Quarta, 24 de agosto de 2011
Por
Ivan de Carvalho

De um modo geral, a medida
é válida e significativa, ela mostra força. Mas não se pode levá-la ao pé da
letra, por mais de um motivo. Um dos exemplos, aliás o mais vistoso de todos, é
Salvador. O prefeito é do PP e tem divergências administrativas sérias com a
administração estadual, o que ficou evidente a respeito do transporte de massa,
na questão do dilema entre metrô e BRT.
Ainda sobre Salvador, há
uma idéia do governo municipal e do PP de que estes tenham um candidato próprio
à sucessão do prefeito João Henrique. O nome em voga é o do deputado federal
João Leão, que não tem uma tradição política marcante em Salvador e certamente
terá dificuldades para levar seu nome à mente do eleitorado como pré-candidato
no tempo escasso de que dispõe para tentar isso.
Mas a existência desse
plano ou idéia do PP e, supõe-se, do prefeito, formalmente não perturba a
contagem de 340 municípios feita pelo governador, mas prejudica seus planos
políticos, pois se o PP tiver candidato próprio a prefeito de Salvador,
certamente este não será o candidato do governador nem de seu partido, o PT. No
momento, o governador anuncia abertamente a candidatura do deputado petista
Nelson Pelegrino.
Caso esta candidatura se firme partidariamente, o
que é muito provável, mas ainda encontra resistências em setores petistas, sua
viabilização eleitoral pode depender, em muito, da capacidade do governo e do
PT de conseguir que os demais partidos da base desistam de suas próprias
candidaturas. Pelas contas de Wagner, existem seis pré-candidaturas de sua base
política à prefeitura da capital. Ele sonha (e já trabalha para realizar o
sonho) que só uma saia das convenções – a do candidato do PT. Assim fica tudo
muito bonitinho, muito hegemônico: governo da União, governo do Estado, governo
da capital do Estado.
Mas, voltando ao tema municipal, a conta de
Wagner não é exatamente de “340 municípios” em mãos da base, mas de 340
prefeituras. O que não é a mesma coisa. A base pode ter o prefeito, uma parte
geralmente maior (eventualmente, menor) dos vereadores, mas não tem o
município. Porque neste sempre há alguma oposição, mais ou menos expressiva.
Com vereadores, outras lideranças políticas, contingentes eleitorais.
O governador calcula que o PT consiga eleger no
próximo ano 80 prefeitos, segundo entrevista que deu à rádio Tudo FM. Claro que
o conjunto dos partidos da base elegerá muito mais que isso. Ficará inclusive
quase certa a eleição do futuro prefeito de Feira de Santana, segundo colégio
eleitoral do Estado, caso se confirme o ingresso no PP do ex-prefeito e
aspirante à eleição José Ronaldo, do DEM.
A passagem de Ronaldo do DEM ao PP seria um golpe
doloroso neste primeiro partido, que com Ronaldo teria uma chance enorme de
reconquistar o segundo maior colégio eleitoral do estado, perdido recentemente
quando o prefeito Tarcízio Pimenta trocou o DEM pelo PDT, em busca de uma
legenda para tentar uma dificílima reeleição. Mas seria um reforço importante
para o PP. Este partido, no entanto, sofre no momento com os ataques ao
ministro das Cidades, o deputado baiano Mário Negromonte e com fortes
divergências em sua bancada na Câmara federal – bancada que garantiu a ida de
Negromonte para o cargo de ministro.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.