Segunda, 5 de janeiro de 2014
Da Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
A última Constituição
do Império foi implantada em 1846, terminou naturalmente em 1889. Nesses 43
anos, tiveram que ser formados 47 Gabinetes (como se chamava na época), média
de 11 meses para cada um. Já não existiam mais nomes, quase todos eram
desconhecidos.
Como o de Duque de
Caxias tinha importância e prestigio, Dom Pedro II, mandou um alto dirigente
dignitário revelar os nomes a ele. Muito velho e ouvindo quase nada, a cada
nome que era pronunciado, perguntava, “quem”, ia repetindo com insistência.
Dessa forma o ministério ficou conhecido como “quem-quem”.
Dona Dilma que
conhece muito História e não apenas isso. Mas também administração, economia,
infraestrutura, teve que repetir o Imperador por outros motivos. Para não
nomear conhecidos de mais, teve que apelar, (isso mesmo) para desconhecidos.
No primeiro e
catastrófico mandato, chegou a 39 ministros por acaso. Nos meses iniciais teve
que fazer a “faxina” obrigatória, jogando para “debaixo do tapete”, muitos
deles, flagrados em irregularidades. Agora insistiu nos 39 nomes por
teimosia,quando tinha tudo, para reduzir esse ministério inflável, praticamente
inflamável.
Resolveu então
“fatiar” a escolha, que só terminou no final da tarde do dia 31, véspera da
posse. E para completar o número, teve que confirmar 13 que faltavam. Já
cometera um ato insensato dizendo publicamente “vou consultar o Procurador
Geral para saber que posso nomear”.
Com isso trouxe
novamente para as manchetes, o primeiro Joaquim, o do Supremo, que não perdoou.
“Fatiar” foi uma palavra popularizada por ele. E presidente da República
consultar o procurador para compor seu ministério, fulminou, implacável: “Isso
é uma degradação Institucional”.
A alguns tão íntimos
que são obrigados a chama-la de presidente, costumava sussurrar logo depois do
segundo turno: “Vou ficar em 39 ministros, menos não dá”. E relatava as
dificuldades. “Só posso manter 10 dos 39 de agora, e preciso conquistar a
liberdade que não tenho. O Lula sabe de tudo o que se passa no governo e no
Planalto, até antes de mim”.
Todos os
interlocutores sabiam que se renderia a Gilberto Carvalho, há 12 anos como
Secretario Geral da Presidência, lulista de sempre, dilmista raramente.
Pois esse Ministro
que pediu para sair, foi a grande sensação no dia 2, 24 horas depois da posse.
O mais sincero e autêntico de todos, sua frase retumbante e rigorosamente
verdadeira ultrapassa os corredores do Planalto ganha repercussão nacional.
“Não somos ladrões,
não somos ladrões (repetido por ele) com todo orgulho saio como entrei,
continuo com uma quitinete rural e morando no mesmo apartamento que estou
pagando há 19 anos ao Banco do Brasil”. Festejadíssimo, lembraram que ele
sempre chamou Dilma de presidente, sem o A subserviente.
(Explicando para não
haver equívoco. Colocar o A final não é errado. Mas não é normal ou usual,
apesar do fato irrefutável, de ser a primeira mulher presidente, portanto a
escolha não existia. Mas chama-la de presidentA por exigência, rima com
subserviência).
O
começo a “trindade” de um só
Ungida, sagrada e
sacramentada mas ainda não empossada, foi acumulando contradições em cima de
contradições. Nada surpreendente, Dona Dilma é assim. Ficou um tempo
“esperando” Trabuco, chegou a admitir Belluzzo e Luciano Coutinho, o ministério
ficaria todo de terceiro time.
Estava reeleita e
diplomada, embora entre a reeleição e a segunda posse, poderia nomear ou
demitir quem quisesse. Mas preferiu a palavra “apresentar”, juntando no mesmo
palco os “futuros” ministros. Surpresa total com o aparecimento do segundo
Joaquim, que eu identifiquei logo como o Armínio Fraga do B.
Podem dizer que era
“trindade” mesmo, todos vieram para valer. Nenhuma duvida. Tombini nunca esteve
fora, ficando no BC ou indo para a Fazenda. Nelson Barbosa foi colocado para
substituir Mantega. Como isso não acontece, foi embora. Agora apresentando para
uma possível e provável substituição do segundo Joaquim.
Este ficará até o
momento em que deixar de chamar Dilma de presidentA, não com a palavra e sim
com decisões. Nem sei como definir a “apresentação, nomeação e posse” do
segundo Joaquim tão diferente dela. Para ele o desafio de fazer o que sabe que
tem que ser feito.
Para Dilma, o desafio
diferente de recuar, ceder e conceder. Se der certo, ele vai ficando, “a
política econômica é sempre do presidente”. Se ficar tudo ajustado,
inteiramente diferente do primeiro mandato, vitória para ela.
Se não se ajustar,
sai bem antes. Nelson Barbosa assume, era o roteiro do segundo mandato, com o
segundo Joaquim, e o segundo suposto substituto. E o povo pagará a conta, como
está pagando as do primeiro mandato.
Mas esse tão
esperançoso e tão acreditado Ministro do futuro, não resistiu nem 24 horas no
cargo, foi “convidado” delicadamente a voltar ao presente. Publicamente
repreendido pela declaração sobre o salário mínimo. “voltou atrás” desmentiu
tudo o que falou.
Textual dele: “A
começar em 2016 até 2019, as regras do salário mínimo não serão mais vigentes
agora”. Muita audácia, imprudência, acreditou mesmo que era Ministro, entrou em
conflito com a chefe que só chama de presidentA.
Sua nova declaração,
pública e oficial: “As regras atuais do aumento do salário mínimo, não serão
modificadas. Continua Ministro, mas aprendeu a dimensão do seu poder. Sabe que
não adianta atender o mercado”, tem que entender a presidentA.
PS1- Nomear o
derrotadíssimo Eduardo Braga, Ministro de Minas e Energia, sabendo que queria e
precisava do cargo que não era nem da presidente nem dele, Ministro? É que
tinha que ganhar holofotes depois d derrota no Amazonas, deixar a vaga no
senado, provisoriamente para a própria mulher, suplente.
PS2- Demitiu o
Ministro Lobão, quatro anos no cargo sabendo que ele teria que voltar ao
senado, desempregando o filho suplente, derrotado no Maranhão. Qual a diferença
entre a suplência da mulher ou do filho?
PS3- O vice dos EUA,
Joe Biden, disse a Dilma: “O presidente Obama quer acelerar o relacionamento
com o Brasil. Começando pela Ciência e Tecnologia”. Ela então nomeia para o
Ministério que domina o setor, o senhor Aldo Rebelo. Teórica, simbólica ou
partidariamente, pertence ao Partido Comunista. Mas sabidamente é paraplégico
de convicções.
PS4- Como Aldo Rebelo
assumiu o Ministério dos Esportes sem saber nada do assunto, deveria continuar
depois de dois anos de aprendizado. Mas agir sensatamente não PE o estilo, o
habito e o gosto da presidente Dilma. Aí, transferiu-o de Ministério, revoltou
toa comunidade científica.
PS5-Juca Ferreira,
ministro da Cultura de Lula, voltou ao cargo. Não foi reverencia ao
ex-presidente e sim represália planejada a Dona Suplicy. Esta não é mais
Ministra. Vai completar o mandato (e a carreira) no sendo. Retumbância geral
contra Juca.
PPS6- Repercussão
negativa maior só a do novo Ministro dos Esportes, Não conhece ninguém do
setor, não é conhecido. Nem ele mesmo se conhece, foi pastor não é mais.
Explicou: “posso não conhecer ninguém do setor, mas sou inteligente, sei tratar
com gente, e gosto de ouvir”. (E colocou a mão no ouvido). Vaiado assim que foi
anunciado.
PS7- Jaques Wagner
era Ministro garantido. Foi colocado na Defesa, começou com uma gafe milenar ou
militar: “Temos que deixar as feridas cicatrizarem”. Como os comandantes
consideram que não houve ferida, não gostaram da palavra cicatrizar.
PS8- Singularíssima a
situação de Cid Gomes. No meio de 2014 registrei aqui: “A governador do Ceará
pediu a Dona Dilma, quero ir para um cargo no exterior, estudar, me aprimorar,
há muito tempo não abro um livro”. Sincero, Dona Dilma, respondeu: “Vou
pensar”.
PS9- Estudar é sempre
uma boa ideia. Mas não terá tempo, foi nomeado precisamente no Ministério da
Educação, em vez de aprender vai educar. E está tão atrasado, que leu um
discurso primário, escrito a mão, em folhas de papel.
PS10- Dona Dilma
repetiu a frase lançada em 2013: “Brasil, Pátria-Educadora”. E no segundo
discurso reafirmou: “Educação será a prioridade das prioridades”.
PS11- Demitido não
surpreendentemente em junho do ano passado. Mantega pediu a Dilma: “Quero ir
para uma vaga de diretor do BID, que pertence ao Brasil”. Não foi atendido, vai
um pouco mais longe: será presidente do Conselho do Banco dos Brics.
PS12- Esse banco
ainda não foi fundado, e quando (e se) começar a funcionar, a sede será em
Hong-kong. Mantega irá morar lá ou aqui? Não precisa se preocupar, tem o ano
inteiro para isso.