Terça, 27 de agosto de 2013
Por Ivan de Carvalho
A pesquisa
do Ibope realizada sobe as eleições baianas de 2014 para governador não
esclarecem muito coisa, salvo o fato de que o eleitorado, em maioria, está
buscando algo que represente uma mudança em relação ao governo atual, ao
conjunto de forças políticas que formam, neste momento, a base política
liderada pelo governador petista Jaques Wagner.
Isto é o que
ressai dos números principais da pesquisa estimulada de intenção de voto, mas
esses números não são suficientes, de modo algum, a oferecer qualquer garantia
de que uma reversão no quadro atual se revele muito difícil.
Vale recordar que nos primeiros
dois anos do primeiro mandato do governador Jaques Wagner, 2007 e 2008, este
era surpreendentemente superado nas pesquisas por seu antecessor no cargo,
Paulo Souto, mas um trabalho de articulação política muito bem feito, atraindo
partidos, aliado a um eficiente marketing político e a uma intensa propaganda –
principalmente na televisão – reverteram o jogo.
Um outro fator ajudou. O
governador, embora haja sofrido um desgaste popular forte neste seu segundo
mandato (a partir das greves dos professores e da Polícia Militar, ao que se
acrescentou um cenário muito desagradável para a maioria dos governantes em
todo o país, a começar pelo Palácio do Planalto e o Congresso), é um político
carismático, capaz de estabelecer uma empatia direta com os eleitores. Isto o
ajudou muito na reversão que o recuperou no primeiro mandato.
No entanto, não se pode garantir
que tal carisma seja tão eficaz neste segundo mandato, em primeiro lugar porque
já não será ele o candidato a governador, em segundo lugar porque já é notória
uma certa fadiga do eleitorado (principalmente as classes médias e daí para
cima) com o PT em âmbito nacional e a busca de algo “novo”, a exemplo de Marina
Silva, Eduardo Campos e até, com boa dose de concessão, Aécio Neves e seu
choque de gestão.
De qualquer sorte, voltando à
pesquisa Ibope, nota-se que a soma dos quatro candidatos da oposição (dos quais
João Gualberto, do PSDB, não pontua) atinge o muito expressivo índice de 53 por
cento das intenções de voto – 26 por cento do prefeito de Salvador, democrata
ACM Neto, mesmo sob cerrado bombardeio de grande parte da mídia por causa dos
buracos de outuno-inverno, 14 por cento do ex-governador democrata Paulo Souto
e 13 por cento do ex-ministro peemedebista Geddel Vieira Lima.
Como ACM Neto tem rejeitado a
hipótese de ser candidato a governador e se declarado disposto a cumprir o
mandato de prefeito até o fim – além de ser do mesmo partido de Souto, o DEM,
que não pode apresentar dois candidatos ao governo – um cenário da pesquisa
exclui o prefeito. Neste cenário, Paulo Souto assume a liderança e Geddel
Vieira Lima o persegue de perto, com a soma das intenções de voto em ambos
constituindo ainda maioria absoluta do eleitorado.
O Ibope colocou em um cenário
quase todos os aspirantes da base do governo, incluindo a senadora Lídice da
Mata, presidente estadual do PSB, que ensaia candidatura dissidente da base
governista e de apoio à candidatura a presidente da República, se ocorrer, do
governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos.
Pois neste cenário – no qual não
figuram os petistas José Sérgio Gabrielli e Luiz Caetano – a soma dos
governistas (incluindo Lídice) atinge apenas 14 pontos. Claro que a campanha
não começou, isso ainda vai demorar, a presidente Dilma Rousseff e seu governo
podem se recuperar ou não (vai depender muito da economia) e o governo Wagner
desencadeou nos últimos dias uma campanha de propaganda na área da saúde, um
dos três temas mais críticos das grandes manifestações de rua de junho, que
deixaram o país e principalmente os governos – especialmente o federal –
estupefato.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.