileiro, um casal de
idosos, em pé bem pertinho da lateral do piano, cada um com a mão
direita espalmada no peito-coração, cantava toda a letra do nosso Hino.
Eram dois brasileiros aposentados. Ela trabalhou por 40 anos em Minas
Gerais tratando de crianças excepcionais. Ele, também por 40 anos, deu
aula de História em colégios particulares de Belo Horizonte. Com as
aposentadorias, levantaram o FGTS. E com o dinheiro, realizaram a viagem
que tanto sonharam: conhecer Paris.
Sim, aquele casal podia cantar o Hino. Eram exemplos de bons
brasileiros. Dedicaram suas vidas ao próximo. Prestaram relevantíssimos
serviços à Nação. Sobreviveram do salário que cada um recebia. Salário
sagrado. De pouca monta, é claro. Mas salário honrado.
SEM MORAL – Já a grande e expressiva maioria dos
parlamentares deste Brasil de ontem e de hoje não pode cantar o Hino
Nacional. A todos faltam autoridade ética e moral. Eles também nem
conhecem a letra do poema de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927).
Se conhecem, é apenas o estribilho. Mas nem aquele “Ó Pátria Amada,
Idolatrada, Salve!, Salve!”, eles podem cantar. E se ousam cantar,
balbuciam.
E quanto às estrofes? Eles também nem sabem o que significa estrofe.
Nem as conhecem. Logo na primeira, se lhes for ensinado e perguntado,
não saberão dizer onde estão o sujeito e o objeto direto do “Ouviram do
Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante”.
Aquele “Terra adorada, entre outras mil és tu Brasil ó Pátria amada”,
eles destruíram. Para eles nem a Terra é adorada, nem o Brasil é Pátria
amada. Eles não são patriotas, não pensam na Pátria, mas nos seus
interesses pessoais e criminosos. Eles são corruptos.
UMA BRADO, UMA REAÇÃO – Tem mais. Sentem horror e
ódio daquela bela passagem que diz “Mas, se ergues da justiça a clava
forte, verás que um filho teu não foge a luta, nem teme quem de adora a
própria morte”. É um brado, uma ação, uma reação que só o povo
brasileiro expressa e tem, por descrever uma arma contra a corrupção, a
desordem, a mentira, a traição, não é mesmo juiz Sérgio Moro?
E corruptos e poltrões não podem cantar o Hino Nacional Brasileiro.
Todos eles devem ir para os cárceres, até a morte por apodrecimento.
Também nem podem estar presentes em ambientes e locais onde o Hino é
apenas tocado por execução instrumental. E se cantam, ou se estão
presentes e não se retiram, é porque são desaforados, são traidores da
Pátria. São piores do que os vendilhões do Templo, que Jesus os açoitou e
dele expulsou, como nos conta não apenas um, mas todos os quatro
evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João).
PS – No dia 20 de novembro de 1996, quando completou 25
anos da queda do Elevado Paulo de Frontin, também coloquei um imponente
piano de cauda na calçada da Avenida Paulo de Frontin, bem debaixo do
viaduto, já reconstruído. E às 12:10 h., exatamente a mesma em que
ocorreu o desabamento, toquei a Marcha Fúnebre de Chopin, em homenagem
aos 29 mortos, fato que foi registrado por todos os jornais e emissoras
de televisão, inclusive o correspondente da CNN. E a jornalista Cláudia
Cruz, então apresentadora do RJTV, da Globo, assim anunciou a próxima
matéria, antes do comercial: “vejam a seguir, uma homenagem emocionada
às vítimas do Elevado Paulo de Frontin”