Sexta, 16 de agosto de 2013
Helio Fernandes — Tribuna da Imprensa
Extraordinariamente jornalística a revelação do Jornal Nacional,
publicando mais de 5 horas de gravação do GPS do carro da polícia que
levava o preso Amarildo. (Sensacional. Num jornal impresso, o
correspondente em méritos seria a publicação de um documento
sigiloso-confidencial).
Foram mais de 5 horas de gravação que não pode ser contestada ou
desmentida. E que muda tudo o que se sabia, “e era garantido pela
própria polícia”.
Eles diziam, oficialmente, 1 – Amarildo fora chamado à UPP, por se
parecer com um traficante. 2 – Ouvido, foi liberado, saiu da UPP a pé. 3
– Até a divulgação da gravação, no trigésimo dia do desaparecimento,
ninguém soube mais de Amarildo.
4 – E a UPP e a Polícia Militar continuavam negando qualquer
participação no desaparecimento dele. 5 – Insistiam que o GPS estava
desligado, o que não tinha a menor importância, pois garantiam que
Amarildo não entrara em carro algum.
6 – Pois o Jornal Nacional não só MOSTRA que ele esteve por mais de 5
horas num carro policial, mas que mesmo com o GPS desligado, havia
jeito de gravar tudo, como foi feito.
AGORA TEM QUE HAVER RESPONSABILIZAÇÃO
Amarildo desaparecido, sem que houvesse alguma prova irrefutável, já
ganhara repercussão nacional, camisas com seu nome apareciam em
passeatas no Brasil todo. Agora Amarildo não é “apenas” desaparecido de
forma estranha, e sim um inocente (como a própria polícia garantia) que
“passeou” por mais de 5 horas num carro da polícia.
Impressionante o trajeto do carro da polícia, com o preso Amarildo.
Ele sai da UPP, vai trafegando por lugares os mais estranhos, do Norte
ao Sul da cidade. Para duas vezes em batalhões diferentes da Polícia
Militar (supostamente para receber ordens).
Voltam para a Zona Sul pelo Túnel Rebouças, passam pelo mesmo
Rebouças na outra mão, se dirigem novamente para a Zona Note. Depois de
uma hora e 2 minutos, param num Hospital da própria Polícia, fato não
explicado. Estaria ferido ou morto? No momento em que escrevo não se
sabe, mas se saberá. É questão de tempo e de aprofundar a investigação.
AUTORIDADES CULPADAS, NÃO APENAS POLICIAIS
A repercussão aumentará muito com a elevação das patentes que
souberam ou participaram de tudo. Da prisão e da farsa. Agora, ninguém
ficará de fora, as investigações começam pelo alto.
O secretário Beltrame, que sempre é muito franco e fala tudo,
surpreendentemente, desde a revelação do GPS pelo Jornal Nacional, se
retraiu, preferiu o silêncio. Mandava dizer que “estava muito ocupado”,
como se houvesse alguma coisa mais importante do que esse fato.
Nenhuma suspeita sobre ele. Por enquanto, e pelo seu passado. Estava
por fora de tudo, o que também é surpreendente. (Até agora é o que eu
sei, o que não é pouco).
A VOLTA DA “GAIOLA DE OURO”
A Câmara Municipal foi fundada ali mesmo, em 1876, se chamava Câmara
dos Intendentes. (Os vereadores eram intendentes). O prédio, amarelo
com janelas abertas, foi chamado de “gaiola de ouro”, não pejorativo.
Passaram os tempos, dominada pela corrupção, continuou sendo
identificada como “gaiola de ouro”, então rigorosamente pejorativo.
Fechada durante a ditadura de 1930/45, voltou em janeiro de 1947,
esplêndida, democrática, brava e atuante. Os grandes debates sobre a
construção do Maracanã, se travaram ali. Com as denúncias públicas e
arrasadoras da roubalheira do prefeito Mendes de Moraes. Durou pouco,
lógico.
Logo desarticulada e desmoralizada, desapareceu, ficou longo tempo
fora do noticiário. Volta agora como “gaiola de ouro” (pejorativa),
ligadíssima à Fetranspor, que controla os ônibus, com seus preços
altíssimos, seus lucros escondidos em caixas pretas e doações a
vereadores corruptos.
Não apenas corruptos, mas também descontraídos, sem constrangimento,
decidindo “fazer” uma CPI para homenagear e agradecer os “benefícios”
concedidos a eles pela própria Fetranspor.
E então, sem pudor ou rumor, colocaram nessa CPI milicianos e servos
da própria Fetranspor. E como não podia deixar de ser, “elegeram”
presidente dessa CPI-Patifaria o notório Chiquinho Brazão.
Apesar de não terem feito rumor, foram percebidos pela parte do povo
nas ruas que cuida principalmente de combater a máfia e os gangsteres
dos transportes. Essa é a parte talvez mais importante da revolta do
povo nas ruas. Diariamente, milhões de cidadãos (não apenas no Rio) são
roubados por esses “donos” dos transportes.
Essa terra arrasada do transporte tira, rouba (como eu já disse) pelo
menos três horas diárias do tempo do trabalhador. Uma hora e meia para
ir de casa para o trabalho, outra hora e meia para voltar do trabalho
para casa. Sem contar o tempo de espera de trens e metrôs, caríssimos,
sempre atrasados, insuficientes, num engarrafamento dentro desses
veículos só comparável ao engarrafamento das ruas.
A CULPA DOS GOVERNANTES
As primeiras vitórias do povo nas ruas foram obtidas nas denúncias
contra governadores e prefeitos, do Rio e de São Paulo. Os preços não
foram aumentados, apesar da resistência inicial de Alckmin, Cabral,
Eduardo Paes, Fernando Haddad, que jogaram a polícia massacrando o povo e
sendo elogiada por esses tenebrosos “governantes”.
Para terminar por hoje: parabéns aos manifestantes que tomaram a
Câmara Municipal e interditaram a CPI de homenagem à Fetranspor. O
Ministério Público está demorando a denunciar esses vereadores e
A-N-U-L-A-R a CPI, que já está A-N-U-L-A-D-A pela vontade popular. Só
não podem demorar.
PS – A CPI se reuniu por 29 minutos, inúteis. Presidida por
Chiquinho Brazão, corrupto, miliciano, ligadíssimo à Fetranspor, do PMDB
de Cabral e Paes, não assinou o requerimento de formação da CPI, não
podia presidi-la. Foi “convocada” reunião para a próxima quinta-feira.
Até lá muita coisa vai acontecer.
PS2 – Os membros do Ministério Público deveriam ir à Câmara
Municipal acompanhados da Polícia para interditarem esse Câmara mafiosa,
com poucas exceções.
PS3 – Eliomar Coelho, que deveria presidir a CPI, se retirou quando ela foi supostamente instalada por Chiquinho Braão.
PS4 – O trânsito ficou engarrafado até muito tarde, prejudicando a
população inteira. Como o Rio é uma cidade “imprensada” entre a
montanha, o mar e a lagoa, não há saída. Todos sofrem por causa de uns
poucos corruptos em postos-chaves.
EIKE BATISTA SAI DE EMPRESAS
Com prejuízos triliardários, não pôde suportar prejuízos bilionários.
A obsessão tosca e tola de ser o homem mais rico do Brasil, abrindo
caminho para o anunciado por ele mesmo, “mais rico do mundo”, já
naufragara com os “superdimensionados” poços de petróleo. Começa a
entregar empresas. Era o caminho e o desfecho natural.
Ninguém irá derramar uma lágrima pela derrocada desse tresloucado
trapaceiro, incompetente e exibicionista. Mas o que todos querem saber:
quem vai INDENIZAR as centenas de milhares de pessoas que compraram
ações de empresas de Eike?
Podem dizer, como estão dizendo: “Compraram porque quiseram”. Não é
bem assim. Houve uma campanha de marketing, propaganda, promoção e
publicidade, endeusando desabalada e publicamente os investimentos de
Eike.
Todos foram INDUZIDOS ou até, digamos, ABDUZIDOS. Agora, o governo
tem que se explicar, e nem só o atual. O auge de Eike foi o governo
Lula. E este, depois que “saiu”, tentou por todos os meios ajudar o
estouvado.
E Dona Dilma queria salvá-lo com apoio público, ostensivo e desatinado na Petrobras.
BAILES FUNK NAS FAVELAS
As UPPs tinham poder demasiado nas favelas ditas pacificadas. Podiam
tudo, até deixar as comunidades sem diversão, ou até determinar “qual o
tipo de diversão deveriam preferir”. Mas nas favelas “pós-Amarildo”, as
coisas estão sendo modificadas.
As UPPs perderam força, por causa dos abusos de poder, de
incompetência e desatinos contra a comunidade. Decisões que eram
individuais, passaram a coletivas. A começar pelos bailes. Agora os
moradores dançam conforma a música, que eles escolhem.
BRIGADEIRO MOREIRA LIMA
Grande figura, extraordinária personalidade, herói da FAB na Itália,
era contra exibicionismo. Em determinada época conversamos muito, éramos
da mesma geração, e lutávamos sempre pela coletividade. Era um prazer
reconhecer em Moreira Lima um líder admirado por todos que o conheciam.
Sua maior revolta foi saber que o deputado Rubens Paiva tinha sido
torturado e quase morto na Aeronáutica (no terrorista e torturador
CISA). Amarrado no cano de descarga de um carro “passeando” e batendo
com a cabeça nas pedras, asfixiado, foi morrer no DOI-CODI.
Rubens Paiva, grande personalidade e amicíssimo deste repórter, não
merecia morrer daquela forma cruel e selvagem. Ninguém merecia e muito
menos Paiva. Moreira Lima também não podia ser preso e torturado, era um
herói na guerra e na paz. Só que as ditaduras não respeitam ninguém,
principalmente os heróis.
Ditadores e torturadores têm inveja e ciúme de homens como Moreira
Lima e Rubens Paiva. O brigadeiro não foi torturado num órgão da
Aeronáutica, sabiam que ninguém na FAB tocaria no corpo de Moreira Lima.
SUPREMO PERDE TEMPO
Já deviam estar debatendo a questão dos “embargos infringentes, como
era antes da morte da mulher do ministro Teori Zavaski. Com 10
ministros, o julgamento é obrigatório.
Acontece que 11 acusados tiveram 4 votos e Luis Roberto Barroso já
deixou claro que dará a eles o quinto voto, “o crime do mensalão não é
do PT, do PSDB, do PMDB”.
Ficando 5 a 5, Barbosa teria que desempatar, tudo que não quer. Com
11 não pode haver empate, é número impar, até ele sabe disso. Que
República.