Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 19 de março de 2019

A Pseudo Racionalidade do Neoliberalismo

Terça, 19 de março de 2019
Por
Pedro Augusto Pinho
Uma característica do mundo virtual que nos cerca, especialmente neste século XXI, é a fragmentação, algo como a "inteligência parcial" de que nos fala o pensador francês Edgar Morin.

Com esta expressão Morin nos transmite o pensamento reducionista, compartimentado, a unidimensionalização do multidimensional.

É a compreensão míope, crente, que destrói toda possibilidade de compreensão, de reflexão e dá margem ao surgimento do pensamento mágico, onde se desnuda a ausência de relações científicas causais. Alguma coisa como um discurso de Olavo de Carvalho, mentor de uma das alas do Consórcio Bolsonaro, da gestão bonifrate do Brasil.

Como interfere na nossa vida cotidiana, na prática do dia a dia, este modo de pensar? Em que nos prejudica?

Mesmo imersos numa asfixiante rotina, desta quase imobilizadora existência, é próprio da vida humana a permanente tomada de decisões. E como adotar, mesmo pensando egoisticamente, as que nos sejam as mais favoráveis? Tendo a maior compreensão de seus significados, de seus alcances, de seu universo. Dispondo das informações certas e completas e conhecendo os conjuntos onde elas se inserem.

Portanto, a simplificação do imediatismo, do pensamento único do neoliberalismo já nos indica que é um caminho errado para trilhar.

O neoliberalismo é a ideologia do financismo. Ambos são reducionistas. E falsos.

Neste artigo pretendo desenvolver o pensamento que lida com as incertezas, que é capaz de estruturar sistemas, uma verdadeira metodologia para ação, como define outro pensador francês, Abraham Moles.
Vejamos, de início, o que liga a comunicação à ação. Foi um dos grandes ganhos do financismo, na luta contra o industrialismo, dar uma dimensão muito maior do que a robotização ao dominar os recursos da teoria da informação.

Em artigo de 05/03/2019, na Carta Capital, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo escreve:

"No livro Phenomenology of The End, Franco “Bifo” Berardi desvenda essas transformações: “Em suas etapas mais recentes, a produção capitalista reduziu a importância da transformação física da matéria e a manufatura física de bens industriais, ao propiciar a acumulação de capital mediante a combinação entre as tecnologias da informação e a manipulação das abstrações da riqueza financeira. A informação e a manipulação da abstração financeira na esfera da produção capitalista tornam a visibilidade física do valor de uso apenas uma introdução na sagrada esfera abstrata do valor de troca”. A inteligência artificial, a internet das coisas e a robotização têm sido incansáveis em sua faina de metamorfosear a materialidade da produção na imaterialidade das formas financeiras".

Nos anos 1940, quando Norbert Wiener (Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the Machine) e Claude Shannon (The Mathematical Theory of Communication) nos apresentaram a operacionalidade da mensagem, deixaram claro que era uma das suas dimensões. Havia uma semântica, toda uma outra esfera de conhecimento, sobre a compreensão e a emoção trazida pelos signos.

O neoliberalismo dispensa toda ética, todos valores humanos. É a consequência que lhe permite trabalhar com um valor estéril, desprovido de qualquer interesse diverso da acumulação. Um MIdas que morrerá no palácio cheio de ouro por falta do que comer.

Voltemos ao excelente artigo do professor Belluzo:
"Os trabalhadores autônomos, empreendedores de si mesmos, assumem os riscos da atividade – investimento, clientela –, mas estão submetidos ao controle da plataforma na fixação de preços e repartição dos resultados. Essa organização do trabalho foi predominante nos primórdios do capitalismo manufatureiro da era mercantilista, sob a forma do putting-out system. Os comerciantes forneciam a matéria-prima para os artesãos “autônomos”, que estavam obrigados a entregar o produto manufaturado em determinado período de tempo".

O neoliberalismo se apresenta como o regime das oportunidades. Mas quais são as oportunidades num mundo de desemprego? de subemprego? de difíceis e caríssimos empréstimos para empreendimentos produtivos? e, muito mais grave do que tudo isso, dirigido por um sistema ideológico que só favorece o ganho financeiro?

Desde 1990 o mundo ocidental e o Brasil de Collor, FHC e seus sucessores vivem uma realidade econômica neoliberal, com tetos de gastos, privatizações, precedências orçamentárias para os juros e todos estes pacotes de maldade que sentimos no bolso e na boca.

Qual é o rumo? No Monitor Mercantil de 18/03/2019, na coluna Conversa de Mercado, Ana Borges escreve: "a precarização das relações trabalhistas, a redução do número de vagas formais, a reforma da Previdência, a agenda liberal do estado e as novas tecnologias que dão oportunidade de as pessoas se virarem por conta própria, além da própria postura da chamada geração Y que não pensa em carreira, mas sim em ganhos imediatos, são alguns dos fatores que podem levar à bancarrota da economia brasileira nos próximos dez anos".

E, adiante na mesma coluna, quando analisa a situação dos Estados Unidos da América (EUA), após constatar que "os salários reais eram decrescentes", Ana Borges conclui que a "má distribuição de renda foi um dos grandes causadores da crise".

Ora meus caros leitores, a concentração de renda, junto com a apropriação pelo sistema financeiro de todo e qualquer ganho, seja lícito seja ilícito (e o tráfico de drogas tem um porto seguro no sistema financeiro), são objetivos explícitos do neoliberalismo, do todo poderoso Ministro da Economia, Paulo Guedes, e do não menos influente Ministro da Justiça, Sergio Moro. Dois destacados executores das políticas contra tudo e todos que não sejam juros, rentistas e banqueiros.

Só para não esquecer, a Lava Jato que divulga ter descobertos bilhões de reais em corrupções no Brasil e em depósitos no exterior, não chamou um único banqueiro, não promoveu busca e apreensão em uma única agência, nem para depor sobre a passagem de dinheiro foi chamado um único gerente. Um verdadeiro milagre da invisibilidade: dinheiro que circula e rende pelo mundo não transita pelos bancos.

Mas qual o projeto que este Consórcio dirigente de nossa Pátria apresenta para o mundo? A ser verdade o que se noticiou nos sites virtuais, caçar fantasmas. Sim meus caros, pois prometeu em jantar com alas conservadoras estadunidenses que iria "acabar" com o "socialismo" e o "comunismo" no Brasil.

Temos assim, fechando estas considerações sobre a irracionalidade da opção neoliberal, uma confissão: nada além de manter o palanque funcionando ora com manifestações de escândalo intelectual, como abundantes na área da Educação, ora com a pregação da violência que prometera combater quando candidato, ora com a destruição da família pelo meio mais eficaz: o desemprego e a fome.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado