Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 17 de março de 2019

Lançado na CLDF, livro de Marielle Franco analisa UPPs nas favelas do Rio de Janeiro

Domingo, 17 de março de 2019
Da CLDF

Quem mandou matar Marielle? Essa pergunta segue sem resposta há, exatamente, um ano da execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes no Rio de Janeiro. Para cobrar respostas e manter vivo o legado de Marielle, ampla programação acontece em todo o País nesta quinta-feira (14). Em Brasília, a Câmara Legislativa realiza [realizou] sessão solene a partir das 19h, e mais cedo, às 17h, sediou no foyer do Plenário o lançamento de livro da vereadora.
A obra "UPP: A Redução da Favela a Três Letras – Uma Análise da Política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro" é uma versão editada da dissertação de mestrado em Administração da socióloga Marielle Franco, apresentada em 2014 à Universidade Federal Fluminense (UFF).

O objetivo da dissertação, conforme explica Marielle em seu texto, é demonstrar que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), enquanto política de segurança pública adotada no Rio de Janeiro, reforçam o modelo de Estado Penal. No estudo, ela procurou identificar "se as UPPs representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas".
Nascida e criada na Maré, a socióloga – cuja atuação na Câmara de Vereadores do Rio foi pautada pelas bandeiras do feminismo e dos direitos humanos – continua, em sua dissertação: "As UPPs tornam-se uma política que fortalece o Estado Penal com o objetivo de conter os insatisfeitos ou ‘excluídos' do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões".
Lançado pela editora N-1, o livro custa R$ 30, e o lucro com as vendas será revertido para a família da vereadora. Quem comprou o livro na CLDF recebeu, junto, sementes de girassol – flor que simboliza a luta por justiça para Marielle.

Lançamento no DF – Durante o lançamento do livro na CLDF, a professora de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Haydée Caruso, salientou que a dissertação de Marielle foi concluída num ano "crucial", 2014, quando o Brasil sediou a Copa do Mundo de Futebol. Ela explicou que a implementação das UPPs, iniciada em 2008, foi uma estratégia de segurança para "pacificar" as favelas para o evento no Rio de Janeiro. Em sua opinião – e conforme mostra a dissertação da vereadora – foi um "grande erro": "Não se muda uma política de segurança com projetos pontuais e que não dialogam com a sociedade como um todo". O resultado efetivo, apontou Caruso, foi a ampliação do Estado Penal, que passou a "regular" a vida social e o ir e vir nas favelas.
"A dissertação de Marielle é um trabalho para ser lido e compreendido por muitos anos", concluiu a docente da UnB. Para ela, as conclusões do estudo podem contribuir com as políticas de segurança locais. "No DF, num raio de 30 km, temos realidades parecidas às pesquisadas no livro", apontou.
Especialista em relações étnico-raciais e gênero e perita do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Ministério da Justiça, a advogada Deise Benedito participou do evento de lançamento do livro esta tarde e fez questão de destacar outro ponto forte da dissertação: "Marielle sabia da realidade que estava falando. Ela colocou um questionamento à Academia, que não sobe a favela". Em sua opinião, o livro sobre as UPPs é mais um "instrumento de luta".
Homenagem - "Hoje é um dia de muita dor, mas também um dia de luta. Há um ano, Marielle foi tirada de nós! Executaram uma vereadora democraticamente eleita porque ela teve coragem de protagonizar o combate ao pensamento autoritário no Brasil. Mas, ao contrário do que desejavam, Marielle não foi silenciada: seu enorme exemplo a mantém viva", afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa, deputado Fábio Félix (Psol), à frente dos eventos em homenagem à vereadora na Casa. 
As distritais Arlete Sampaio (PT) e Júlia Lucy (Novo) também estiveram presentes na solenidade.
Denise Caputo
Fotos: Silvio Abdon/CLDF
Comunicação Social - Câmara Legislativa