Quinta, 12 de outubro de 2017
Por
Fernando Tolentino*
Eu não "cresci" no Gama. Não?! Bem, a verdade é que cresci muito no Gama.
Virada dos anos 70/80. Tempos duros, há poucos anos chegado à capital da ditadura. Vivíamos os tempos de luta pela anistia, retomada de movimentos políticos, a mobilização por representação política no DF e organização de núcleos locais de partidos políticos.
Cheguei de mansinho, bati na porta e do outro lado havia braços e sorriso abertos. Como Dóris, uma das pessoas mais puras que conheci na vida, mas também uma admirável mobilizadora comunitária, consciência política intuitiva, excelente companhia. E as pessoas foram surgindo à medida que as lutam se travavam e outras nos convocavam: Dantas, Marcelo, Taciano, Íris, Ozias, Noeme, Amparo, tanta gente querida...
O Gama mostrava ter uma comunidade espontaneamente sensível à mobilização para a luta pela democracia, com elementos fortes de consciência de classe. Aspectos não tão comuns na comunidade do Plano Piloto e de outras cidades satélites. Claro que se tornou, pra mim, uma espécie de minha casa política.
Com a continuação, como “quem ama mora no Gama”, até ali surgiu um novo amor e a cidade ganhou nova motivação. Sinto que não é a mesma, passadas três décadas, com seus prédios altos tentando se impor ao conjunto urbano, sem os seus velhos bares, muitas pessoas de que até não consigo lembrar os nomes. Mas o Gama e sua gente merecem muita saudade e gratidão.
(A cidade do Gama - DF faz hoje 57 anos. Publicado no Facebook)
*Fernando Tolentino é Administrador e Jornalista