Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Solidariedade a Colbert é geral

Quarta, 10 de agosto
 Por Ivan de Carvalho
Operação Voucher, da Polícia Federal, desencadeada ontem. Foram 19 mandados de prisão preventiva, 19 de prisão temporária e sete de busca e apreensão. R$ 610 mil foram apreendidos e possivelmente documentos e objetos (computadores). A PF conseguiu por as mãos – não algemas, que gostaria, mas cuja imposição abusiva o Supremo Tribunal Federal proibiu uns tempos atrás – em 33 pessoas.
 
    Uma pessoa pelo menos, afirmava-se ontem intensa e abertamente entre todos que a conhecem, no Congresso Nacional, na Assembléia Legislativa da Bahia e na cidade de Feira de Santana, não deveria estar entre os que foram presos, nem entre os suspeitos – o ex-deputado estadual e federal Colbert Martins Filho, do PMDB.
 
    Em Feira de Santana, terra e base política de Colbert, a estupefação e a incredulidade inicial ante a prisão passou rapidamente à solidariedade e à indignação. A suspeita de corrupção contra ele foi por todos, inclusive por aliados e adversários políticos, vista como absurda, inconcebível, diante do comportamento dele durante toda a sua vida, privada e pública, como, a título de confirmação antecipada, pela exemplar conduta ética de seu pai, o ex-prefeito de Feira de Santana e ex-deputado federal Colbert Martins.
 
    Na Assembléia Legislativa, todos os deputados que compareceram à sessão de ontem (dos mais variados partidos representados na Casa) assinaram “moção de desagravo” lida da tribuna pelo deputado Targino Machado, líder do bloco PSC-PTN. Entre os signatários, o deputado Zé Neto, do PT e líder do governo. Targino disse da tribuna que pela honestidade de Colbert põe “as duas mãos no fogo, sem medo de queimá-las”.
 
    No Congresso, vários parlamentares se solidarizaram com Colbert Martins Filho e repudiaram a suspeita que lhe tenta impor a Polícia Federal. Um dos que se pronunciaram em sua defesa foi o deputado Sérgio Carneiro, do PT e como Colbert e Zé Neto, com base política e história pessoal em Feira de Santana.
 
   Na verdade, uma leitura atenta do noticiário a respeito da Operação Voucher, no que diz respeito à suposta participação de Colbert Martins Filho, mostra que neste ponto a Polícia Federal perpetra uma palhaçada. O convênio suspeito vem desde 2009, três parcelas já haviam sido pagas, as prestações de contas feitas, nenhuma dúvida levantada sobre elas.
 
   E então, com parecer favorável do setor jurídico do Ministério do Turismo, cai na mesa de Colbert, secretário nacional de Programas e Desenvolvimento do Turismo, o processo de pagamento da quarta e última parcela do convênio. Ele, no cargo havia menos de duas semanas, olha a papelada, que nada aponta de errado ou duvidoso, pelo contrário – e assina. Dali, o papel teria de ir ainda à mesa do ministro para receber a assinatura deste.
 
   Ética e juridicamente, não há dúvida de que Colbert vai sair desta como um inocente injustiçado. Isto, a meu ver, cria para ele a obrigação de, como cidadão, processar a União por danos morais, infringidos a ele como indivíduo e à sua imagem pública de político, vital para pleitear mandatos eletivos, como tem feito.
 
   O convênio suspeito, repito, vem de 2009. Vem do tempo em que no cargo hoje ocupado pelo ministro Pedro Novais, do PMDB, estava a hoje senadora Marta Suplicy, do PT. Que teve como chefe de gabinete e secretário executivo Mário Augusto Lopes Moisés, também preso ontem, juntamente com o secretário executivo atual, Frederico da Costa.
 
   Marta estava ontem muito ocupada em defender seu homem de confiança no Ministério do Turismo, Mário Moisés. E muito zangada por causa da Operação Voucher, que não deve ajudá-la a chegar novamente à prefeitura de São Paulo. Mas qual a razão que impede a Polícia Federal de solicitar a ela uma “audiência” para tomar seu depoimento sobre o caso?
 
   Por menos que tenha a dizer, terá muito mais, sem dúvida, que Colbert Martins. Mas a senadora, segundo declarou, já disse, às ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, o que tinha a dizer. A PF e o povo que adivinhem.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.