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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Exorcizando a pedagogia colonial

Quinta, 10 de novembro de 2022
Pedro Augusto Pinho*
Publicado em 10/11/2022

A publicação londrina Brave New Europe, especializada em assuntos políticos e econômicos, publicou, em 04 de novembro passado, o artigo do professor na Universidade de Missouri, Kansas, Estados Unidos da América (EUA), Michael Hudson, sob título “Germany’s position in America’s New World Order”, traduzido por Ricardo Kobayaski, e editado pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET, como “A Alemanha na nova ordem mundial” (07/11/2022).

Neste artigo, Michael Hudson estabelece um paralelo entre o que está ocorrendo neste século XXI e o que ocorreu, no século XVII, que se conhece pela designação “Paz de Vestefália”.

De início, é preciso dar atenção aos tempos. Na época da Paz de Vestefália, as mensagens mais rápidas iam a cavalo, hoje são instantâneas, não importam onde sejam produzidas, atingindo todo mundo em fração de segundos. A “Paz” teve início em 30 de janeiro de 1648 (Tratado Hispano-Neerlandês) e só foi concluída com o Tratado dos Pirenéus, em 1659. Demorou 11 anos.

O neoliberalismo financeiro em apenas 30 anos já está em crise, apelando para guerra. Guerra que caminha para ser mais mortal do que a das comunicações que os EUA e sua extensão a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) trava contra a Federação Russa e, na prática, contra mais de 140 países, em todos os continentes, que aderiram ao “Cinturão e Rota” (Belt and Road Initiative – BRI).

Pois são as conclusões de Vestefália que, ainda hoje, se contestam: a soberania, a igualdade jurídica e a não intervenção entre os estados, e o domínio da territorialidade, do BRI. Demonstrando que modernidade não é qualidade que seja aplicável, indistintamente, a bens materiais e a comportamentos sociais, sempre oriundos das compreensões psicossociais, ou seja, das pedagogias, nacionais ou coloniais.

Inconformado com a derrota eleitoral de seu candidato para presidente do Brasil, o vice-almirante reformado Sergio Tasso Vásquez de Aquino assim se expressou no artigo “A luta continua!”, distribuído por e-mails:

“Pela mentira e pela demagogia, enganando os povos incautos com suas artimanhas pervertidas, os comunistas, os nazifascistas, os corruptos e os mal-intencionados de todos os tipos podem concorrer a e ganhar eleições livres nas democracias, para impor seu jugo nefasto aos povos”.

Em salada de diferentes ideologias, o vice-almirante deixa de lado justamente aquela que contesta a Paz de Vestefália: a neoliberal, que domina o mundo desde 1990 e se vê, hoje, em derrocada.

O que professor Michael Hudson coloca em oposição? A ordem unipolar das cruzadas, do mundo medieval e, doutra parte, a multipolaridade da Paz de Vestefália, do mundo capitalista em formação.

O que temos hoje? “Democracias”, que significam para o porta-voz Joe Biden “os EUA e as oligarquias financeiras ocidentais aliadas. Cujo objetivo é transferir o planejamento econômico das mãos dos governos eleitos para Wall Street e outros centros financeiros sob controle dos EUA. Diplomatas dos EUA que usam o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para exigir a privatização da infraestrutura mundial e a dependência da tecnologia, do petróleo e das exportações de alimentos dos EUA”.

E “Autocracias”, pelo mesmo porta-voz estadunidense: “países que resistem a essa financeirização e privatização. Pois, basicamente, a questão é se as economias serão planejadas pelos centros bancários para criar riqueza financeira — privatizando infraestrutura básica, serviços públicos e serviços sociais como assistência médica, tornando tudo isso monopólios — ou elevando o padrão de vida e a prosperidade dos povos, mantendo a criação de bancos e dinheiro, saúde pública, educação, transporte e comunicações em mãos públicas”.

E por que mãos públicas ao invés de mãos privadas?

Porque as mãos privadas constituem monopólios internacionais, desconhecendo culturas, condições materiais, diferentes escalas de prioridades, enquanto as mãos públicas refletem a compreensão de cada povo sobre seus desejos, o uso dos seus recursos naturais e suas diferentes culturas. Ou seja, são verdadeiramente democráticas, mesmo se conduzidas por governantes autoritários, enquanto o domínio global é necessariamente autoritário, porque não reconhece as diferenças, mesmo se lá colocados por eleições, que repetem as farsas plutocráticas como do Reino Unido e de uma constituição engessada há quase cinco séculos.

O Brasil, com esta eleição, lamentada pelo vice-almirante e pelos colonizados culturalmente em todas profissões, se torna o possível e desejado parceiro da associação da qual é fundador, os BRICS, em processo de expansão com o ingresso do Irã e da Argentina, e da BRI, consolidando sua liderança econômica, sua riqueza natural, sua geração energética e a cultura de seu povo miscigenado.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da AEPET —Associação dos Engenheiros da Petrobrás.

Fonte: AEPET


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