Quarta, 25 de setembro de 2013
(Nota Política do PCB)
Como já é de conhecimento da população, após denúncias feitas pelo
ex-agente do governo dos EUA, Edward Snowden, a espionagem digital -
através de telefones, e-mails e redes sociais - das agências
norte-americanas no Brasil atinge agentes do governo – incluindo a
presidente da República, Dilma Rousseff -, as empresas estratégicas,
como a Petrobras, além da população de forma geral - e dentre ela - não
duvidamos que sejam alvos os militantes à esquerda do espectro político.
Nesta semana, não para nossa surpresa, foi revelado em matéria
da Folha de S. Paulo (não contestada, seja pela Polícia Federal, pela
chancelaria brasileira ou pela diplomacia dos EUA), que agentes da CIA
atuam livremente no Brasil, dentro de unidades da Polícia Federal em
Brasília, tendo influência direta sobre o trabalho da Divisão
Antiterrorismo (DAT) da PF brasileira.
A matéria cita ainda que, em 2004, durante o governo Lula, agentes da
CIA participaram de ação policial “Operação Vampiro” e, em 2005, também
durante o período Lula, estiveram diretamente envolvidos no
rastreamento do lutador de jiu-jítsu Gouram Abdel Hakim, suspeito de
pertencer a uma célula da rede terrorista Al Qaeda.
A suposição de existência de células da Al Qaeda – a mesma que é
apoiada financeira e logisticamente pelo governo Obama na Síria, diga-se
de passagem -, aliás, é usada como uma pretensa justificativa para a
atuação de agências de espionagem e militares dos EUA na Tríplice
Fronteira (região entre Brasil, Paraguai e Argentina riquíssima em
reservas de água potável).
A matéria da Folha não deixa margem para dúvidas: não é surpresa para
o governo - a não ser que ocorra sistemática quebra de comando na
Polícia Federal -, que agentes da inteligência norte-americana se
envolvam em assuntos internos brasileiros, chegando ao ponto de atuar em
ações de nossa Polícia Federal.
Agora, com as revelações de Edward Snowden jogando luz num assunto
que a maioria do governo gostaria de ver escondido, a despeito da
verborragia cínica para consumo interno, Dilma Rousseff se viu obrigada a
tomar alguma atitude – e joga para a platéia ao cancelar uma visita aos
EUA, depois de combinar o gesto com o próprio Obama.
Para o PCB, pouco resultado prático existe nesse cancelamento de
viagem para a recuperação da soberania brasileira. Necessitamos sim, em
primeiro lugar, é do completo rompimento dos acordos militares com os
EUA, que permitem a ocorrência diária de situações como as descritas
pela imprensa.
E que, por conseguinte, envolvem sob cortina de fumaça todo o
verdadeiro conjunto de motivos que levam o Brasil a assinar acordos de
cooperação militar com estados terroristas como a Colômbia e Israel.
Desde 2010 o PCB vem denunciando a inconveniência e a
irresponsabilidade de tais acordos. Em artigo de maio daquele ano,
assinado pelo secretário-geral Ivan Pinheiro, já denunciávamos o tipo de
situações a que poderíamos ser submetidos pela assinatura de tais
acordos:
“Através desse acordo, os EUA concedem ao Brasil o total de 5,44
milhões de dólares para treinamento da Polícia Federal brasileira em
projetos que vão desde “Técnicas de vigilância e agentes disfarçados”,
“Coleta, processamento e disseminação de dados e inteligência”, “Combate
ao crime urbano”e , o mais grave, “Treinamento em ações
Transfronteiriças”, ou seja, as partes se declaram no direito de invadir
países limítrofes ao Brasil. Além do Brasil abrir mão de sua soberania
ainda ameaça a de nossos vizinhos.”
A abrangência de itens como “Coleta, processamento e disseminação de
dados e inteligência” e “Combate ao crime urbano” pode estar por trás,
por exemplo, da pressão de setores empresariais e de extrema-direita
para a criação e manutenção de legislação restritiva que institui o
crime de “terrorismo” no Brasil, sob a desculpa de garantir a
“segurança” dos mega eventos esportivos.
Através desses acordos, todo e qualquer brasileiro que se levante
contra os odiosos interesses imperiais dos EUA pode se tornar alvo. É o
que denunciávamos em 2010, quando mesmo setores da esquerda (e todo o
governo) se calaram diante de nossa denúncia.
Cancelar viagens, jantares e rapapés não soluciona a situação,
presidente Dilma. A senhora deve romper o acordo militar com os EUA e
suspender imediatamente o leilão do Campo de Libra que, se já era
vergonhoso, agora é mais ainda, com a descoberta da espionagem à
Petrobras.
Comitê Central do PCB
*Leia as denúncias que fizemos em 2010: