Domingo, 5 de abril de 2015
Lucas
Pavanelli
Chico votou em Dilma e está decepcionado
O Tempo
Há
dez anos, o deputado federal Chico Alencar anunciava, em meio a um conturbado
processo eleitoral para a presidência do PT, sua desfiliação do partido. Ele
seguiu o rumo tomado por outros colegas fundadores da legenda, como Plínio de
Arruda Sampaio e Ivan Valente, e embarcou de cabeça no PSOL.
O
Partido Socialismo e Liberdade havia sido fundado três meses antes, também por
ex-petistas, como Luciana Genro e Heloísa Helena – expulsos do partido por
votarem contra projetos de interesse do governo Lula. De lá para cá, Chico foi
reeleito três vezes para o cargo de deputado federal e se tornou a principal
referência da legenda. Em 2014, foi o segundo candidato mais bem votado do Rio
de Janeiro, com 240 mil votos em uma campanha baseada em doações do partido e pessoas
físicas. O PSOL é contra o financiamento empresarial e recusa doações de pessoa
jurídica nas eleições e fora delas.
Chico
Alencar participa de quatro comissões na Câmara dos Deputados, incluindo a de
Constituição e Justiça e a que discute a reforma política. Compareceu a todas
as 24 sessões ordinárias e extraordinárias da Câmara.
Qual
a posição do PSOL sobre a reforma política?
Defendemos
a proposta liderada pela OAB e a CNBB e mais de cem entidades. O projeto
defende o sistema proporcional. Primeiro, o eleitor vota no partido da sua
preferência, e, de acordo com a votação, o partido tem um determinado número de
vagas. Depois, o próprio eleitor vota em uma lista fechada nos nomes que vão
ocupar essas cadeiras. Pela proposta, é provável que o modelo aceito seja o
“distritão”, em que os mais votados ocupam as cadeiras. Nossa proposta vai na
contramão do “distritão”, que eu prefiro chamar de “detritão”, que personaliza
a eleição, a torna mais individualista, mata a ideia de partido. O eleitor vai
votar nas pessoas individualmente e em cada uma. É um baita retrocesso.
E
por que o PMDB está capitaneando essa proposta?
O
PMDB é o partido do senso comum. Hoje o senso comum é o do “voto em pessoas,
odeio partidos”. O PMDB é um partido anódino, cujo programa de governo é estar
no governo, independentemente de qual. Provavelmente o PMDB imagina que possa
ter uma boa votação com o “distritão”, já que é um partido de caciques
regionais muito enraizados no Brasil.
Qual
sua avaliação sobre esses três primeiros meses do segundo mandato da presidente
Dilma Rousseff?
Deplorável.
Eu nunca vi um governo eleito tão envelhecido, desgastado, desnorteado, sem
sustentação parlamentar, chantageado e que não consegue impor sua pauta e que
gera muito desencanto mesmo para seus eleitores. Isso é ruim para o país, um
governo com três anos e meio pela frente e tão enfraquecido. Que está meio
prisioneiro de um certo parlamentarismo de pressão.
No
segundo turno das eleições, o PSOL recomendou voto branco, nulo ou em Dilma. Há
algum arrependimento?
Não.
Até porque todos nós que votamos na Dilma no segundo turno, eu me incluo,
tínhamos uma visão crítica e sem expectativa. Só não sabia que ela teria
adotado, tão rapidamente, o programa econômico do Aécio. Falar uma coisa na
campanha e, imediatamente, fazer outra soa como estelionato eleitoral. E
ninguém gosta de estelionato.
O
senhor falou dos eleitores do PT descontentes. Como o PSOL pode se beneficiar
dessa parcela do eleitorado?
A
gente não parte de uma lógica de “capturar os descontentes”. O PSOL quer
crescer e se consolidar como partido alternativo à forma de fazer política, com
boa atuação de seus parlamentares, de forma independente, com uma conduta ética
irretocável e de contestação a esse sistema. Há uma juventude muito simpática
ao PSOL. Nossa tarefa é reencantar a todos os desiludidos com a política.
O
partido discute se vai ou não expulsar o deputado Cabo Daciolo, que propôs
incluir na Constituição a frase “todo poder emana de Deus” e que vai totalmente
contra a laicidade do Estado defendida pelo partido. O PSOL erra ao filiar
pessoas que não são identificadas com as bandeiras?
Sempre
nesses casos, a gente percebe que é menos rigoroso do que deveria ser em
relação a conhecer efetivamente o filiado. Mas é vivendo e aprendendo também, e
não dá para controlar tudo. “A opinião pública é muito volátil. E isso
interfere diretamente no comportamento dos parlamentares, até mesmo dos mais
conservadores. Temos os próximos meses para reverter esse suposto apoio da
opinião pública ao projeto que reduz a maioridade penal.”
Fonte: O Tempo / Tribuna da Internet