Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 7 de maio de 2022

Saiba o que fazer! Como desvendar os rótulos e se alimentar melhor

Sábado, 7 de maio de 2022
Foto: iStock

Confira as dicas para entender melhor o que vai comer e leve opções mais saudáveis para casa

Do Idec —Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

Nomes impronunciáveis, prazos de até dois anos de validade são algumas das recorrências do que se encontra nas embalagens dos produtos no supermercado. Você já teve curiosidade de olhar aquele verso e entender? Leia este material preparado para o mês do Dia do Consumidor para saber como ler cada item do pacote dos alimentos industrializados.

Uma pesquisa realizada pelo Idec revelou que cerca de 40% dos entrevistados admitem ter alguma dificuldade para compreender as informações do rótulo. Então para te ajudar e ler melhor as informações, seguem cinco respostas que mostram os principais passos para você adotar toda vez que pegar algum produto, a partir de agora, na prateleira do supermercado:

O que devo olhar na lista de ingredientes?

A lista de ingredientes diz muito sobre o alimento. Vire a embalagem e veja: o primeiro item é o que está presente em maior quantidade e o último, em menor. Assim, evite aqueles produtos que contenham açúcar, sódio ou gordura entre os primeiros da lista. Por regra, os aditivos alimentares aparecem no fim dos componentes, independente das quantidades.

Alerta vermelho para os produtos com ingredientes de nomes complicados, que você não sabe o significado – geralmente são substâncias extraídas de alimentos (xarope de glicose, maltodextrina, isolados de proteína etc.) ou aditivos alimentares (como corantes, conservantes, estabilizantes etc.), utilizados pela indústria de alimentos para melhorar os aspectos sensoriais e que são característicos de produtos ultraprocessados. É melhor voltá-los para a prateleira.

O que significa o %VD que aparece na tabela nutricional?

A tabela de informação nutricional é um segundo ponto de atenção. Na maioria das vezes, elas fazem referência só a uma porção do alimento e não ao conteúdo total da embalagem. Por exemplo, as porções impossibilitam comparações entre iogurtes e barra de cereais, por serem produtos de diferentes grupos de alimentos.

Note também que as informações nutricionais são apresentadas na tabela no formato de valor diário de referência (%VD). Ele diz respeito ao percentual recomendado para consumo diário que a quantidade presente no alimento corresponde.

Por exemplo, se no item “sódio” aparecer “20”, significa que aquele produto contém 20% da quantidade de sódio recomendada para ser absorvida em um dia inteiro. Entretanto, estes valores são calculados com base em uma ingestão de 2.000 calorias diárias para adultos saudáveis, sendo que as recomendações nutricionais variam de pessoa para pessoa. Para crianças, por exemplo, o limite diário de cada nutriente é muito menor, mas até os produtos com apelo infantil utilizam esse padrão.

Se na tabela o percentual de valor diário de referência das calorias, gorduras saturadas e sódio for alto, significa que aquele é um alimento menos saudável. No caso de fibras, cujo consumo é desejável, vale o contrário. Já quando o %VD apresenta um asterisco (*), que informa que não há quantidade de referência para aquele nutriente, não significa que a quantidade presente no produto seja insignificante. Isso quer dizer apenas que não foi estabelecido um limite diário para o consumo desses nutrientes e por isso não é possível calcular o valor recomendado. Isso ocorre para a gordura trans, por exemplo.

Se o rótulo diz que tem fibras, minerais e vitaminas ele é saudável?

Esses três nutrientes são essenciais para uma alimentação saudável, mas se fazem parte de uma composição que contém muitas calorias e gorduras, por exemplo, não é dos mais saudáveis.

Fibras, minerais e vitaminas (A,B, etc) quando adicionados aos produtos alimentícios por meio de fortificação ou enriquecimento, nem sempre têm os mesmos efeitos no organismo, quando comparados àqueles presentes naturalmente nos alimentos. Prefira ingerir vitaminas C, K, ômega 3 em alimentos frescos.

Tenho que evitar tudo que tenha gordura?

As gorduras podem estar divididas em: totais, saturadas e trans. A primeira denominação refere-se à soma de todos os tipos de gorduras presentes no alimento. As gorduras saturadas merecem atenção, pois em excesso podem aumentar o risco de doenças do coração.

Já a gordura trans deve ser evitada ao máximo, pois o corpo humano não necessita dela para nenhuma função. Pelo contrário, ela só traz prejuízos. Esse tipo de gordura costuma estar presente em alimentos ultraprocessados como margarina, biscoitos, sorvete e salgadinhos.

No entanto, é preciso atenção redobrada, pois nem sempre um produto cuja tabela de informação nutricional indica ter zero gordura trans realmente não tem esse nutriente. A legislação permite que seja declarado como zero teor se houver até 0,2 g de gordura trans por porção do alimento.

Para descobrir se de fato há ou não gordura trans, é preciso checar a lista de ingredientes. Se constar gordura vegetal hidrogenada, gordura vegetal parcialmente hidrogenada ou o óleo vegetal hidrogenado, por exemplo, o produto tem gordura trans. Já aqueles produtos que apresentam margarina, creme vegetal e gordura vegetal, por exemplo, podem ou não conter gordura trans, sendo considerados termos inespecíficos na lista de ingredientes. Leia mais em: A gordura trans que você não vê.

Por que o prazo de validade é importante? Devo sempre respeitá-lo?

O prazo de validade deve indicar o dia e o mês de vencimento quando for inferior a três meses da data de fabricação. Caso seja superior, pode ser informado apenas o mês e ano de validade. Fique atento ao prazo e consuma o alimento dentro da validade. Aprenda mais sobre seus direitos e como são definidas as datas nas embalagens no material que preparamos sobre produtos vencidos.

Não consuma produtos com o prazo de validade vencido!

A origem do produto é outra informação importante. Com ela, é possível verificar onde ele foi fabricado e, dessa forma, valorizar a produção local.

Além disso, o rótulo deve informar o número do lote, utilizado pela indústria para controlar a produção. Você não precisa prestar atenção nele na hora da compra, mas, caso haja algum problema, o produto pode ser analisado ou recolhido por meio dessa informação.

Dica bônus: tenha cuidado com o poder de atração da publicidade

São tantas marcas competindo pela sua atenção que para se destacarem usam desenhos, cores e frases para se tornarem um produto mais atrativo. A publicidade mascara alimentos não saudáveis fazendo parecer que são e assim aumentam o consumo e também o risco para o desenvolvimento de obesidade, excesso de peso e doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças do coração.

Uma forma muito comum de publicidade são os enunciados que afirmam ser “rico em fibras”, “sem gordura trans”, “fit”, “sem aditivos”, “orgânico” e “contém vitaminas e minerais”. Porém, isso não assegura que os alimentos sejam, de fato, mais saudáveis.

Uma pesquisa feita em 2017 nas maiores redes de supermercados brasileiras avaliou 3.491 produtos que apresentavam alegações em suas embalagens. O resultado mostrou que ¼ deles continha altos teores de nutrientes nocivos para a saúde como açúcares, adoçantes, gorduras totais, gorduras saturadas, gordura trans e sódio.

Essas embalagens não reservam apenas ingredientes nocivos, elas trazem veneno no pacote. Em 2020, a análise de 27 produtos ultraprocessados revelou que destes, 59,3% apresentaram pelo menos um tipo de agrotóxico e 51,8% dos produtos analisados tinham resíduos de glifosato, um polêmico agrotóxico considerado como potencial causador de câncer. Leia mais em: Tem veneno no pacote

É importante considerar que nem todas as alegações são reguladas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Muitas delas são apenas utilizadas como publicidade, sem ter seu efeito ou conteúdo comprovado, causando engano e confusão ao consumidor na hora da compra.

No caso de produtos direcionados ao público infantil, deve-se tomar ainda mais cuidado, já que o consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil começa em idades cada vez menores e a prevalência de doenças relacionadas a este consumo é crescente nos últimos anos.

É comum que embalagens utilizem personagens infantis, celebridades, promoções, jogos ou brindes colecionáveis para atrair esse público, o que é ilegal de acordo com o CDC (Código de Defesa do Consumidor). Nestes casos, denuncie! Para mais informações acesse o site do https://publicidadedealimentos.org.br/.