Sábado, 28 de setembro de 2013
"A gente quer o corpo do meu pai", disse o filho de Amarildo, ao saber da conclusão do inquérito
"Dá um alívio
saber que os culpados serão punidos, mas a minha família só terá paz
depois que a gente puder enterrar o meu pai. O que a gente quer é o
corpo dele". A declaração é de Anderson Gomes, filho do pedreiro
Amarildo de Souza, dada no momento em que ele tomou conhecimento que
a Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio concluiu o inquérito que
investiga a morte de Amarildo, desaparecido da Rocinha, zona sul da
cidade, desde o dia 14 de julho, durante a operação Paz Armada.
O
documento conclui que, pelo menos, cinco policiais militares da Unidade
de Polícia Pacificadora da comunidade foram responsáveis pelo sequestro
seguido de morte de Amarildo. Entre os PMs acusados, está o
ex-comandante da UPP, major Edson Santos. O inquérito será encaminhado
ao Ministério Público nesta segunda-feira (30/9) e será decretada a
prisão preventiva dos policiais, segundo informações publicadas neste
sábado (28/9), no Jornal O Globo.
Os
policiais acusados no inquérito são Douglas Roberto Vital Machado,
chamado na comunidade de "Cara de Macaco", Jorge Luiz Gonçalves Coelho,
Marlos Campos Reis e Victor Vinícius Pereira da Silva, além do major
Edson Santos. Eles também foram investigados por ter ameaçado e
oferecido dinheiro a duas testemunhas do caso, um jovem da Rocinha e a
sua mãe.
Desde o início da semana, a família do pedreiro aguardava pela finalização do inquérito. Em entrevista ao Jornal do Brasil, o
filho de Amarildo, Anderson Gomes, afirmou que ele e seus familiares já
sabem qual foi o destino do pedreiro, mas estão "esperando por
Justiça". "Na verdade, nós já temos certeza de quem matou o meu pai, mas
queremos saber o que a polícia vai concluir. Nós queremos e vamos
exigir Justiça", desabafou ele durante a entrevista.
Anderson
também destacou que a família não sabe quem são as testemunhas, um jovem
e a sua mãe, que os acusaram de participação no tráfico e levantaram a
hipótese de Amarildo ter sido morto por traficantes, mas depois mudaram
os seus depoimentos na polícia, alegando que receberam dinheiro e foram
ameaçadas por PMs da UPP. Segundo a matéria do Jornal O Globo publicada
neste sábado (28/9), a prisão preventiva dos policiais acusados no
inquérito se dará "porque testemunhas do crime denunciaram ter havido
coação, tentativa de suborno e intimidação durante as investigações".
"Ninguém na comunidade sabe quem são essas testemunhas, é um mistério",
disse Anderson Gomes. No dia 20 de setembro, agentes federais levaram o
jovem e a sua mãe para outro Estado, até eles serem incluídos no
Programa de Proteção à Testemunha do Estado.
Nesta
sexta-feira (27/9) foi realizada no Instituto Médico Legal de Resende a
necrópsia da ossada encontrada no município e que pode ser de Amarildo
de Souza. A análise foi considerada "inconclusiva" e o material genético
retirado dos restos mortais será comparado com outro cedido por uma
pessoa da família de Amarildo. O novo exame será feito pelo Instituto de
Perícias e Pesquisas em Genética Forense [IPPGF] e o resultado deve
sair entre 10 e 15 dias.