Sexta, 22 de agosto
de 2014
Mariana Tokarnia -
Repórter da Agência Brasil
Um
protesto contra o genocídio de negros no Brasil reuniu hoje (22), no centro da
capital federal, cerca de 400 pessoas, conforme cálculo da Polícia Militar do
Distrito Federal.
Foi
a primeira vez que o Distrito Federal (DF) participou da Marcha Internacional
contra o Genocídio do Povo Negro, que está na segunda edição. A marcha reuniu
representantes de movimentos sociais e grupos religiosos, artistas, pessoas que
sentem o racismo na pele e simpatizantes da causa.
Com
cartazes e cruzes brancas nas mãos, o grupo percorreu as ruas que cortam a
rodoviária de Brasília, um dos lugares mais movimentados da cidade, de onde
saem ônibus para as demais regiões administrativas do DF e cidades do entorno.
"O
objetivo da marcha é dar visibilidade à questão. Quem está marchando aqui são
as pessoas da periferia, dos assentamentos. Queremos dar vez para aqueles que
estão à margem, que não falam", disse uma das organizadoras da marcha,
Layla Marisandra, do Fórum da Juventude Negra. "No DF, não é diferente dos
outros estados. Aqui temos um cordão invisível que divide as asas [Sul e Norte]
do entorno e das [cidades] satélites. Tem uma população que só vem ao centro
para trabalhar."
A
marcha
é realizada simultaneamente em 18 estados brasileiros e em 15 países, informou
a coordenação da campanha “Reaja ou será morto (a)”, que convocou o ato.
Juntos, os movimentos querem dar visibilidade às situações de violência e
fortalecer a luta por políticas públicas que garantam direitos, como acesso à
educação e à saúde.
Segundo
o Mapa da Violência 2014, a vitimização de negros é bem maior que a de brancos.
Morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil em 2012,
em situações como homicídios, acidentes de trânsito ou suicídio. Entre 2002 e
2012, a vitimização mais que duplicou, diz o estudo.
Na
marcha, as hitórias de violência e preoconceito eram muitas. A técnica de
enfermagem Lourdes Pereira, de 49 anos, teve o sobrinho Flávio Rogério, de 20
anos, assassinado pela polícia, em Teresina. "Meu sobrinho morreu por um
pré-julgamento da polícia. Esse julgamento é um racismo disfarçado",
afirmou.
Ela
é moradora da Cidade Ocidental, município goiano no entorno de Brasília. Negra,
Lourdes disse que "sente na pele a diferença. Quando vamos procurar
emprego, por exemplo, e não somos escolhidas e a diferença não está no
currículo."
O
rapper Divino Monteiro, o Dino Black, traduz o sentimento em versos. "Meus
irmãos só marcam presença lá se for para lavar banheiros ou lavar o chão. Me
doi em pensar em tanta exploração. Tem preto otário achando que acabou a
escravidão. Pode crer que não", diz na música Onde Estamos.
"Quando
o negro entra, é o primeiro suspeito. Isso acontece comigo: basta eu entrar em
um ônibus que todos me olham, basta entrar em uma loja que acham que eu vou
roubar alguma coisa", diz o rapper, que é morador da Candangolândia,
região administrativa do Distrito Federal.
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