Sexta, 27 de
dezembro de 2013
Por Ivan de Carvalho

O detalhe da “unanimidade sem consenso”
não é pequeno como os da composição de Roberto Carlos. É, antes, de bom
tamanho. Pois quem nega o consenso é o senador Walter Pinheiro, que em 2008 e
2010 disputou eleições majoritárias na Bahia (primeiro para prefeito de
Salvador e, depois, para senador) e que é, enquanto outro não for escolhido
para a função, líder do PT no Senado Federal.
Sabe-se nos bastidores políticos que o
ex-presidente Lula, principal liderança política do PT (uma espécie de
manda-chuva, sem o qual o PT estaria hoje vivendo uma perfeita bagunça, ante as
dificuldades da presidente Dilma Rousseff para conduzir articulações políticas
importantes) não tem simpatia especial por Walter Pinheiro, assim como tem pelo
secretário do Planejamento e ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli.
Mas essa simpatia nada pode para
mudar a determinação do governador Jaques Wagner de fazer de Rui Costa o
candidato do PT e do governismo estadual à sua sucessão. Assim, vale concluir
que a ausência de simpatia de Lula por Walter Pinheiro igualmente não o
atrapalhou, pois o que valeu no processo de escolha do candidato governista a
governador foi mesmo a vontade de Wagner e sua ascendência sobre o PT da Bahia.
O senador Walter Pinheiro definiu
com clareza a ausência de consenso que apontou. No final, havia duas
candidaturas (Luiz Caetano e Gabrielli – este, no último minuto – haviam
retirado as deles), sendo uma a do próprio Pinheiro. “O PT fez outra opção”,
disse ele. O PT, não ele, que manteve a candidatura e não recebeu um voto
sequer do diretório, embora esse “abandono” não corresponda à influência do
senador no seu partido.
Um pouco diferente foram os
parâmetros para definir o candidato a senador. Aí houve um encontro de
vontades. O governador sempre viu a presença do ex-governador e atual vice-governador
na chapa de candidatos à eleição majoritária como importante, eleitoralmente.
Já Otto Alencar revelou não ter interesse em ser novamente candidato a
vice-governador e ficou repetindo que deseja ser senador (o que passa por ser
candidato a senador). Claro que se a conjuntura e as necessidades governistas
conduzissem seu nome para uma candidatura a governador, ele ficaria muito
contente, mas nunca reivindicou isso. Como o governador entendeu que o
governismo se basta com Rui Costa candidato à sua sucessão, estavam assim
definidos os dois nomes da chapa que disputam diretamente o voto do eleitor.
Falta o vice, que disputa o voto
dos eleitores apenas indiretamente – supostamente carreando votos para o
candidato ao governo. Estão no páreo o presidente da Assembléia Legislativa,
Marcelo Nilo e o deputado federal e ex-ministro Mário Negromonte. Estavam de
relações pessoais rompidas há muito tempo, mas fizeram as pazes há poucas
semanas. Parece que dentro da presunção (aparentemente acertada) de que a inimizade
só servia para atrapalhar a ambos. Um ficaria tentando vetar o outro – este era
apenas um dos inconvenientes. Agora, estão numa boa, um não veta o outro, mas o
que se ouve nos bastidores indica firmemente que Marcelo Nilo se posicionou na
questão da vice, pública e reservadamente, de uma maneira que o impulsionou
muito na direção de seu objetivo de ser o companheiro de chapa de Rui Costa. É
claro que se isto se confirmar, a Mário Negromonte, que não pretende
reeleger-se deputado federal, será oferecida alguma compensação. O que bem pode
incluir uma cadeira em um dos dois tribunais de contas, o do Estado e o dos
Municípios.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano