Sábado, 6 de agosto de 2011
Por Ivan de Carvalho

Apesar de depois o então ministro haver alegado que estava se referindo a alguns jornalistas, não se sabe bem por quais razões o PT não acreditou nesta alegação – apesar de ser um partido chegado a malhar a imprensa – e, discretamente, nos bastidores, vestiu a carapuça e incorporou notória irritação.
O ministro parece não ter se importado muito com tão ávida reivindicação da carapuça pelo PT e fez seu segundo lance ao revelar ao país – porque nos bastidores já dissera antes das eleições ao então presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff estava ciente – que em outubro passado votara no mui amigo José Serra, principal adversário de Rousseff nas eleições presidenciais.
Aí, a presidente e seu conselho político informal decidiram que Jobim não poderia ficar no cargo, não pelo voto, mas pela revelação. E ficaram esperando tempo bom para retirá-lo de lá. Mas o ministro não deu folga. Deu mesmo foi uma entrevista (que pode ter sido concedida antes mesmo da inesperada declaração de voto, mas foi publicada depois pela revista Piauí). E, na entrevista, chamou a ministra de Relações Institucionais, senadora petista Ideli Salvatti, de “muito fraquinha” e da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que “sequer conhece Brasília”. Quanto ao primeiro caso, o de Ideli, parece que tem razão, a julgar pela avaliação de muitos petistas.
Então a presidente Dilma já não pôde, como tencionava fazer, esperar o momento adequado para a demissão. Tinha que demitir imediatamente. Mas Jobim, embora o PMDB não o contabilizasse como um dos seus ministros, é filiado a este partido, que naturalmente esperava ser, no mínimo, consultado. No entanto, o governo e seu principal conselheiro, o ex-presidente Lula, ignoraram a existência do PMDB, onde a insatisfação terá crescido.
O escolhido por Dilma, com todas as bênçãos de Lula, foi o ex-chanceler durante os oito anos do governo de Lula, Celso Amorim, um diplomata de “esquerda”. Dizem, sem melhores especificações, que se comentou em setores das Forças Armadas desfavoravelmente, inclusive com o argumento de que colocar um diplomata como ministro da Defesa é como colocar um médico tomando conta de um necrotério. Há defeito na avaliação – poderia ser um médico legista.
Ontem, fora das Forças Armadas, havia uma porção de gente elogiando a escolha de Celso Amorim, cuja qualidade não seria apenas a de pessoa da absoluta confiança do ex-presidente Lula, a quem é ligadíssimo. Diziam que é “preparado”. Resta saber “preparado” para quê. No governo Lula, José Viegas, outro diplomata, foi ministro da Defesa. Era também muito preparado, claro. Não deu certo.
Excluindo a qualidade de ser homem de confiança de Lula, tenho a impressão de que não fica nada. O ex-ministro das Relações Exteriores perpetrou aquela patuscada brasileira em Honduras, transformando nossa embaixada em palanque para Manuel Zelaya, um êmulo de Hugo Chávez. E de lá a política externa brasileira saiu com o rabo entre as pernas, mesma atitude com que saiu da tentativa de, junto com a Turquia, tentar negociar com o Irã o problema da nuclearização do país.
Mas o pior mesmo será se Celso Amorim começar a se aconselhar com Marco Aurélio Garcia sobre os problemas de sua pasta.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.