Domingo, 1º de setembro de 2019
A Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular é parte da programação do evento e reúne 80 produtores
Lu Sudré*
Brasil de Fato | Curitiba (PR)
MST
é um dos protagonistas da feira, comercializando produtos produzidos em seus
acampamentos e assentamentos / Foto: Giorgia Prates
A Praça Santos Andrade, no
centro de Curitiba, se tornou palco de uma grande feira de alimentos produzidos
sem veneno em diversas regiões do país. A feira da Agrobiodiversidade Camponesa
e Popular faz parte da 18ª Jornada de Agroecologia, que teve início
no dia 29 de agosto e vai até o próximo domingo, 1º de setembro.
O
evento reúne mais de 80 produtores que trouxeram à capital do Paraná uma
produção diversificada de hortaliças, verduras, frutas e produtos
agroindustrializados.
Nascido
no município de Santa Maria da Boa Vista, no sertão de Pernambuco, Adailton
Cardoso dos Santos, de 38 anos, constrói o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) no estado.
Ele
conta que está na feira vendendo produtos de uma rede de agricultores do sertão
nordestino e levou quatro dias de ônibus para chegar até Curitiba. Apesar da
distância, o pernambucano garante que valeu a pena.
“A
intenção não é só comercializar o produto, é dialogar com a sociedade de
Curitiba, do estado do Paraná, dialogar com todos os públicos e dizer que a
reforma agrária, a classe camponesa, é quem produz alimento e quem coloca
alimento na mão e na mesa do brasileiro”, afirma Adailton, que conheceu o MST
aos 11 anos.
Formado
em Pedagogia da Terra pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), o
nordestino participou recentemente da brigada internacionalista emergencial do
MST em solidariedade às vítimas do ciclone Idaí, que atingiu Moçambique.
Além de
frutas, como melancias e uvas, o agricultor levou para a Jornada produtos
agroindustriais, como carne de bode congelada à vácuo e mandioca à vácuo. Licor
e cerveja de umbu também estão na lista de Adailton.
Moradora de
Barra do Turvo, município paulista próximo do Vale do Ribeira, Jorlene
Boaventura da Rosa, se orgulha da produção que a Cooperafloresta, cooperativa
da qual faz parte, está comercializando na feira.
“Nas
agroflorestas temos diversidades de plantas. Se planta verduras de pequeno
prazo e já vamos plantando as árvores, depois as frutas… Passando um
tempo, temos uma agrofloresta”, explica Jorlene.
Segundo
ela, é um trabalho de muita alegria, amor, de contato com a natureza.
"É saúde, qualidade e vida. A Jornada é um fortalecimento. Mais união para
lutarmos por esse trabalho maravilhoso”, completa.
A feira
da agrobiodiversidade também é o espaço para divulgar a produção sem veneno
feita no próprio estado, como lembra Pedro Cardoso Carvalho, do Assentamento do
MST Dorcelina Folador, localizado em Arapongas, região norte do Paraná.
“É
muito bom estarmos aqui. As pessoas vêm perguntando, mostramos os produtos para
os consumidores e eles olham a marca. A marca é nossa, da nossa organização.
Não é marca de uma empresa multinacional”, diz, acrescentando que convidou os
visitantes da 18ª Jornada de Agroecologia para conhecer o assentamento de
perto.
Segundo
Carvalho, o Dorcelina Folador produz milhares de litros de leite que são
entregues para mais de 400 escolas da região.
Além
dos produtores “nascidos e criados” no campo, a 18ª Jornada também
comercializa a produção daqueles que se encontraram com a agroecologia
recentemente.
É o
caso de Lucas Schafaschek, que veio de Mafra, Santa Catarina. “Meu avô era
agricultor e minha mãe se criou na roça, mas foi pra cidade. O que aconteceu
com grande parte das famílias. Eu sou da geração que está fazendo esse resgate
a terra por meio da sementes crioulas. A agroecologia é isso: o saber popular,
não só a semente, mas a história da semente”, conta o jovem integrante do
coletivo Maiz Agroecologia, que reúne a produção de nove famílias.
*Com reportagem de Vanessa
Nicolav