Segunda, 17 de junho de 2013.
Por Ivan de Carvalho
Absolvido no processo do Mensalão, o publicitário Duda Mendonça quebrou a discrição que
vinha mantendo e deu entrevista ao programa “Poder e Política”, da Folha de S. Paulo e do UOL. Estima que
Dilma Rousseff é favorita nas eleições de 2014, mas se não vencer no primeiro
turno corre o risco de perder no segundo. O argumento principal: se ela está hoje
“com 70 por cento” – índice de aprovação pessoal em algumas pesquisas, pois,
segundo o Datafolha, a aprovação a sua administração é de 57 por cento – e não
se elege no primeiro turno, isso significará “que tem alguma coisa que está
mexendo aí”.
Duda Mendonça citou
as manifestações de rua em São Paulo e outras capitais para destacar que há uma
“insatisfação difusa” da população, “ainda mais quando tem uma eleição de
presidente por perto”. Ele não diz que tais manifestações tenham cunho
eleitoral, mas ressalta que as eleições estão próximas, já estão “na rua” e
tudo isso forma um conjunto de emoções. “Mistura tudo, é uma emoção só”.
A entrevista de
Duda, publicada somente ontem, aconteceu no dia 12. A presidente Dilma ainda
não havia sido, de corpo presente, vaiada três vezes na abertura da Copa das
Confederações, no Estádio Nacional Mané Garrincha, apesar do esforço do governo
do Distrito Federal de distribuir gratuitamente ingressos (a Terracap comprou
mil ingressos), com o aparente e naturalmente não declarado intuito de garantir
a presença de pessoas predispostas a aplausos que, eventualmente, poderiam
neutralizar parcialmente os efeitos de vaias.
Houve magros
aplausos e raros “muito bem” – não se sabe a que, já que Dilma, ante o som das
vaias, limitou-se a “declarar aberta a Copa das Confederações”, fechando-se em
seguida em copas, enquanto o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ignorante do
espírito nacional e do humor atual da população, resolveu fazer discurso e com
isso atrair vaias também para ele e mais para Dilma, ao citar o nome da
presidente.
Se não puderam ser
escondidas no estádio e chegaram a ser ligeiramente mencionadas por Galvão
Bueno na transmissão oficial da Rede
Globo, as vaias foram exibidas no Jornal
Nacional, mas com uma edição que preservava Dilma quase totalmente, focando
mais Joseph Blatter como alvo.
Pior é que no vídeo
de seis minutos que a Globo distribuiu
aos veículos de comunicação, as vaias foram absolutamente eliminadas.
Supostamente teriam ocorrido em Marte ou, quem sabe, em alguma galáxia distante
de um Universo paralelo de cuja existência não temos a menor percepção.
Uma
reclamação da Folha e do UOL e uma notícia no UOL acabaram levando a Globo a distribuir aos veículos de
comunicação “não detentores de direitos”, que são os veículos independentes da
Fifa, algo sobre o episódio das vaias, mas com um atraso que evidentemente
nimizava o caráter de notícia das primeiras vaias presidenciais da Copa das
Confederações.
O
esforço – parcialmente bem sucedido – de manipulação da informação ficou
evidente.
Resta acrescentar
que, na verdade, é fácil acontecerem vaias a autoridades nos estádios, no
Brasil. Bom lembrar que Nelson Rodrigues dizia que “no Maracanã se vaia até
minuto de silencio”. Mas uma presidente com popularidade cantada em prosa e
verso por seus admiradores e apoiadores ser levada à desagradável honraria de
inaugurar as vaias no Estádio Nacional Mané Garrincha sugere que “alguma coisa
está se mexendo aí”, na linha da hipótese levantada por Duda Mendonça.
A inflação, o
carrinho de supermercado cada vez menos cheio, o pibinho do ano passado, as
previsões e as promessas não cumpridas, em contraposição ao mundo dourado em
que parece ou imaginar ou finge imaginar o governo que vive o país. A irritação
com a outra versão das coisas (no último Datafolha, a popularidade – aprovação
pessoal – de Dilma caiu oito pontos) leva governistas a partir para a
ignorância de acusar os críticos ou simplesmente o relato dos fatos pela
imprensa de “terrorismo informativo”, de “vendedores do caos” e de “velhos do
Restelo”, personagem símbolo do pessimismo criado por Camões. E a quererem
aprovar um projeto de lei casuísta para dificultar a montagem de uma estratégia
eleitoral eficaz pela oposição. Um golpe abaixo da linha da ética.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Este artigo foi publicado originariamente
na Tribuna da Bahia desta segunda.