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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Mané Garrincha: Nota de esclarecimento da Coordenadoria de Comunicação para a Copa. E breves comentários sobre a nota

Terça, 2 de fevereiro de 2013
A Coordenadoria de Comunicação para a Copa encaminhou ontem (1/4) a este blog “nota de esclarecimento sobre matéria publicada no site Quid Novi e reproduzida no blog Gama Livre” nesta segunda-feira. Pede no e-mail que confirmássemos o recebimento da mensagem, o que foi feito nesta manhã de terça.

O Gama Livre publica a seguir a “Nota de Esclarecimento ao QuidNovi”, informando inicialmente que reproduzimos postagem não do QuidNovi, mas do Blog da Leiliane, cuja blogueira nós do Gama Livre não conhecemos pessoalmente, mas sabemos da sua luta em defesa de Brasília. E da qualidade das postagens ali colocadas.

Após a transcrição da nota de esclarecimento emitida pela Coordenadoria de Comunicação para a Copa, o Gama Livre volta para fazer algumas rápidas observações e considerações sobre o assunto.

Eis a nota:
Nota de Esclarecimento ao QuidNovi
Brasília, 1 de abril de 2014 – É com indignação que verificamos a publicação no site QuidNovi, reproduzida no blog Gama Livre, de texto equivocado sobre remanejamento de recursos do Orçamento 2013. Apenas quem não tem conhecimento da gestão orçamentária do DF estanha o remanejamento de R$ 100 milhões, em 30 de janeiro, para as obras do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.
Uma das inovações do orçamento 2013, devidamente prevista em lei e autorizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, é a administração dos recursos destinados a 70 projetos considerados prioritários, definidos com a participação da comunidade do Distrito Federal. Esse mecanismo permite a realocação de verbas para obras em estado mais adiantado, ou em fase de conclusão (caso do Estádio Nacional), sem prejuízo ao cronograma financeiro das demais, que receberão os recursos previstos assim que entrarem em fase de execução. Ou seja, obras em andamento têm a liberação adiantada em relação àquelas que ainda estão, por exemplo, em fase de licitação.
Inferir que o Estádio Nacional consome recursos da Educação ou da Saúde é uma irresponsabilidade. O orçamento deste ano prevê R$ 3,5 bilhões em ações de mobilidade urbana, infraestrutura, urbanismo e programas sociais: em 2012, esses recursos foram de R$ 1,5 bilhão. Na comparação com o ano passado, a Saúde teve garantidos R$ 48,5 milhões a mais do que no ano passado; os programas sociais, R$ 106 milhões e a segurança, R$ 84 milhões. Os investimentos em mobilidade urbana mais do que dobraram (crescimento de 52,56%).
Para o Governo do Distrito Federal, a realização dos grandes eventos esportivos na capital federal é oportunidade única de desenvolvimento social e econômico. A expectativa é que, apenas a Copa do Mundo 2014, injete R$ 4 bilhões na economia local, em todos os setores (turismo, serviços, comércio, negócios...).
O mais importante, no entanto, é o que ficará para a população do Distrito Federal. Nos últimos dois anos, foram criadas cerca de 120 mil novas vagas de trabalho no DF. Quase 6 mil pessoas passaram por cursos de qualificação profissional, por meio do programa Qualificopa, sendo que em algumas áreas a absorção pelo mercado de trabalho passa de 80% - 100% dos vendedores formados pelo programa estão empregados.
Na área de Saúde, o DF conta hoje com quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) das 14 previstas até 2014. Todos os hospitais e centros de Saúde do DF passaram por reformas e ampliações. O Hospital da Criança de Brasília José Alencar, administrado pelo GDF em parceria com a Abrace, realizou mais de 313 mil atendimentos em pouco mais de um ano de funcionamento e já é ampliado. A atual gestão recuperou a capacidade da rede pública de Saúde para realizar transplantes e captar órgãos, tendo zerado a fila de espera por transplantes de coração e de córneas. A Carreta da Mulher, que leva atendimento digno e exames preventivos à porta das brasilienses, já conta com duas unidades (a terceira será inaugurada nos próximos dias) e, pouco antes de completar um ano de funcionamento, já chegava a 33 mil exames realizados em 22 regiões do DF.
Outra falácia é dizer que não há investimento em educação. O Orçamento 2013 destina R$ 21 milhões a mais do que o mínimo previsto na Constituição Federal. Neste ano, serão construídas 31 Centros de Primeira Infância e seis Centros de Educação Infantil no DF. Cada unidade dessas beneficiará 300 crianças. As unidades já começaram a ser entregues. O lançamento do Cartão Material Escolar garante que os alunos mais carentes da rede pública terão condições de frequentar as escolas do DF com material didático adequado.
Na área de mobilidade urbana, além de abrir ciclovias em todas as regiões administrativas e no Plano Piloto, o GDF está empenhado em garantir transporte de qualidade para a população – problema que nenhuma outra gestão teve a coragem de enfrentar. Depois de décadas de frota sucateada, todo o Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal está em fase de licitação. O certame caminha para sua fase final e ônibus novos começam a chegar às ruas já em setembro deste ano.
Portanto, o GDF vem cumprindo todos os compromissos assumidos com a população do Distrito Federal e tem executado todos os investimentos necessários para as áreas prioritárias. Os projetos fundamentais à qualidade de vida, ao atendimento integral e à formação cidadã do brasiliense estão assegurados, sem interrupção e sem prejuízo. Os megaeventos esportivos acontecerão em Brasília, em um dos estádios mais modernos e sustentáveis do mundo, mas, o mais importante, em uma cidade onde o cidadão é respeitado e está em primeiro lugar.
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Agora os breves comentários do Gama Livre:
  • 1.   Apesar de ser possível equívoco em postagem nos blogs e sites, como em qualquer outro veículo de comunicação, o Gama Livre, analisando a postagem aqui reproduzida do Blog da Leiliane, não vê nela um texto equivocado sobre remanejamento de recursos do orçamento de 2013, remanejamento exclusivamente para as obras do Mané Garrincha.
  • 2.   Diferente do que afirma a nota, aqueles que também não sejam conhecedores da gestão orçamentária do DF podem sim estranhar o remanejamento de mais R$100 milhões (cem milhões de reais, dinheiro pra caramba) para as obras do Mané Garrincha. A postagem “ESTÁDIO MANÉ GARRINCHA: NASCE UM GIGANTE, MORRE O FUTURO!” não diz ser o remanejamento ilegal. Apenas questiona a oportunidade de fazê-lo. Critica as prioridades definidas pelo governo do DF, que coloca a construção do Mané Garrincha como prioridade maior. Isso é inquestionável, basta ver o valor dos recursos públicos carreados para tal obra.
  • 3.    É fato, não questionado pelo GDF na sua nota, que houve o remanejamento orçamentário apontado pelo Blog da Leiliane. São mais R$100 milhões transferidos de áreas vitais do GDF para a construção do estádio. Essa suplementação de R$100 milhões está registrada ao final da página 116 do Diário Oficial do DF de 31 de janeiro de 2013.
  • 4.   A leitura da postagem questionada pelo GDF indica que os recursos remanejados para o Mané Garrincha têm como origem a anulação de dotações para, por exemplo: construção de unidades de educação infantil; implantação de Unidades de Pronto Atendimento (UPA); implantação de ciclovias; execução de obras de urbanização Pró-Moradia; construção de aterro sanitário de Samambaia; recuperação de rodovias, ampliação da linha 1 do Metrô; construção de terminais rodoviários.
  • 5.   A consulta do DODF de 31 de janeiro de 2013, das páginas 113 à 116, comprova o que a blogueira Leiliane apontou em seu texto, isto é, as áreas sacrificadas pelo remanejamento dos R$100 milhões para a construção do Mané Garrincha. Nessas páginas, encontramos ainda que foram anuladas dotações para revitalização de parques; manutenção de áreas urbanizadas e ajardinamento; implantação de ecopontos, construção de centros de triagem de materiais recicláveis; reestruturação de sistemas de drenagem pluvial e obras complementares do Programa Águas do DF; execução de obras de urbanização do Polo JK (Santa Maria), implantação do corredor de transporte coletivo do Eixo Oeste (Linha Verde); execução de obras de recuperação estrutural de vias do DF; construção de unidades do sistema penitenciário (SSP); implantação de veículo leve sobre pneus (VLP Sul); implantação do corredor de transporte coletivo do Eixo Norte; reforma de edificações e espaços culturais do Patrimônio Histórico; construção de unidades de internação de menores.
Diz a nota do GDF que “É com indignação que verificamos a publicação”. Ora, se alguém tem que estar indignado são aqueles que levam horas nas filas dos hospitais, e até dão graças a Deus quando conseguem ser atendidos; são os pais que sentem dificuldades em matricular suas crianças, que, muitas das vezes, ficam sem professores; são aqueles que sofrem por falta de aterros sanitários, são os que quebram seus carros nas estradas e ruas esburacadas do DF; indignados devem estar aqueles que acreditaram em promessas sobre metrô e estão engolindo a promessa de um tal de VLP com asfalto cheio de costelinhas.

Indignados devem estar também aqueles que esperavam a revitalização de parques, e agora veem os recursos serem remanejados para um estádio que tem tudo para se transformar num irmão dos estádios da África do Sul. Estádios fantasmas. Talvez não tanto, mas quase isso.

Indignados certamente estão aqueles que são atingidos pelas inundações nas ruas do Plano Piloto, mas não só do Plano Piloto. E que veem os recursos para drenagens das águas, serem drenados para o estádio.

Uma coisa é certa, e não precisamos ser especialistas em Orçamento Público. Se, por exemplo, está tão ruim a educação, se há o caos na saúde, se os transportes públicos são péssimos, e se há a retirada de R$100 milhões (CEM MILHÕES) dessas e de outras áreas, é certo afirmar que tais áreas continuarão como estão, ou até tendem a piorar.

Para não nos estendermos mais, ficamos por aqui, deixando para o leitor decidir quem está com a razão. Se a nota do GDF ou a postagem “Estádio Mané Garrincha: Nasce um gigante, morre o futuro”.

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