Quarta, 19 de março de 2014
Por Conceição Freitas, publicado originalmente na Crônica da Cidade - Correio Braziliense
Maquete de como deve ficar a Esplanada dos Ministérios, aprovada no Conplan a pedido do governador Agnelo Queiroz.
A insistência com que se articula a aprovação do PPCub esconde mistérios
tenebrosos, todos ligados a megaprojetos da construção civil. O mais
estapafúrdio deles é o que propõe a construção de um estacionamento
subterrâneo na Esplanada dos Ministérios. Se aprovado, é fácil prever o
futuro: será o mesmo do Mané Garrincha, obra com indícios de
superfaturamento, conforme aponta o Tribunal de Contas do DF. A arena
mais cara da Copa custou R$ 431 milhões a mais do que o estabelecido.
O Mané Garrincha que se pretende construir debaixo da terra é um
projeto do atraso. Há mais de uma década que o mundo desenvolvido vem
aprendendo e ensinado sobre mobilidade urbana. A cidade que já nasceu de
um equívoco, o da técnica rodoviária predominando sobre a escala
humana, repetirá o mesmo erro, quase 60 anos depois e, desta vez, por
deliberado anacronismo.
Quando projetou uma capital que privilegiava a indústria
automobilística, doutor Lucio acompanhava as ideias de seu tempo:
naqueles anos 1950, as metrópoles reverenciavam o automóvel, embora, em
muitas delas, o transporte coletivo já fosse eficiente.
Enquanto as cidades com melhor qualidade de vida no planeta buscam soluções de transporte multimodal, Brasília insiste em estimular o uso do transporte individual, numa cidade dominada por uma trama viária que facilita a busca de soluções contemporâneas sustentáveis, sem a necessidade de desapropriações, demolições e outras soluções mais catastróficas e dispendiosas.
Ônibus, micrônibus, VLT, BRT, metrô, trem, lambreta, bicicleta — a
interligação de todos esses meios de transporte tem sido a solução
adotada nas mais funcionais metrópoles do planeta. Enquanto isso, na
capital do urbanismo moderno se insiste em esburacar a Esplanada para
atender a 7,5 mil (ou 10 mil, que seja) servidores que têm dificuldades
de estacionamento nas proximidades da repartição.
A obsessão pela vaga subterrânea vem desde o último governo Roriz,
alimentada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que acima e além de tudo,
queria ver suas obras erguidas, fossem para o bem ou para o mal da
cidade. Quando veio à capital em meados dos anos 1990, Niemeyer não
gostou de ver a Esplanada poluída de carros estacionados ao longo da via
e entre os ministérios. Escreveu longo artigo, publicado neste Correio,
defendendo um projeto subterrâneo.
Não será a obsoleta, elitista e milionária escolha pelo
estacionamento no subsolo da Esplanada que vai despoluir a mais
importante avenida de Brasília. Todos já sabemos que quanto mais vagas,
mais carros; mais congestionamento; mais avenidas, mais carros, mais
congestionamentos. Só o PPCub não sabe ou faz de conta que não sabe.