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(Millôr Fernandes)

sábado, 13 de agosto de 2011

O Congresso do PP

Sábado, 13 de agosto de 2011
 Por Ivan de Carvalho
Como tudo o mais, não foi por acaso que Salvador foi escolhida para sede do III Congresso Nacional do Partido Progressista, o PP. O titular do ministério que o partido tem no governo Dilma Rousseff é Mário Negromonte, deputado federal pela Bahia. Mas este não foi o único motivo para a escolha da capital baiana.
 
    Há pelo menos mais três motivos para esta escolha e não estou incluindo entre eles a possibilidade que o PP ofereceu aos participantes do Congresso que vieram de outros lugares de passarem um fim de semana numa cidade agradável para os que buscam lazer, apesar de estar atualmente mal cuidada e com o seu centro histórico, especialmente o Pelourinho, numa degradação que dá pena.
 
    Refiro-me a motivos políticos.
 
   Um deles, mais concreto, é a entrega da presidência da seção municipal de Salvador ao prefeito João Henrique, que ingressou no partido recentemente, após deixar o PMDB, que lhe permitiu renovar o mandato de prefeito, com uma providencial, mas absolutamente lógica ajuda do eleitorado que votara no candidato democrata ACM Neto no primeiro turno.
   
   Menos concreto, mas notório como motivo da escolha de Salvador é a intenção do PP de fortalecer a hipótese do lançamento de um candidato próprio à sucessão do prefeito João Henrique. Este candidato, se houver – isto é, se o PP não apoiar o candidato do PT a prefeito no ano que vem – deverá ser o deputado federal João Leão, atualmente chefiando a Casa Civil do prefeito.
 
    Leão é um político importante no PP, cuja bancada federal na Câmara dos Deputados liderou por amplo período. Tem recebido votações muito expressivas nas eleições para deputado. Foi prefeito de Lauro de Freitas. Mas terá de percorrer uma enorme distância para tornar-se um candidato viável a prefeito de Salvador. É claro que se conseguir essa façanha, o PT não contará com o PP na sua lista de aliados nas eleições municipais da capital. Aliás, o fracionamento da base política do governo Wagner em relação à sucessão do prefeito João Henrique é, no momento, muito ampla e parece haver uma boa chance de que se mantenha assim.
   
   A partir de ontem consolidou-se o trio de comando do PP na Bahia, formado por João Henrique, João Leão e o ministro Mário Negromonte, indicado para o cargo e prestigiado pela bancada de seu partido na Câmara, bancada que o tinha como líder. Na medida em que o PP consiga viabilizar a pretensão de ter candidato próprio a prefeito da capital, pode-se imaginar que haja um afastamento bastante profundo entre a legenda na Bahia e o PT, bem como o afastamento gradual, lento, mas seguro, em relação ao governo do Estado.
   
   E aqui entra o outro motivo que poderá ter levado o PP a escolher Salvador como sede de seu III Congresso Nacional. Vale assinalar que o PP é, depois do PT e do PMDB, o maior partido da base política do governo Dilma Rousseff. Mas seu apoio ao governo (como o do PMDB) não envolve compromisso eleitoral com o PT e sua candidatura presidencial em 2014.
   
   Até pelo contrário. O presidente nacional do PP é o senador Francisco Dornelles, sabidamente fã de carteirinha da candidatura do colega tucano e parente (ainda que distante) Aécio Neves a presidente da República nas eleições de 2014. Se Aécio for mesmo candidato a presidente, é extremamente provável que tenha o apoio do PP. Então, aqui na Bahia, PT e PP irão cada um para seu lado. Quem seria então o candidato do PP a governador? Bem, o prefeito João Henrique, segundo atilada observação de um experiente político, “é um visionário”.
 
   No III Congresso do PP, Jaques Wagner marcou presença, mas não foi para ele, e sim para João Henrique, que fizeram um coro de “governador, governador”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.