Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O cansativo mas não surpreendente debate sobre a validade infringente

Quarta, 11 de setembro de 2013
Helio Fernandes
Tribuna da Imprensa
A sessão de hoje, quarta-feira, do Supremo, começou às 14h30m e terminou agora, às 18h20m. Apesar do resultado estar de 4 a 2 a favor dos infringentes, não há nada decidido. Está transparecendo um 6 a 5 contra ou a favor de novo julgamento.

A favor: o ministro Lewandowski, que deixará este total em 5. Contra: Gilmar Mendes, certo, Marco Aurélio, que ainda não votou mas hoje, de forma arrebatada, afirmou: “Esse Regimento interno tem que ser revogado”. Ora, se ele quer revogar o Regimento que garante os infringentes, nem preciso explicar ou perguntar seu voto.

Celso de Mello imediatamente contestou Marco Aurélio, de forma eficiente, tranquila e não definitiva em relação à sua participação: “O Regimento não pode ser REVOGADO em pleno julgamento”. Em se tratando do decano, é participação, mas não manifestação.

CÁRMEM LÚCIA

Quando ela votar, esta quinta-feira, os infringentes podem ficar definidos. Se a ministra votar a favor, Gilmar, Marco Aurélio e Celso de Mello votarão para a História, os infringentes garantidos. Quem quiser saber o resultado, tente saber como ela votará.

Logo a seguir, leiam a definição de cada voto, fui analisando enquanto eles votavam.

LUÍS BARROSO

Aberta a sessão, pelo critério do Supremo a votação começa pelos últimos a chegarem. O ministro Luís Roberto Barroso transitou durante 38 minutos por um caminho difícil, pedregoso, com um voto bastante controverso verbalmente, cheio de restrições deliberadas, mas consistentes. Quando usou a palavra INCABÍVEIS, deu a impressão de que votaria contra. Era apenas suspense.

Continuou, discorrendo mas não afirmando. No entanto, ao ler os votos de três ministros aposentados (Carlos Veloso, Moreira Alves e Sepúlveda Pertence), o presidente percebeu que Barroso se definira, o que era verdade. “Aceito os embargos infringentes , mas isso não quer dizer que vote a favor da mudança do julgado”.

Em suma; confirmou a minha apreciação de que seria um voto definido-indefinido. Seu voto pode até contribuir para prorrogar os trabalhos, mas não garante ABSOLVIÇÃO ou MODIFICAÇÃO, mesmo para quem teve quatro votos no julgamento original do mensalão.

JOAQUIM BARBOSA

Como votou semana passada, contra os infringentes,  suas intervenções, importantíssimas. Aparteou Barroso duas vezes, com veemência e gesticulando muito. E Barroso acabou, o presidente “contestou abertamente sua definição”. Com isso, abriu 22 minutos de debates sem qualquer definição.

TEORI ZAVASCKI

O segundo pela entrada em cena, cansativo, longo e nada brilhante. Leu e citou muito, mas sem indicar rumos para o ponto de chegada. Votou a favor dos embargos infringentes nos 24 minutos utilizados, poderia ter votado em quatro ou cinco.

Quando eu disse ontem que “desconfiava” de quatro votos, um que se considerava a favor dos infringentes era Teori.

E não fez restrição, é a favor da redução da pena para quem teve quatro votos a favor. Semana passada, disse, “vou mudar todos os meus votos”.

ROSA WEBER

Foi o voto mais entrelaçado e contestado por ela mesma. A cada parágrafo, levantava dúvidas sobre o anterior, levava todos a “adivinhações”. Usou 26 minutos, quando falou o habitual na corte, “data vênia dos ministros Barroso e Teori”, a impressão é de que acompanharia Joaquim, o que faz quase sempre.

No entanto, indo na contramão dela mesma, aceitou os embargos infringentes, sem maiores explicações. 3 a 1 a favor dos embargos, mas nenhuma indicação não só sobre a sessão de hoje, mas também sobre novo julgamento, se houver.

LUIZ FUX

Depois de 40 minutos de intervalo, começou a votar. Como fala com certa facilidade, intercala leitura e citação. Começou lendo os cinco pontos nos quais os infringentes cabem ou não cabem. Com dois minutos, deu a impressão de que fulminaria os infringentes.

Decorridos onze minutos, Fux praticamente garante a solidariedade à posição do presidente-relator. O que não seria surpreendente. Em todo o julgamento do mensalão, Fux recitou: “Acompanho Joaquim Barbosa”. Hoje, as mesmas palavras.

Abusou do lugar comum, “ninguém é bom juiz de si mesmo”, foi divagando, divagando, mas não tão divagar, desperdiçou 48 minutos, inaceitável. Para terminar com uma frase que pretendia ser de efeito: “Essa linha de infringentes seria uma revisão criminal dissimulada”. Não recebeu aplausos nem vaias, mas não precisava ser tão longo.

DIAS TOFFOLI

E não é que ele votou? Apesar das acusações infringentes contra ele, acusações não respondidas que infringiram uma respeitabilidade que ele mesmo não respeita. Constrangido, disse que falaria rapidamente nesse “debate que se debate aqui”. Que texto, que início de voto.

Foi o que usou o tom de voz mais alto, uma intenção não revelada de calar as vozes não do tribunal, mas dentro dele mesmo. E vozes que não podem ser caladas ou ofuscadas. Esse era um voto sem mistério, em todo o processo acompanhou os que estavam a favor dos acusados. Ficou 4 a 2 a favor dos infringentes. Usou 9 minutos, ninguém suportaria mais. Amanhã tem mais.