Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A República dos Rentistas: Especuladores admitem que o Banco Central estimula a especulação às custas do povo


Sexta, 15 de outubro de 2010
Do site “Auditoria Cidadã da Dívida”
O Jornal Valor Econômico confirma uma denúncia já feita várias vezes pela Auditoria Cidadã da Dívida: as compras de dólares feitas pelo Banco Central (para acumular reservas internacionais, às custas do aumento da dívida interna, sob a justificativa de impedir a desvalorização do dólar) estimulam os especuladores a trazerem mais dólares ainda ao país, provocando, na realidade, mais desvalorização da moeda americana, prejudicando a economia nacional. Desta forma, as exportações ficam mais difíceis, e as importações mais baratas, prejudicando a indústria nacional e gerando grande rombo nas contas externas.

O que mostra que a dívida interna feita para acumular reservas é uma dívida ilegítima, ou seja, não serve para os propósitos para os quais é contratada, e ainda custa caríssimo ao país.

Segundo um analista do próprio mercado financeiro, citado pelo jornal:
“nada mais confortável para o especulador do que a certeza de que alguém vai comprar seus dólares que ninguém mais no mundo parece querer. "Ao tomar dólares diariamente você está falando para o investidor: pode vir que vou comprar. Com as entrada diárias o BC não diminui a volatilidade. Ele dá liquidez para os investidores."

Não por coincidência, o jornal Estado de São Paulo mostra que as reservas internacionais atingiram novo recorde de US$ 280 bilhões, o que significa que o BC não pára de comprar dólares. O governo tem afirmado que isto significa que o Brasil seria um “credor externo”, ou seja, possuiria mais reservas em dólares do que o total da dívida externa. Porém, isto é mentira, dado que a dívida externa brasileira já ultrapassou a marca dos US$ 300 bilhões.

Além do mais, estes US$ 280 bilhões em reservas – que são aplicados principalmente em títulos do Tesouro Americano, que não rendem quase nada - foram comprados pelo BC com títulos da dívida interna, que paga os maiores juros do mundo aos rentistas, às custas do povo. Além do mais, quando o dólar se desvaloriza (como tem ocorrido nos últimos anos), o BC fica com o prejuízo, enquanto os rentistas ganham, pois estão com os títulos da dívida interna, denominados em reais. 

Diante desta situação, começam a surgir na grande imprensa propostas de controles sobre o fluxo de capitais, como no caso do artigo de André Nassif nos jornais Valor Econômico e Correio Braziliense, que também confirma as denúncias feitas pela Auditoria Cidadã da Dívida:
“...como nossa dívida interna está fortemente concentrada no curto prazo e as taxas de juros básicas são extremamente elevadas para padrões internacionais, compras maciças de reservas internacionais no Brasil implicam elevado crescimento da dívida pública interna. (...) O aumento da alíquota de IOF para 4% sobre influxos de capitais destinados a investimento em carteira de títulos de renda fixa dificilmente deterá a avalanche apreciativa do real por uma razão simples: independentemente do elevadíssimo diferencial de juros, enquanto os investidores estrangeiros continuarem apostando que o real seguirá sendo a moeda mais rentável do mundo, esta seguirá apreciando. Isso posto, cabe às autoridades econômicas brasileiras aplicarem mecanismos mais eficazes de restrição quantitativa (por exemplo, "quarentena" de um ano para aplicações estrangeiras em títulos de renda fixa - os ativos acionários poderiam ser excetuados), medida que, embora pareça radical, tem sido defendida até mesmo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Basta acessar seu website (www.imf.org) e buscar seus recentes estudos de membros de sua equipe sobre o tema. Do contrário, no médio prazo, teremos de assistir, impassíveis, à depreciação imposta a fórceps pelo mercado.”

O resultado disso está em notícia da Folha Online, segundo a qual o Brasil é cada vez mais procurado pelos Fundos de Investimento bilionários, ou seja, grandes grupos de rentistas que lucram às custas do povo.
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