Sábado, 22 de outubro de 2011
Por Ivan de Carvalho
Mas à medida que caem ou
balançam, em ritmo alucinado, em conseqüência de casos que envolvem corrupção,
ocorridos em suas respectivas áreas de atuação, ministros do governo Dilma
Rousseff, manifestam-se com força modalidades de corrupção que há algumas
décadas atrás não existiam.
Assim, entre os vários
aspectos do que vem acontecendo, vale dentre eles destacar o da
instrumentalização de entidades inventadas há não muito tempo com a melhor das
intenções, a de ajudar os povos, as comunidades carentes, as pessoas
deficientes ou mesmo atividades humanas meritórias, a exemplo das artes ou da
preservação do meio ambiente.
Foi assim que surgiram as
Organizações Não Governamentais, as ONGs, sigla em português. Mas demorou muito
pouco para que, no Brasil, fossem criadas às centenas, não creio que esteja
errando se disser milhares, de ONGGs, ou, explicando melhor, Organizações Não
Governamentais Governamentais. Essa denominação que agora lhes dou só
aparentemente é paradoxal.
Na realidade, ela se
justifica e se explica, por se tratarem de ONGs que proliferam com mais rapidez
que os coelhos por todo o país, capitais e pequenas cidades, litoral e
interior, norte, sul, leste, oeste, nordeste, centro-oeste, com o objetivo
fundamental e não raro único de receber dinheiro do povo, via governo, e
desviá-lo dos fins a que são supostamente destinados para o financiamento de
partidos políticos e o crescimento do patrimônio pessoal de muitos políticos.
As ONGs, que na maior parte
do mundo e em grande maioria são entidades, digamos, do bem, nós aqui no Brasil
conseguimos a magia negra de transformá-las em ONGGs, entidades usadas para a
prática do mal, da roubalheira, da safadeza, do aparelhamento do Estado por
vias travessas.
Isso a completar o aparelhamento direto,
ostensivo e tão sem vergonha que a nação vem testemunhando e que – junto com
ONGGs e coisas assim – produz o mal no serviço público de saúde, na segurança
pública, na péssima qualidade do ensino público, nas imensas deficiências de
infraestrutura para a economia do país se desenvolver e sua população ter
melhor qualidade de vida, no transporte coletivo urbano miserável, na miséria
das aposentadorias, na voracidade tributária, pois se há que roubar, tem de
haver o que roubar.
Ontem à noite, o ministro do Esporte, Orlando
Silva, herdado do ex-presidente Lula da Silva pela presidente Dilma Rousseff,
estava no Palácio do Planalto para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff.
Convocado por ela. A expectativa era de que, mesmo ainda “sem provas”, ele sairia
do cargo. Não aconteceu.
O PC do B, partido que representa no governo,
reunira-se e decidira que o ministro não pediria demissão – a presidente, se
quisesse, que o demitisse. Dilma disse ao ministro para “continuar
trabalhando”, segundo ele contou, ao sair da reunião. O baiano Orlando Silva,
se cair, pode ser substituído por alguém indicado pelo PC do B que Dilma não
quer ver fora de sua base política. Pretende botar no cargo a vagar alguém
indicado pelos comunistas.
O procurador geral da República, Roberto Gurgel,
pediu ao STF uma investigação para apurar um possível envolvimento do ministro
Orlando Silva em um esquema de desvio de dinheiro público, envolvendo uma ONG,
perdão, uma ONGG. Acha que há fatos suficientes para instaurar a investigação.
A coisa está braba também para o governador do
Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT, mas que já foi do PC do B, quando o representou
no mesmíssimo Ministério dos Esportes. A situação de Agnelo Queiroz, também está
muito ruim. Mas há uma diferença fundamental – uma canetada da presidente tira
Orlando Silva do jogo. Agnelo só sai com um processo de impeachment. E ele é do PT.
- - - - - - - - - - - - - - - - Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.