Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O QUE FOI A CRUZADA BRASILEIRA ANTICOMUNISTA-CBA

Quinta, 27 de fevereiro de 2020
Por
Salin Siddartha*


A Cruzada Brasileira Anticomunista-CBA era uma organização civil de âmbito nacional que se dedicava a campanhas anticomunistas e tinha por objetivo “combater o comunismo com palavras e não com armas”; destacou-se no cenário político nacional, formando a “coluna dorsal” do antiesquerdismo brasileiro no século XX. Mantinha vínculo de subordinação ao Comando Supremo das Organizações Anticomunistas e filiava-se a uma entidade intercontinental, a Confederação Interamericana de Defesa do Continente. A CBA possuía como símbolo uma cruz, contava com o apoio e cooperação da Igreja Católica e tinha proximidade com grupos militares.

A principal atividade da Cruzada Brasileira Anticomunista era a publicação de matérias antiesquerdistas pela imprensa. Seus panfletos eram impressos em Washington DC pelo USIS (Serviço de Informação dos Estados Unidos) e distribuídos no Brasil.

O grupo sugeria três diretivas de combate ao comunismo e ao esquerdismo: a primeira, de ordem repressiva, consistia no desmantelamento “da máquina subversiva”, pela via da “oposição intransigente às atividades do Partido Comunista”; a segunda seria de ordem elucidativa e se basearia na explicação ao povo, principalmente às massas proletárias, da “viciada doutrina marxista”; finalmente, a terceira, de ordem construtiva, estimularia os “poderes públicos” e os “núcleos capitalistas” a tomarem “medidas eficazes, de cunho democrático e cristão, que resultassem na melhoria das condições gerais de vida do povo brasileiro.” A Cruzada responsabilizava o Partido Trabalhista Brasileiro-PTB como um partido de esquerda que liderava as greves que eclodiam no País, com o objetivo de tumultuar o proletariado, obter unidade sindical e, como fruto desta, criar a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil.

A Cruzada expressava repugnância pela União Soviética. Afirmava que a imprensa, o Congresso Nacional e a área da Educação eram vítimas da “penetração bolchevista”, cuja maior ameaça, porém, era representada pela ação comunista dentro das Forças Armadas, já que, segundo manifestava, “militares comunistas continuavam no serviço ativo, alguns deles exercendo funções de comando”.

Sob o falso argumento de que teria havido fraude em Minas Gerais, a Cruzada Brasileira Anticomunista tentou anular, a todo custo, a eleição de 1955, em que Juscelino Kubitschek foi eleito Presidente da República com 3.077.411 votos, e, no pleito presidencial de 1960, ela fez uma intensa campanha contra o candidato Jânio Quadros. A Cruzada contribuiu para a formação de um ambiente de radicalização e polarização ideológica que preparou o terreno para o Golpe Militar de 1964; no contexto daquele Golpe, foi subsidiada pela interação entre catolicismo, nacionalismo e neoliberalismo, e enfatizou a importância de se prender o Governador do então Estado do Rio de Janeiro, Badger Silveira, sob a falsa alegação de que era “corrupto e comunista”.

Fundada em fevereiro de 1952 pelo antigo militante integralista, Contra-Almirante Carlos Penna Botto (seu presidente), à frente de um grupo que incluía Joaquim Miguel Ferreira Vieira, o delegado Cecil Borer, Dourado Lopes e outros tristemente destacados anticomunistas, a CBA também era um movimento apelidado de “penabotismo”, em alusão ao seu fundador, presidente e líder. Encontrava-se em atividade ainda no início dos anos 1970, conquanto estivesse em franca decadência, longe da fase em que suas atividades atraíam a atenção do público e da imprensa.

Foi extinta em 1973, imediatamente após a morte de Penna Botto.

Cruzeiro-DF, 25 de fevereiro de 2020

SALIN SIDDARTHA

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Artigo publicado originalmente no Jornal InfoCruzeiro