Quinta, 3 de março de 2016
Michèlle Canes – Repórter da Agência Brasil
A Polícia Federal (PF) no Paraná pediu hoje (3) ao juiz federal
Sérgio Moro que a prisão temporária do publicitário João Santana, e da
mulher dele Mônica Moura, seja convertida em prisão preventiva. Segundo a
PF, a prisão preventiva é necessária para que a ordem pública seja
mantida, evitando que “tais indivíduos voltem a delinquir”. A prisão
temporária tem prazo de cinco dias, podendo ser prorrogada pelo mesmo
período. A preventiva não tem prazo para terminar.
No documento, a
PF diz que na casa de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht que
foi presa durante operação policial, foi apreendida uma agenda onde “é
possível encontrar referência ao contato Feira e, ao lado, o nome de
Mônica Moura” e números de telefone vinculados a ela e a João Santana.
A
PF diz ainda que em um caderno de Maria Lúcia foi encontrado um novo
bilhete de Mônica, onde juntamente com números de telefones, está a
despedida “Obrigada e um beijo”, seguido do nome da esposa de João
Santana. O bilhete e outro documento encontrados foram submetidos a uma
perícia grafotécnica.
“O laudo pericial foi definitivo ao
indicar que o bilhete carinhoso, que indica os horários disponíveis para
uma possível entrega de acarajés, partiu do punho da investigada Mônica
Moura”, diz o documento. Para a PF, o bilhete mostra que, ao contrário
do sustentado por Mônica Moura, ela “relacionava-se” com a funcionária
da Odebrecht. “Assim, parece não restar dúvidas que as referências ao
termo Feira se referem ao casal João Santana e Mônica Moura”, completa o
texto.
O documento aponta ainda que na análise preliminar do
material apreendido foi encontrada uma planilha chamada “Lançamentos X
Saldo (Paulistinha)”, que indica pagamentos para a sigla Feira. “Os
pagamentos identificados para Feira iniciaram-se em 30/10/2014,
perdurando até 22/05/2015 – ou seja, estenderam-se para período já
posterior à deflagração da Operação Lava Jato. Os valores pagos somam
impressionantes R$ 21.500.000,00, conforme planilha abaixo”, diz a PF.
Segundo o texto, ao contrário do que disse o casal, há indícios de que
receberam recursos da Odebrecht no Brasil.
Ao receber o
documento, o juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Operação
Lava Jato, deu um prazo para que o Ministério Público Federal e a defesa
do casal se manifestem. O Ministério Público Federal (MPF) enviou uma
manifestação sobre a representação da PF. No documento, protocolado
hoje, o MPF reforça o pedido de prisão preventiva.
“Como bem
salientado pela autoridade policial, mesmo que ainda em análise
preliminar das provas colhidas, já foram constatados inúmeros repasses
subreptícios a Mônica Moura e João Santana, caracterizando nitidamente o
recebimento de valores oriundos de corrupção”, diz o MPF.
O MPF
destaca ainda o fato de o repasse de R$ 21,5 milhões teriam sido feitos
entre 30 de outubro de 2014 e 22 de maio de 2015, quando a Operação Lava
Jato “já era de amplo conhecimento”.
“Ora, se nem a ampla
divulgação da Operação Lava Jato e a realização de medida ostensiva
especificamente no Grupo Odebrecht foi suficiente para frear o
envolvimento do casal com a lavagem de ativos, revela-se evidente o
risco concreto de que, se colocados em liberdade, Mônica Moura e João
Santana novamente incorram em novos delitos”, diz o texto.
Destruição de provas
A
polícia alerta para o perigo de destruição de provas. A Polícia Federal
afirma que um relatório apontou que João Santana teria excluído uma
conta em "serviço de armazenamento e compartilhamento de arquivos em
nuvem" no dia em que a 23ª fase da Operação Lava Jato foi deflagrada,
quando o publicitário e a esposa foram presos. Para a PF, foi uma "clara
tentativa de eliminar eventuais elementos probatórios relevantes que
ali pudessem ser encontrados". Segundo a PF, colocar o casal em
liberdade poderia provocar a destruição de provas.