Domingo, 8 de setembro de 2013
Yuri Sanson — Tribuna da Imprensa
Após as grandes manifestações que tomaram as ruas do país no mês de
junho, o feriado de 7 de Setembro parece ter surgido como um grande
catalisador das insatisfações populares.
Se toda ação causa uma reação, a truculência e despreparo de uma
polícia (ainda) militar, sem comando e agindo arbitrariamente, agredindo
tanto jornalistas quanto manifestantes pacíficos, causou um acirramento
e a adoção da tática ‘black bloc’ por grupos anarquistas.
As roupas e máscaras negras que dão nome à estratégia durante
manifestações são usadas para dificultar ou mesmo impedir qualquer tipo
de identificação pelas autoridades, também com a finalidade de parecer
uma única massa imensa, promovendo solidariedade entre seus
participantes.
Essencialmente anarquistas, os Black blocs além de protegerem os
manifestantes contra a violência policial, se diferenciam de outros
grupos anti-capitalistas por rotineiramente se utilizarem da destruição
da propriedade para trazer atenção para sua oposição contra corporações
multinacionais e aos apoios e às vantagens recebidas dos corruptos
governos por essas companhias. Os bancos, principais financiadores do
crime organizado mundial, são os principais alvos.
“SEM GOVERNO”
No 7 de Setembro uma multidão de anarquistas tomou as ruas por todo o
Brasil. Do “sem partidos” a voz predominante passou a ser “sem
governo”.
Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem. A
noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos se popularizou entre
o fim do século XIX e o início do século XX, através dos meios de
comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições
políticas e religiosas. Nesse período, em razão do grau elevado de
organização dos segmentos operários, de fundo libertário, surgiram
inúmeras campanhas antianarquistas.
Outro equívoco banal é se considerar anarquia como sendo a ausência
de laços de solidariedade (indiferença) entre os homens, quando, em
realidade, um dos laços mais valorizados pelos anarquistas é o auxílio
mútuo. À ausência de ordem – ideia externa aos princípios anarquistas -,
dá-se o nome de “anomia”.
A anomia é um estado de falta de objetivos e perda de identidade,
provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social
moderno. A partir do surgimento do Capitalismo, e da tomada da Razão,
como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento com valores,
fortemente ligados à concepção Religiosa.
FENÔMENO MUNDIAL
Para Etienne Davignon, chairman do grupo Bilderberg, este é um
fenômeno mundial: “O povo compreende de forma confusa que há uma mudança
no ar”, diz. “Mas nenhum governo irá satisfazer as reações do povo. As
pessoas tem grande reticências e cinismo por todo aquele que carrega
responsabilidades.”
“Todos estão contra a comunidade empresarial devido aos excessos
financeiros. Também, a Igreja desapareceu. A reação popular é também uma
consequência ao fato que um número grande de referências tradicionais
tem desaparecido. As pessoas procuram por aquilo que é referência.”
A Modernidade, com seus intensos processos de mudança, não fornece
novos valores que preencham os anteriores demolidos, ocasionando uma
espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Há um
sentimento de se “estar à deriva,” participando inconsciente dos
processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação consciente e
da identidade.
Um autoritário, corrupto e violento governo acende a chama por
liberdade e democracia. A total indiferença e descrença pela religião,
pelo capitalismo e pelo sistema político-eleitoral — eis a anarquia.