Da revista IstoÉ, edição 218, deste 21 de outubro
Principal testemunha da Operação Shaolin e ex-funcionário das ONGs que participaram das fraudes no Ministério do Esporte, Michael Vieira acusa o governador do DF e ex-ministro de ser o principal chefe do esquema e de ter recebido propina
Claudio Dantas Sequeira
Nos últimos dias, o escândalo dos desvios
de verbas de ONGs ligadas ao Ministério do Esporte, detonado pelo
policial militar João Dias Ferreira, atingiu em cheio o ministro Orlando
Silva e colocou em xeque a administração de nove anos do PCdoB à frente
da pasta. Agora, uma nova e importante testemunha do caso pode dar
outros contornos à história, ainda repleta de brechas e pontos obscuros.
O que se sabia até o momento era que os comunistas, além de terem
aparelhado o Ministério do Esporte, montaram um esquema de escoamento de
verbas de organizações não governamentais para abastecer o caixa de
campanha do partido e de seus principais integrantes. Em depoimentos ao
longo da semana, o PM João Dias acusou Orlando Silva de ser o mentor e
principal beneficiário do esquema. A nova testemunha, o auxiliar
administrativo Michael Alexandre Vieira da Silva, 35 anos, apresenta uma
versão diferente. Em entrevista à ISTOÉ, Michael afirma que o atual
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e ex-ministro do
Esporte, hoje no PT, mas que passou a maior parte de sua trajetória
política no PCdoB, é quem era o verdadeiro “chefe” do esquema de desvio
de recursos do Esporte. Até então, Agnelo vinha sendo poupado por João
Dias.
Michael foi a principal testemunha da Operação Shaolin, deflagrada no
ano passado pela Polícia Civil do DF e na qual foram presas cinco
pessoas, entre elas o próprio soldado João Dias. Seu papel nesse enredo é
inquestionável. Michael trabalhou nas ONGs comandadas por João Dias,
conheceu as entranhas das fraudes no Ministério do Esportes e, durante
um bom tempo, esteve a serviço dos pontas-de-lança do esquema. Sobre
esse período, ele fez uma revelação bombástica à ISTOÉ: “Saquei R$ 150
mil para serem entregues a Agnelo (então, ministro)”, disse ele na
entrevista.
Em 2008, Michael já havia denunciado todo o esquema das ONGs no
Ministério do Esporte e, desde então, passou a colaborar secretamente
com os investigadores. Hoje, se mudou de Brasília e vive escondido. Os
depoimentos de Michael serão cruciais para o andamento inquérito 761
sobre o envolvimento de Agnelo, que corre no STJ e deverá ser remetido
ao STF pelo procurador-geral da União, Roberto Gurgel. Partícipe do
esquema, Michael tem uma série de elementos para afirmar categoricamente
que era Agnelo “quem chefiava o esquema”. Durante o tempo em que
trabalhou no Instituto Novo Horizonte, o auxiliar administrativo ficou
sabendo de entregas de dinheiro e da liberação de convênios, por meio de
Luiz Carlos de Medeiros, ongueiro e amigo do governador. “Medeiros
falava demais... Sempre comentava que estava cansado de dar dinheiro
para Agnelo”, diz. Sobre o ministro Orlando Silva, Michael afirma que
ouviu seu nome uma única vez e por meio do delegado Giancarlos Zuliani
Júnior, da Deco (Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado).
“Contei a Giancarlos sobre a existência de um cofre num depósito de João
Dias, em que havia armas e documentos que poderiam incriminar algumas
pessoas. Aí ele me perguntou se eu sabia do envolvimento de Orlando
Silva e da ONG Cata -Vento”, lembra.
Na entrevista à ISTOÉ, Michael revela ainda que o esquema de fraudes com ONGs de fachada transcende as fronteiras do PCdoB e do Esporte. Atingiria também, segundo ele, o Ministério da Ciência e Tecnologia, então na cota do PSB.
Leia a íntegra de "Saquei R$150 mil para Agnelo".