Terça, 12 de abril de 2016
Adriano Benayon *
Publiquei,
este ano, artigo “O Golpe Permanente”, em que resumi como as
lamentáveis estrutura e infraestrutura econômica e social do País são o
resultado da continuidade, nos últimos 62 anos, de políticas
determinadas por interesses vinculados às potências imperiais ou, no
mínimo, capitulações diante de pressões dessas potências.
2.
A continuidade, geralmente despercebida, tem prevalecido sob governos e
regimes díspares, incluindo os militares e os eleitos pelo voto direto,
e também os instalados através de eleições indiretas pelo Congresso
“Nacional”.
3.
Essa realidade prossegue sob a presente “ordem” constitucional, e
perdurará, enquanto esta existir, como também sendo ela substituída por
mais um regime incapaz de conduzir o Brasil ao desenvolvimento
econômico e social.
4.
Tenho enfatizado que a corrupção mais profunda é de natureza distinta
da que costuma ser investigada pelas autoridades competentes e exposta
ao público pelos meios de comunicação social.
5.
Muitos brasileiros estão divididos entre, os que consideram que a
preservação (?) do inexistente (mas oficialmente assim definido) regime
democrático depende de rejeitar o pedido de impeachment contra a
presidente da República, e os que julgam que esse regime somente
sobreviverá se conseguirem defenestrar a primeira mandatária.
6.
Não obstante a segunda “alternativa” afigurar-se a mais deletéria, o
País terá agravados os seus desequilíbrios com qualquer desses
desfechos.
7.
No deprimente espetáculo oferecido por políticos e partidos, o PMDB
apresentou mais um número digno de seu passado de conchavos espúrios e
deslavado fisiologismo, afastando-se do Executivo petista, de que fez
parte desde o primeiro mandato de Lula.
8.
De fato, por todo esse tempo, caciques peemedebistas, Temer, Cunha e
outros, - além das cornucópias reservadas ao Legislativo, como as
emendas ao orçamento – desfrutaram de cargos e feudos na área do
Executivo.
9.
E já o haviam feito nos oito anos de FHC (PSDB), cumpliciando-se em
todos os atos de frontal desprezo aos interesses nacionais.
10.
É manifesta a orfandade dos brasileiros no que dependa da representação
política, cujas mazelas independem da dualidade esquerda (PT, PC doB ?)
/ direita (PSDB e aliados, agora reforçados pelo PSB, em traição às
memórias de seus fundadores).
11.
Se a “direita”, é confessadamente alinhada às posições defendidas pelo
império angloamericano e em favor de sua oligarquia financeira, os
governos encabeçados pelo PT nunca deixaram de se acomodar com esta.
12.
Isso vem desde antes da primeira posse de Lula, quando este fez acordo
de “governabilidade”, no qual concordou em sufocar os movimentos que
pleiteavam rever as grossas bandalheiras das privatizações, em que foi
dilapidado o grosso do patrimônio público.
13.
Recorde-se que o surgimento de Lula e do PT foi patrocinado durante
governo militar, sob a direção de Golbery, ligado à CIA, a fim de dividir
a esquerda que, à época ainda contava com figuras nacionalistas de
expressão: Leonel Brizola e Miguel Arraes.
14.
A escalada de Lula foi fomentada, não só pela ala pró-EUA do governo
militar, mas também pela grande mídia, tradicional sustentáculo dos
interesses dos carteis transnacionais, desde antes da derrubada do
presidente Vargas em 1954.
15.
O apoio externo ao sindicalista de resultados manifestou-se, de forma
despercebida pelo público, por exemplo, em cenários ilusórios de
perseguição contra Lula, para transformá-lo em suposta vítima do governo
ditatorial, como o sobrevoo ameaçador de concentração de seguidores,
por helicópteros das FFAA.
16.
Outro episódio marcante foram as fraudes contra Brizola para que Lula
obtivesse, por pequena margem, o segundo lugar no 1º turno da fatídica
eleição de 1989, que elevou Collor à presidência, para, entre outras
medidas devastadoras, fazer o Congresso aprovar, em 60 dias, pacote de
leis tão volumoso, como nocivo ao País.
17.
Entretanto, fazendo justiça a Lula, lembre-se que ele, no primeiro
mandato, tomou algumas medidas favoráveis à economia e deteve
temporariamente a destruição da Petrobrás, encetada por FHC, desde a Lei
9.478/1997 e a infiltração de agentes de interesses externos na ANP e
na estatal.
18.
Lula pôs em posições executivas da Petrobrás, técnicos, como Guilherme
Estrella e Ildo Sauer, que dirigiram as descobertas das grandiosas
reservas do pré-sal, além de ter conseguido aprovar a Lei que instituiu
regime especial para a exploração dessas reservas.
19.
Mas a qualidade das administrações da Petrobrás não se manteve no
segundo mandato e deteriorou-se sob Dilma, com Graça Foster e muito mais
com Bendine.
20.
As políticas deste são contraditórias e destrutivas, como comprova: 1) o
balanço de 2015, em que foram enganosamente desvalorizados e
subavaliados os ativos da empresa; 2) a açodada venda de parte
substancial de ativos.
21.
É desastrosa a atuação da presidente Dilma, em áreas cruciais como o
petróleo e a eletricidade, em manteve o sistema de caos programado
instituído por FHC, e acabou consumando a virtual falência da
Eletrobrás.
22.
Entretanto, constatar esses fracassos não leva a concluir que a
devastação do patrimônio do País não será ainda mais incrementada, se o
Executivo for assumido por qualquer dos opositores.
23. No próximo artigo, avaliarei antecedentes históricos das mentirosas “alternativas” existentes no cenário político.
* Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.
* Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.