Quarta, 6 de agosto de 2014
Olga Bardawil
- Coordenadora do Serviço de Língua Estrangeira
Edição: Graça Adjuto
“Quando você tem apenas cinco grandes bancos, você não tem
mercado, tem acordos”, disse o professor Ladislau Dowbor, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, na noite dessa terça feira (5), no programa
Espaço Público, da TV Brasil.
Entrevistado pelos jornalistas Paulo Moreira Leite, Florestan Fernandes Jr. e
Sonia Filgueiras, do Brasil Econômico, ele defendeu que o Banco Central seja
independente do sistema financeiro e não do governo, porque “o governo tem que
ter o controle da politica monetária”.
Segundo Dowbor, que se formou em economia na Suiça e presta
consultoria para a Organização das Nações Unidas (ONU), o sistema financeiro
não gera riquezas porque não fomenta a produção, já que seu ganho principal vem
dos juros. Nesse sentido, o Brasil é um pais que oferece ganhos excepcionais
graças ao mecanismo da Selic, a taxa básica de juros. Ele lembrou que no
governo Fernando Henrique Cardoso o Brasil chegou a pagar 47% ao ano de juros
pelos seus títulos.
“Se você considera que o banco usa o dinheiro de terceiros
que nele depositam suas economias em troca de uma remuneração de 8% ao ano,
percebe o tamanho do rendimento que o banco tem, apenas usando o dinheiro que
não é dele”.
O professor lembrou que os juros do cartão de crédito no
Brasil chegam a 260% ao ano, enquanto nos Estados Unidos estão em 17% e já são
considerados altíssimos.
“O banco não é uma coisa ruim, porque promove o
investimento. Na Alemanha, por exemplo, 60% da poupança estão em pequenos
bancos muncipais. Mas aqui no Brasil, o retorno dos bancos é pelo sistema
Selic. Porque o governo retira dos impostos para remunerar os bancos”.
Perguntado sobre o baixo crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB), Ladislau Dowbor respondeu que o que faz a economia crescer é
o bom gasto do dinheiro e que, nesse sentido, as politicas públicas
implantadas na última década foram fundamentais para manter o desenvolvimento
do país, apesar do PIB pequeno. O tamanho do PIB, disse ele, só revela o
montante do dinheiro usado e não a qualidade desse uso. E citou como exemplo o
dinheiro gasto pelos Estados Unidos para recuperar a região do Golfo do México,
afetada pelo vazamento de petróleo, que aumentou o PIB americano naquele ano.
Em contrapartida, destacou que a Pastoral da Criança investe apenas R$ 2 por
criança para combater a desnutrição infantil e isso não contribui para aumentar
o PIB.
“Gastos com catástrofes aumentam o PIB, a criminalidade
aumenta o PIB, porque eleva o consumo de equipamentos de proteção.”
Dowbor lembrou que outros países, inclusive os europeus,
estão usando indicadores para medir o desenvolvimento que não se baseiam apenas
na quantidade de dinheiro, mas na qualidade de vida que os gastos proporcionam,
“uma espécie de Indice de Felicidade Bruta”.
Ele citou também como exemplo os resultados mostrados no Atlas
Brasil 2013, que trabalhou com dados a partir de 1991, em um estudo
conjunto da ONU, do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Fundação João Pinheiro: “Entre 1991 e
2010, o Brasil ganhou nove anos de vida, de esperança de vida para cada
brasileiro. E de 2013 a 2012, o índice foi para 11 anos. Ora, esse é um salto
gigantesco e que só foi obtido pelas políticas públicas, pelo investimento
público que gerou mais educação, uma saúde melhor, uma moradia melhor, mais
alimento. E menos estresse, porque no Brasil ser pobre não é fácil!”
Por isso, disse o professor, o SUS (Sistema Único de Saúde)
é um bom gasto, o Bolsa Familia é um bom gasto, o Pronaf, que financia a
agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que a gente consome, é
um gasto bom. Ele garante que é por isso que apesar do PÌB pequeno, o
Brasil tem baixo desemprego e o nível de vida da população melhorou.
“Investindo nas pessoas, você passa a transformar os
processos econômicos “, disse. E concluiu: “As políticas sociais melhoram as
atividades econômicas”.