Quarta, 1 de novembro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Esta é uma questão relevante para a
presidente da República e mais relevante ainda para o governador Jaques Wagner,
enquanto para o futuro prefeito ACM Neto é essencial.
Antes
de lembrar o que já disseram as três pessoas citadas sobre essas relações,
creio que vale citar uma declaração do senador petista Walter Pinheiro, que foi
candidato a prefeito em 2008 e este ano foi o coordenador político da campanha
eleitoral de Nelson Pelegrino: “O povo de Salvador errou em 2008 e em 2012”.
Mas errou como? Por haver eleito, em
2008, um prefeito que está para concluir
seu mandato com alto índice de desaprovação para seu desempenho, segundo as
pesquisas de opinião pública? Se é nisto que se justifica a frase do senador,
então onde fica a justificação do erro de agora, quando o povo de Salvador
elegeu para prefeito alguém que ainda não começou a governar?
Bem, melhor buscar justificativa mais
coerente. O povo errou em 2008 e em 2012 porque não elegeu os candidatos do PT.
Ou, em 2008, porque não elegeu o então deputado Walter Pinheiro e, em 2012, o
deputado Nelson Pelegrino. Bem, aí já dá para entender – o povo de Salvador é
um povo malcriado, rebelde, que teima em pensar pela própria cabeça, mostrar
que ninguém manda, ter suas próprias ideias ou preferências, ainda que de uma
ou outra depois se arrependa, abrir seu próprio caminho a andar pelo que já lhe
dão pronto.
Acolá votando em Mário Kertész, lá votando em
Fernando José, ali votando em Lídice, preferindo depois dar dois mandatos a
Imbassahy, mais dois a João Henrique e finalmente entregando o abacaxi para ACM
Neto descascar, do seu jeito e como puder, apesar da estranhíssima tese do
alinhamento, que foi reprovada – e precisava ser, e precisa continuar sendo
rejeitada, em nome de uma política republicana dos governos em todo o país.
Tenho a impressão de que, no Brasil, ainda
vamos ouvir falar dessa tese do alinhamento político entre os gestores públicos
das três esferas de poder da Federação. Cumpre, de saída, no entanto, deixar
muito claro que qualquer discriminação na locação e liberação voluntária de
recursos (nem me refiro às obrigatórias) baseada em desalinhamento político
(seja em Salvador, Manaus, Aracaju, não importa onde) não seria contra o gestor
público “desalinhado”, mas contra o povo da cidade que o elegeu, uma
perseguição contra cada pessoa – de infantes a velhos.
Seria desumano, além de jurídica e
politicamente inaceitável, porque o dinheiro público é do povo, que o produz
pagando tributos, e não dos governantes. Já o by pass, tipo a tentativa de fazer alguma coisa pondo indevidamente
à margem a autoridade municipal seria, não desumano, mas antidemocrático,
porque uma falta de respeito à decisão popular pelo voto.
Felizmente, neste primeiro momento, do
governador Jaques Wagner já temos declarações animadoras. Ele disse que
preferia a eleição de outro candidato (o do PT, Pelegrino), “mas respeito” (a
decisão popular). Acrescentou que serão “adversários políticos, mas aliados por
Salvador”. É exatamente isto que o eleitorado pretendeu, ao eleger um
oposicionista aos governos federal e estadual sob uma Constituição republicana
onde os negócios públicos devem ser tratados de modo republicano.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.