Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A busca do novo

Terça, 30 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho
        A busca do novo.
Entre outras, esta foi uma importante razão para o eleitorado paulistano rejeitar a candidatura do tucano José Serra e aceitar a candidatura do petista Fernando Haddad, que Lula fez cair de paraquedas sobre a maior cidade da América do Sul. Não que Haddad tenha ideias novas, ou próprias, mas porque parece novo quando comparado com Serra, cujas fortes ligações políticas e pessoais ao atual e rejeitadíssimo prefeito Gilberto Kassab eram ostensivas – não importando se este prepara-se para integrar imediatamente o conjunto de forças políticas do qual faz parte Haddad. A política é uma arte que tem suas artes.

Primeiro, o eleitor paulistano viu o novo em Celso Russomanno, do PRB, candidato com histórico de radialista voltado para a defesa do consumidor. Apoiado pela Igreja Universal do Reino de Deus e pela Rede Record, Russomanno liderou as pesquisas durante uma parte da campanha, mas tinha tempo extremamente escasso na propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio. Sofreu ataques pesados, que impressionaram o eleitor, e não teve tempo suficiente na propaganda eletrônica para se defender e contra-atacar. Desabou.

Aconteceu nas eleições paulistanas deste mês algo semelhante ao que aconteceu nas eleições presidenciais de 2002. Os oito anos de FHC no poder haviam cansado o eleitorado, que queria o novo, mas o novo, não sendo Serra, que aparecia como a continuidade do correligionário tucano FHC, também não era Lula, porque a maioria dos eleitores desconfiava do PT. Nesse impasse foi que o PFL emergiu com a candidatura da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que estava ultrapassando nas pesquisas tanto Serra quanto Lula. Mas Serra armou com a ala serrista da Polícia Federal e encontraram aquela montanha de dinheiro de campanha no escritório da empresa do marido dela, o bisonho Jorge Murad.

Então emergiu Ciro Gomes pelo PPS, um partidinho. E cresceu. E, nas pesquisas, ia ultrapassando Serra e Lula. Então um grande amigo de Serra e FHC, o então presidente do TSE, Nelson Jobim, sacou da Constituição e da legislação partidária e eleitoral o que não havia nelas – a verticalização das coligações. Isto impediu que o PFL se coligasse com o PPS, dando a Ciro o que ele mais precisava – tempo de propaganda no rádio e televisão e uma estrutura partidária bastante ampla em âmbito nacional.

A candidatura de Ciro esvaziou-se por falta de tempo na propaganda eletrônica e falta de uma estrutura partidária sólida de apoio. Ficaram então, como Serra queria, na briga, Serra, o continuador e Lula, o suposto amedrontador. E Serra perdeu, porque o enjoo venceu o medo. Pior – deu a presidência a Lula, que dificilmente a teria contra Roseana ou contra Ciro Gomes.

Em Salvador, este mês, o eleitorado buscou o novo.

Não importou que entre o novo e o antigo houvesse uma ponte, representada pelo nome e pelo laço familiar de avô e neto. Parente não é pecado. E essa ponte (não a outra) pode ter até ajudado. O que estava dando canseira na maioria do eleitorado era o PT, dez anos no poder federal, seis anos no estadual. E o ruído de fundo do julgamento do Mensalão e da solidariedade política prestada aos condenados a corroer a imagem do partido. Tudo junto resultou em clara insatisfação com o partido do deputado Pelegrino, fenômeno que o próprio Lula reconheceu e mencionou no discurso que fez em Paripe, na última quinta-feira.

 A simpatia do desgastado prefeito João Henrique pelo candidato ACM Neto não era ostensiva, ao contrário do que ocorreu em São Paulo. Foi, sabiamente, discreta e modesta, não se podendo por à conta de tal simpatia o apoio do PTN presidido pelo deputado João Carlos Bacelar, que é um partido autônomo e sempre teve uma ligação, na Bahia, com o Democratas. Já o petista Pelegrino contou, à saciedade, com o apoio evidente do governo federal e do estadual, fez praça disso e disso recebeu bônus e ônus.

Mais ônus, a julgar pelo resultado que emergiu das urnas.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.