Sábado, 22 de fevereiro de 2020
Do IHU
Instituto Humanitas Unisinos
"Deparamo-nos com um quadro nacional de graves ataques aos direitos humanos e à dignidade da pessoa, que se expressa em uma preocupante trajetória do governo rumo ao autoritarismo e ao desrespeito às normas constitucionais, e se manifesta em um processo de elevação da pobreza, do reaparecimento da fome e da miséria, mas também no aumento do feminicídio e de assassinatos de lideranças", manifestou-se a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), em nota, sobre o atual momento do país.
Eis a nota.
Um sistema político-econômico, para seu desenvolvimento saudável, necessita garantir que a democracia não seja somente nominal, mas sim que possa se ver moldada em ações concretas que velem pela dignidade de todos os seus habitantes sob a lógica do bem-comum, em um chamado à solidariedade e uma opção preferencial pelos pobres. (cf. ‘Laudato Sì’, 158)
A Comissão Brasileira Justiça e Paz inicia nova gestão, com a renovação de seus membros pela CNBB, e o faz com a reunião de seu colegiado por três dias de intensos e fraternos debates e estudos, que culminaram com a presença do presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte.
Deparamo-nos com um quadro nacional de graves ataques aos direitos humanos e à dignidade da pessoa, que se expressa em uma preocupante trajetória do governo rumo ao autoritarismo e ao desrespeito às normas constitucionais, e se manifesta em um processo de elevação da pobreza, do reaparecimento da fome e da miséria, mas também no aumento do feminicídio, de assassinatos de lideranças populares no campo e nas cidades, da iminência de um processo de etnocídio e genocídio de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, fruto da cobiça humana e do incentivo governamental à ocupação das terras indígenas para a mineração, a agricultura e a pecuária voltadas à exportação.
É uma conjuntura que preocupa os cristãos de todo o planeta em comunhão com as pessoas de boa vontade que habitam nossa Casa Comum, ameaçada por um sistema econômico que, sob o signo da morte, compromete a vida na Terra. Nós nos unimos ao Papa Francisco em sua caminhada profética em defesa da Amazônia, dos pobres e desesperançados, respondendo a seu chamado de unir forças para garantir a vida de mulheres e homens que precisam receber os frutos do desenvolvimento humano integral, numa perspectiva do Bem Viver.
O Brasil está em uma encruzilhada que ameaça a democracia, a soberania e a vida. Enfrentar essa situação, com dignidade e amor ao próximo, é dever de todas as pessoas.
“Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que dá o trabalho!” (Papa Francisco).
Brasília, 19 de fevereiro de 2020.
Secretaria Executiva
Comissão Brasileira Justiça e Paz
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