Quinta, 8 de outubro de 2010
Por Ivan de Carvalho
José Serra, da oposição, tem muitos. Dentre eles, o maior é matemático – simplesmente virar o jogo. A governista Dilma Rousseff, do PT, saiu do primeiro turno com uma vantagem de 14 pontos percentuais do total de votos válidos sobre o tucano.
Abstraindo-se os votos dados a Marina Silva e a outros candidatos, Serra teria que conquistar metade (sete) dos 14 pontos percentuais da vantagem de Dilma Rousseff para se por em empate com ela.
Ontem já se falava, embora sem confirmação, que uma pesquisa interna feita para a área governista mostrava que a vantagem de Dilma já caiu para dez pontos percentuais. Se verdadeira a informação, não é uma notícia muito preocupante para a candidata e seu entorno – Serra já teria conseguido dois dos sete pontos percentuais que precisa tirar de Dilma. Mas pode ser, afinal, mero boato.
Outro problema de Serra? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Serra foi ministro, comentou que é pequena a chance de Serra vencer a eleição do próximo dia 31. Para dizer este, FHC naturalmente avaliou vários aspectos do cenário político. Mas FHC não é a pitonisa de Delfos e muito menos um dos já comprovadamente infalíveis profetas bíblicos.
Ocorre que Dilma também tem dificuldades e são muitas, algumas parecidas, outras bem diferentes das que afligem Serra. Uma delas é o PMDB.
O magoado ex-governador cearense, ex-ministro e ex-candidato a presidente da República Ciro Gomes foi alvo de afagos e gestões e esta semana tornou-se um dos quatro “coordenadores” da campanha. Um gol da campanha de Dilma.
Acontece que o PMDB, que tem seu presidente Michel Temer na chapa de Dilma como candidato a vice-presidente da República, não gostou. Conforme lembrou o jornal O Globo em reportagem, ontem, Ciro já xingou o PMDB. A indicação de Ciro foi motivo até de “chacota nas reuniões reservadas do PMDB”, diz a matéria.
Mais do que chacotas, houve mal-estar, irritação. Ciro, que é desafeto de José Serra, já chamou Temer de chefe de um “ajuntamento de assaltantes”. Ora, temer é o companheiro de chapa de Dilma, para o que foi indicado pelo “ajuntamento de assaltantes” do qual é chefe, o PMDB. Ciro, em outras ocasiões, chamou o PMDB de “quadrilha” e disse que a prática do partido é a da “frouxidão moral”, de acordo com a reportagem assinada pela jornalista Maria Lima.
Os peemedebistas viram na escolha de Ciro uma atitude de Lula para agradar os governadores eleitos Cid Gomes, do Ceará e irmão de Ciro e Eduardo Campos, de Pernambuco. Campos é do PSB, como Ciro. Mas viram também uma desconsideração com o PMDB, que já estava aborrecido pela desconsideração que amargou durante a campanha do primeiro turno, sem conseguir participar do núcleo da campanha e influir nela e tendo que suportar coisas como as que aconteceram na Bahia, onde Lula e Dilma (esta quebrando um pacto) descartaram a candidatura de Geddel a governador, quando julgavam a eleição ganha no primeiro turno.
Agora, o PMDB não quer deixar para acertar sua participação no governo depois da eleição. Teme ser novamente desvalorizado. Está cobrando acertos antecipados. Afinal, errar é humano. Repetir o erro é burrice mesmo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista político baiano.