Quarta, 278 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho
Faltam apenas dez dias
para a presidente Dilma Rousseff ser submetida a um teste importante. No dia 7
de setembro, quando se comemora a independência do Brasil, ela vai presidir, em
Brasília, o desfile militar que marca o “grito do Ipiranga”, nossa algo
polêmica declaração de independência em relação a Portugal.
Para
o mesmo dia, estão sendo convocadas para diversas cidades do país manifestações
populares de rua e no principal foco de atenção a este respeito está
naturalmente a capital federal, exatamente por ser lá que está a cúpula do
poder nacional e, especialmente, a presidente da República.
É
claro que o governo Dilma Rousseff e a Polícia Militar do Distrito Federal vão
fazer todo o possível para excluir a possibilidade de uma confrontação visual e
verbal (ainda que não violenta) entre as autoridades encarapitadas no
certamente bem protegido palanque oficial e eventual multidão que venha a
atender às convocações para uma manifestação de rua em áreas adjacentes.
Em
ocasião anterior, também no 7 de setembro, o governo agiu – e é até natural que
isso ocorresse – para não permitir a coincidência dos festejos da Independência
e de manifestação (na época, contra a corrupção) no mesmo local. Os dois
eventos ocorreram em áreas próximas e mesmo em horários sucessivos, mas chegou
a haver uma certa interação: vaias partidas dos manifestantes chegaram a ser
ouvidas, com não confessado, mas indisfarçável desagrado, pelo pessoal do
palanque oficial.
Depois
das grandes manifestações de junho no país, já aí envolvendo não somente a
questão da corrupção, mas as da mobilidade urbana, saúde pública, insegurança
pública e educação, principalmente, é possível que o 7 de setembro deste ano
apresente algo politicamente bem mais denso em matéria de manifestações
populares de rua.
No entanto, isto não
pode ser dado como certo, pois a partir da espetacular queda de popularidade da
presidente Dilma Rousseff e da avaliação de seu governo de abril ao fim de
junho, ela iniciou uma lenta recuperação detectada por pesquisas de opinião
pública do Datafolha e Ibope. Pode ser que essa tendência de lenta recuperação acabe
funcionando como um desestímulo à intensidade das manifestações de insatisfação
popular.
De qualquer maneira, as
manifestações convocadas pelas redes sociais para 7 de setembro, por sua
dimensão maior ou menor, deverão ter uma influência expressiva, a favor ou
contra a recuperação da popularidade de Dilma Rousseff e de seu governo, não
importa muito a incrível patuscada gerada entre o Palácio do Planalto, o
Ministério das Relações Exteriores e a Embaixada do Brasil na Bolívia. Este é
um assunto “sofisticado” que talvez não emocione e nem tenha seu caráter
absurdo e burlesco (não pelo diplomata Saboya, que é o herói da história, o
único que cumpriu seu dever) no foco das atenções da maioria da população.
Bem, voltando ao 7 de
setembro, se a presidente passar no teste, isto pode ser um sinal forte de que
está com uma tendência persistente de recuperação, ainda que por enquanto esta
esteja se revelando lenta. Mas este sinal, este indicador, não é uma garantia
incondicional, pois em verdade a grande dificuldade de aprovação do governo
Dilma Rousseff e a candidatura dela à reeleição é o cenário de dificuldade
econômica e financeira em que o país está mergulhando – ou se aprofundando.
Já houve uma queda de
dez por cento do poder aquisitivo da população, dizem muitos economistas. O
Banco Central se dispõe a aumentar os juros (depois de os haver abaixado para
estimular o crescimento da economia, que foi um fiasco e estima-se que
continuará sendo) para empurrar para baixo a inflação, enquanto a cotação do
real cai ante o dólar, que foge do país, o que pressiona a inflação para cima,
encarecendo produtos importados. Então o governo adota medidas de desoneração
de itens de importação, para suavizar esse efeito.
A impressão que fica é a
de uma contínua improvisação no setor econômico-financeiro. Táticas sem
estratégia. Coisa de gerente, não de presidente.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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