Sábado, 30 de julho de 2022
"Esses ataques não vão me intimidar", disse a vereadora Duda Hidalgo, de Ribeirão Preto - Foto: Arquivo Pessoal
Caso é mais um em fileira de crimes de racismo cometidos contra parlamentares negros e de esquerda no Brasil
Igor Carvalho
São Paulo | SP | 30 de Julho de 2022
A vereadora de Ribeirão Preto Duda Hidalgo (PT) entrou para a lista de parlamentares ou pré-candidatos negros que estão sofrendo ataques racistas relacionados às eleições deste ano. No último dia 25 de julho, nas redes sociais, Diego Wolg, pré-candidato bolsonarista do PSC, afirmou que a parlamentar tem "cabelo de mendigo" e seria "uma vereadorzinha de merda".
Diante do caso explícito de racismo, Hidalgo registrou uma notícia-crime no Ministério Público Eleitoral, requerendo a instauração de um inquérito policial para que o caso seja investigado.
A parlamentar afirma que sofre ataques racistas e machistas "por ser uma jovem mulher negra" desde que assumiu o mandato em Ribeirão Preto, por pessoas que "não aceitam minha presença na Câmara dos Vereadores."
Mensagens de Diego Wolg atacando Hidalgo / Foto: Divulgação/Instagram
"Mas esses ataques não vão me intimidar. Fizemos esta denúncia pois estas práticas não podem ser naturalizadas. A violência política de gênero é um ataque à nossa democracia e precisa ser encarada como um dos grandes problemas que enfrentaremos nessas eleições", explica Hidalgo.
Na publicação que gerou o comentário racista, a vereadora lamentava que o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) tenha sido ovacionado na convenção do PL, que confirmou a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da República.
"A euforia de apoiadores de Bolsonaro em evento do PL com a presença de Silveira é o retrato da misoginia que esse desgoverno legitima. Avisamos desde o começo: Bolsonaro e sua corja são um perigo pra vida das mulheres", escreveu Hidalgo em seu perfil no Instagram.
Wolg, então, saiu em disparada para defender Silveira. "Perigo para as mulheres? Pelo que sei, a mulherada pira no Daniel. É que você tem sovaco peludo e cabelo de mendigo, ele não gosta mesmo."
Nas redes sociais, Wolg exalta Bolsonaro em diversas publicações. Recentemente, tem divulgado fotos em eventos com o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro do atual governo.
Diego Wolg ao lado do candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro / Foto: Divulgação/Instagram
Casos de racismo disparam
As eleições 2022 começam a ficar marcadas pela extensa lista de casos de racismo candidaturas negras de esquerda. Nesta semana, Douglas Belchior e Leonardo Péricles, pré-candidatos a deputado federal e à presidência da República, respectivamente, foram alvos do mesmo racista, que afirma torcer pela vitória de Bolsonaro, "o maior racista do Brasil".
No caso de Belchior, o racista, que se apresentou como Bruno Silva, simulou a morte de George Floyd, com a cabeça do pré-candidato sendo esmagada por um policial e escreveu: "Olha o que faço com você, macaco nojento."
A vereadora Benny Briollly (PSOL), de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, denunciou o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB) por racismo e transfobia. No último dia 17 de maio, o parlamentar subiu ao plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e atacou a pessolista.
"Hoje, na Câmara Municipal, um vereador que parece um porco humano (Tarcísio Motta, do PSOL) tava lá chorando dizendo que eu era gordofóbico. Mas ela (Renata Souza, do PSOL) pode se referir aos outros como boi. Talvez não enxergue sua própria bancada, que tem lá em Niterói um boizebu, que é uma aberração da natureza, que é aquele ser que tá ali (apontando para Benny Briolly), e eles não enxergam", concluiu.
No dia 19 de maio, Renato Freitas (PT), vereador de Curitiba, recebeu um e-mail de Sidnei Toaldo (Patriota), também parlamentar no município, dizendo: "A Câmara dos Vereadores não é seu lugar, volta para a senzala" e "vamos branquear Curitiba e a região Sul, queira você ou não, seu negrinho."
Edição: Thalita Pires
Fonte: Brasil de Fato