Segunda, 10 de março de 2014
É falsa a informação dada pela Revista Veja de que o projeto “Somos Todos Amarildo”
se destina exclusivamente à aquisição de uma moradia para a família do
pedreiro Amarildo, torturado e executado por policiais da UPP Rocinha. Inicialmente,
o valor que se almejava reunir era de 60 mil reais, cuja arrecadação se
daria com sessenta pessoas cotizando mil reais cada para aquisição de
uma casa, mas logo se optou por um projeto mais amplo. Como há outros
milhares de desaparecidos no Rio de Janeiro, os beneméritos responsáveis
pela iniciativa, liderados pela produtora Paula Lavigne, decidiram
recolher fundos para a estruturação de um projeto de pesquisa e
assessoria sociojurídica na temática de desaparecimento forçado.
As próprias notícias veiculadas na grande imprensa sobre os eventos organizados para captar finanças e divulgar o projeto – leilão (08/10/13) e show no Circo Voador (20/11/13) –
são suficientes para esclarecer que sempre estiveram disponíveis ao
público os objetivos do projeto e a destinação dos recursos, vejamos
algumas: Zero Hora (07/10/2013) http://migre.me/ienXf, O Globo (07/10/2013) http://migre.me/ieo1f, Portal Uol (08/10/2013) http://migre.me/ieo2W, Folha de São Paulo (08/10/2013) http://migre.me/ieo62, Portal Terra (10/10/2013) http://migre.me/ieo9p, R7 (10/10/2013) http://migre.me/ieoaJ e G1 (29/10/2013) http://migre.me/ieocN.
A
divulgação do show com Caetano Veloso e Marisa Monte no Circo Voador
também foi explícita quanto ao caráter do evento, vejamos:
“A
renda de toda nossa iniciativa será direcionada ao DDH, Instituto dos
Defensores dos Direitos Humanos, para viabilizar um projeto completo que
pretende traçar um perfil dos desaparecidos na região metropolitana do
Rio de Janeiro, preservar a memória dos desaparecidos como forma de luta
por uma segurança pública centrada na defesa da dignidade humana, bem
como dar suporte jurídico e psicossocial aos familiares das vítimas.
Iremos também levantar fundos para o recomeço da família do Amarildo,
que além de enfrentar uma tentativa pública de criminalização, com a
ausência do pai e sem assistência direta do Estado, viram suas condições
materiais, que já eram ruins, piorarem. Com objetivo de dar mais
visibilidade ao caso e de dar oportunidade para todos ajudarem na causa,
haverá no Circo Voador, dia 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência
Negra, o evento Somos Todos Amarildo, com show de Caetano Veloso e
Marisa Monte e toda renda revertida para o projeto com o DDH. O show
inédito está sendo desenvolvido especialmente para essa ocasião por
Caetano e Marisa”. A informação foi veiculada na oportunidade pelo site do DDH http://migre.me/ieoqz, no perfil do Circo Voador http://migre.me/ieoGd e nas de páginas de Caetano http://migre.me/ieoIB e Marisa Monte http://migre.me/ieoLx.
Não
resta dúvida, portanto, quanto à lisura e transparência na destinação
dos recursos auferidos no leilão e show promovidos no final de 2013. Uma
mínima pesquisa de matérias jornalísticas e da publicidade dos eventos
demonstra o quanto é leviana a denuncia publicada pela Revista Veja.
Conforme informamos em nota da entidade de 28/02/2014, foram
captados no total aproximadamente 310 mil reais, sendo que até o
momento foram gastos 50 mil reais para a aquisição de uma casa para a
família de Amarildo e 11 mil reais para reparos e compra de mobília,
eletrodomésticos e utensílios. Por conseguinte, a quantia que será
destinada propriamente ao projeto será em torno de 250 mil reais.
Até
o momento foi transferido para o Instituto o valor de 59.561,34 reais,
quantia arrecadada no show de Caetano Veloso e Marisa Monte, destes
foram gastos 11.741,34 reais com a já mencionada compra de equipamentos
para a residência da família de Amarildo, restando o saldo de 47.820
reais, que será utilizado somente quando iniciado propriamente o
projeto, a partir da formação, no segundo trimestre, de um Comitê
integrado por notáveis pesquisadores, a ser coordenado pelo DDH. O
Comitê será regido por um estatuto e terá como responsabilidades
principais a escolha, orientação e fiscalização do projeto executivo. A
maior parte do fundo arrecadado, relativa ao leilão, estará sob a
responsabilidade dos beneméritos até a aprovação do estatuto.
Embora
a execução do projeto não tenha se iniciado, o DDH tem elaborada uma
minuta com as principais linhas de ação, que ora disponibilizamos (Projeto Desaparecimento Forçado).
É falsa a afirmação da Revista de que se trata de um “projeto ainda
indefinido”. Na verdade, as definições estão sendo tomadas e serão
democratizadas e aperfeiçoadas com a instalação de um Çomitê de
especialistas em direitos humanos e segurança pública.
O
projeto em questão pretende mapear na cidade do Rio de Janeiro,
sobretudo a partir de 2010, os perfis daqueles que desapareceram, por
intermédio não apenas de uma pesquisa quantitativa, mas principalmente
qualitativa, que permita traçar de forma mais apropriada os casos que se
enquadram dentro da ideia de desaparecimentos realizados por agentes do
Estado. Tal trabalho permitirá a realização de uma análise mais
pormenorizada do quadro de desaparecimento forçado no Rio de Janeiro,
bem como incentivará a criação de uma rede de contatos entre famílias de
desaparecidos e instituições que atuem no assunto.
Em
outra linha de ação, a pesquisa qualitativa dos desaparecimentos,
notadamente em áreas de UPP, será complementada com a atuação jurídica
no sentido de garantir a reparação simbólica por parte do Estado; e com a
atuação psicossocial, que objetiva amparar as famílias destruídas pelo
Estado desde o momento que tenha sido suprimido um ente querido de seu
convívio, forçadamente.
Por
último, esclarecemos que a decisão de permanecer na Rocinha e a casa
escolhida para ser comprada foi da família de Amarildo. Sabia-se de
antemão da necessidade da construção de mais um cômodo e de que reparos
seriam importantes, muitos já realizados. Mesmo assim, optou-se por uma
moradia que os mantivessem próximos das relações de afeto estabelecidas
em anos de convivência na comunidade. A casa está em boas condições.
Todos os parceiros da causa que lá estiveram atestam isso. Ao
formalizarmos a entrega da escritura, de comum acordo, consideramos
adequado e positivo aceitar que a família ficasse responsável pela
construção do novo cômodo, com o nosso apoio, mas estamos à disposição
para auxiliá-la nas dificuldades que se apresentem.
Rio de Janeiro, 09 de março de 2014.
Veja
o vídeo, feito em 09 de março, onde Elizabeth da Silva e Anderson
Souza, viúva e filho do pedreiro Amarildo de Souza, mostram a casa
comprada na Rocinha com o dinheiro arrecadado por artistas. Beth e
Anderson falaram sobre a falta de apoio do Estado, responsável pela
morte do pedreiro, e defenderam o projeto “Somos todos Amarildo”, que
vai colaborar com o enfrentamento do problema dos desaparecidos da
democracia.
Família de Amarildo fala sobre o projeto “Somos todos Amarildo”
Família de Amarildo fala sobre o projeto “Somos todos Amarildo”