Segunda, 9 de junho de 2014
Renato Riella
O
empresário Paulo Octávio, provavelmente o mais poderoso de Brasília, não pode
apagar da sua história que passou quatro dias preso por ordem judicial.
Nesse caso,
ele fez o contrário de Deus: escreveu torto por linhas certas.
Na campanha
eleitoral de 1998, escrevi artigo, que ainda hoje permanece vivo, mostrando que
a Ceilândia não tem cinema, shopping, cemitério… Não tem quase nada.
No ano
passado, a Ceilândia teve a ilusão de ganhar um ótimo shopping, o JK, que na
verdade fica em Taguatinga. No entanto, essa construção chegou cercada de tanto
erro na estratégia de lançamento, que acabou levando à prisão o dono do
projeto.
Os
prejuízos são muitos. Um deles, ainda nem citado nem mensurado, é o uso da
imagem do mito Juscelino Kubitschek numa proposta controversa, suspeita e
denunciada pela Justiça. JK não merecia ser tratado de forma tão irresponsável.
Mas há
muitos outros prejuízos. O centro universitário IESB instalou-se em prédio de
três andares do Shopping JK e está sendo obrigado a redirecionar alunos para
outras unidades e até devolver dinheiro da matrícula, porque seu prédio foi
interditado junto com a prisão de Paulo Octávio.
Os lojistas
que investiram milhões nesse empreendimento vivem apavorados. E a população da
Ceilândia, mesmo sabendo que o shopping fica em Taguatinga, já está acostumada
com a novidade, que representa fator de valorização da região.
Paulo
Octávio acabou preso por ser desafiador. Ele lançou um prêmio de jornalismo com
o seu nome. Comprou um partido no DF (o PR) e até apareceu na propaganda
partidária, de forma pretensiosa, por coincidência quando estava preso.
Além disso,
se posiciona de forma desafiadora em relação ao Ministério Público e à Justiça
do DF, quando se sabe que responde a processos muito complicados na questão dos
alvarás, mas também na Caixa de Pandora.
Não dá para
esquecer do triste destino do empresário Sérgio Naya, um dos mais poderosos da
história de Brasília, que morreu aos 65 anos de forma dramática.
Naya, sendo mais velho, foi o grande mentor de empreendedores do DF, entre os quais Paulo Octávio e Luiz Estevão, os quais também vivem ameaçados de prisão.
Naya, sendo mais velho, foi o grande mentor de empreendedores do DF, entre os quais Paulo Octávio e Luiz Estevão, os quais também vivem ameaçados de prisão.
Se Sérgio
Naya não fosse miserável, na origem do seu espírito, estaria hoje ainda vivo e
poderia ser apontado como um empresário modelo. Na verdade, ele fez
empreendimentos que valorizaram Brasília, ainda hoje presentes na vida da
cidade.
No entanto,
não esqueçamos que um empreendimento desse empresário riquíssimo desabou no Rio
de Janeiro, deixando dezenas de famílias em situação de penúria.
Em vez de
desembarcar no Rio com uma montanha de dinheiro para indenizar as vítimas,
Sérgio Naya debochou dessas famílias e acabou preso, levado algemado num
camburão, em cena horrível transmitida pelo Jornal Nacional.
Não há
coração que suporte tanta humilhação. Sérgio Naya, um homem muito orgulhoso,
acabou morrendo de repente, sozinho, no litoral da Bahia. E ninguém chorou por
ele, pois não merecia nem pena.
Paulo
Octávio tem chance de escrever uma história diferente. Não sei se ele tem
consciência disso, mas no Brasil o principal fator de condenação, hoje, é
imagem ruim. E o famoso P.O. , mesmo cercado de jornalistas que honraram o seu
“prêmio”, tem uma imagem de vilão. Só falta que alguém diga isso a ele com
todas as palavras.
Se Paulo
Octávio não cercar toda a sua vida de novos cuidados, na reconstrução sincera
da própria imagem, acabará como Sérgio Naya. Vale a pena?