Segunda, 30 de dezembro de 2013
"Quando os neoliberais travestidos de políticos interessados no bem-estar do povo irão revelar que as empresas detestam competição? Estas buscam sempre a formação de cartéis ou ganhar as concorrências por outros meios ilícitos. O Estado deveria fiscalizar a conduta social incorreta das empresas, mas, o próprio Estado pode estar refém de um governo comprometido com grupos econômicos."
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Paulo Metri –
conselheiro do Clube de Engenharia
A influência do capital nas decisões governamentais
sobre qualquer setor econômico, inclusive as do setor energético, é imensa,
apesar de pouco percebida. Esta influência se dá graças à total inocência da
população e à cooptação dos governos pelo poder econômico. Cooptação esta,
certamente, conseguida pelas contribuições para as campanhas dos eleitos,
quando ainda eram candidatos.
A grande mídia, como pertence ao capital, obviamente,
só desinforma. Para manter-se bem informado, o cidadão precisa consultar alguns
veículos, que têm informações mais fidedignas. Mas, não é fácil para o cidadão
comum identificar estes veículos.
A mídia do capital, como precisa convencer sobre
inverdades, usa de todos os estratagemas para ludibriar. Um bom exemplo disto
ocorreu recentemente durante o leilão de Libra. Descrevo só um tópico do grande
engodo que foi Libra. Esta mídia repetiu, à exaustão, que, no mínimo, 41,65% do
lucro líquido de Libra iriam para o Fundo Social, quando, na verdade, de forma
garantida, só 9,93% deste lucro irão para o tal Fundo.
Sem o mínimo de escrúpulo para com a sociedade
brasileira, as petrolíferas estrangeiras forçaram o governo Dilma, que
precisava dos R$ 15 bilhões do bônus do leilão para fechar as contas do
superávit primário, a criar uma tabela de percentuais mínimos do lucro líquido
que irão para o Fundo, quando, no mundo, é usado um número exato para definir
este percentual mínimo. Assim, no Brasil, as petrolíferas poderão pagar somente
9,93%, se o barril de petróleo baixar no mercado internacional e se o poço não
for muito produtivo. Isto é a transferência do risco das empresas para a
sociedade.
Resumindo, este Fundo, que é do povo, poderá arrecadar
muito menos do que seria justo. Quanto aos 41,65%, eles representam uma ficção,
que se transformará em realidade unicamente se condições específicas ocorrerem.
E o mais surpreendente de tudo isso foi que até os veículos de esquerda divulgaram
os 41,65% como sendo a parcela garantida a ser remetida ao Fundo.
Neste oceano de informações corrompidas, para os
cidadãos comuns poderem compreender e consolidar uma opinião a ponto de
pressionar o governo é muito difícil. Com isso, têm-se o mundo ideal para os
lobistas. O antídoto natural consiste nas esquerdas continuarem debatendo as
questões, inclusive, tanto quanto possível, junto à população, por maiores que
tenham sido as vitórias do capital.
Quando os neoliberais travestidos de políticos interessados
no bem-estar do povo irão revelar que as empresas detestam competição? Estas
buscam sempre a formação de cartéis ou ganhar as concorrências por outros meios
ilícitos. O Estado deveria fiscalizar a conduta social incorreta das empresas,
mas, o próprio Estado pode estar refém de um governo comprometido com grupos
econômicos.
Um exemplo desta confusão ocorre atualmente.
O Fundo Social irá receber parte do petróleo de Libra, quando este campo
estiver produzindo, e será necessário vendê-lo. A Petrobras faz, há anos, a
comercialização do seu petróleo com grande responsabilidade social e pode
atender a determinações do nosso governo, se for o caso. A Pré-Sal Petróleo S.A. declarou que será
preparada concorrência para definir quem irá
comercializar o petróleo de Libra, para que seja
definida a
empresa que irá melhor cuidar dos interesses da
sociedade.
Há tantas decisões energéticas socialmente equivocadas
e em tantas áreas, como combustíveis, eletricidade, construção de grandes
barragens, que merecem um grande seminário sem lobistas da iniciativa privada e
sem representantes do governo, porque, em última instância, estes podem também
representar grupos econômicos. Participariam do seminário, como palestrantes e
debatedores, sindicalistas, membros de associações de trabalhadores de estatais
e do serviço público, de associações de classe e de consumidores, a parte da
Academia que não foi cooptada pelo capital e ONGs socialmente comprometidas. Um
título para o seminário poderia ser: “Outras e melhores decisões energéticas
são possíveis”. Assim, a sociedade presenciaria um debate energético nunca
antes ocorrido.
Fonte: Paulo Metri