Quarta, 13 de agosto de 2014
Do Blog Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Por Celso Lungaretti
![]() |
Destino insólito: Campos e Arraes mortos num 13 de agosto. |
Quando
a campanha presidencial de 2014 se augurava a mais tediosa e enlameada
desde a redemocratização, eis que o Sobrenatural de Almeida,
reconhecendo que é impossível desviar o futebol brasileiro de sua marcha
para o fundo do poço, resolveu trocar o foco, dando o ar de sua graça
na política: com a morte inesperada de Eduardo Campos (PSB), logo no
cabalístico 13 de agosto (!), a corrida sucessória virou de pernas pro
ar.
De imediato, Marina Silva (PSB) passou a ser a favorita para vencer a
disputa que, provavelmente, travará com Aécio Neves (PSDB) no 2º turno. E
a candidatura de Dilma Rousseff (PT), que já vinha mal das pernas em
função (principalmente) do desempenho pífio da economia brasileira, pode
ter recebido nesta 4ª feira o golpe de misericórdia.
Até agora, os que estavam no páreo pra valer eram a ex-guerrilheira que
se tornou tecnoburocrata, o neto do raposão conservador e o neto do
grande socialista. Dilma levava a vantagem de ser personagem histórica
por mérito próprio e, entre três atores políticos com ínfimo carisma,
tendia a ser reeleita porque o poder atrai o poder, na razão direta das
ambições e na razão inversa da integridade.
![]() |
Marina Silva: as tragédias moram ao lado... |
A candidatura de Marina era, potencialmente, a mais perigosa para o
situacionismo, tanto que um grande esforço de bastidores foi feito para
que ela saísse da disputa. Para o bem da democracia, outra porta se
abriu. Pena que isto se deva a uma tragédia, algo que sempre temos de
lamentar. Mas, confirmou-se de novo que quem age de má fé acaba dando
tiros pela culatra. Ao invés de ser neutralizada, Marina está mais forte
do que nunca.
Com ela no lugar de Campos, Dilma não levará vantagem nenhuma em ser
mulher, vai perder de goleada na comparação de quem tem mais a cara e o
jeitão do povo sofrido (e, portanto, maior afinidade com o perfil dos
primórdios petistas - a trajetória dela lembra a do Lula) e tende a ser
esmagada nos debates, pois a decoreba dos marqueteiros de nada servirá
contra a autenticidade e espontaneidade messiânicas da companheira de
lutas do Chico Mendes.
No tabuleiro político, a quase nenhuma ênfase de Campos no ideário
socialista do avô, preferindo defender um capitalismo mitigado, o
deixava bem mais próximo de Aécio que de Dilma. Como consequência, os
dois netinhos correriam na mesma faixa, tentando, ao mesmo tempo, evitar
que a petista ganhasse no 1º turno e obter uma vaga no 2º, contra
Dilma, que se apresentaria como a candidata popular, perseguida pelos
ricos e pelo Santander, etc. e tal.
Marina, pelo contrário, não disputará espaço com Aécio, que ficará com
todo o eleitorado conservador e direitista para si, mas sim com Dilma: o
mapa da mina, para ela, será provar que é mais popular, mais antagônica
ao grande capital, melhor defensora do meio ambiente, mais inaceitável
para a elite branca e mais fiel aos ideais históricos petistas do que a
própria Dilma. Acredito que o conseguirá com um pé nas costas, daí a
minha previsão de um 2º turno entre (centro) direita e (centro)
esquerda, ou seja, entre Aécio e Marina.
E, claro, sem todo o desgaste acumulado pelo petismo em seus três
mandatos presidenciais, e levando em conta que o eleitorado de direita é
aproximadamente metade do de esquerda, Marina só não levaria se o avião
dela também caísse.
O perigo, claro, seria chegar ao poder como uma estatura bem maior do
que as forças políticas que a estariam apoiando, com óbvios riscos de
turbulência institucional (dependendo de como lidasse com um Congresso
mui provavelmente adverso). Duas vezes, com Jânio Quadros e com Fernando
Collor,tal quadro se revelou funesto.
Mas, temos de levar em conta também que o esgotamento do modelo petista
está levando a insatisfação popular perigosamente para as ruas, de forma
que os riscos existem igualmente com a permanência da atual pasmaceira
desesperançada. Entre um salto no escuro e a decadência inexorável, é
sempre preferível o primeiro, que pelo menos nos dá oportunidade de
lutarmos para a construção de um presente melhor.
O eleitorado, evidentemente, não equaciona o problema da mesma maneira,
mas se mostra visivelmente saturado. Os ventos de mudança começam a
soprar e até Deus os parece estar bafejando...