Quinta, 7 de outubro de 2010
Por Ivan de Carvalho

A antecipação é lógica. Em 2007 o PT, em um congresso nacional do partido, fecha questão a favor da descriminalização do aborto. Foi, talvez não por isto, mas certamente também não por mera coincidência – pois coincidências não existem, certamente existem as tais sincronicidades apontadas por Karl Jung – o mesmo ano em que a então ministra Dilma Rousseff, que ainda não era nem sequer sonhava em ser candidata a presidente da República, deu uma fatídica entrevista à Folha de S. Paulo.
"Acho que tem de haver descriminalização do aborto. No Brasil, é um absurdo que não haja, até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto. Não as de classe média, mas as de classe mais pobres deste país". Bem, esta é a declaração, literal, de Dilma Rousseff à Folha de S. Paulo em 2007. A ministra leu a entrevista publicada, não fez qualquer reparo ou pedido de correção. A publicação era fiel.
O PT, partido de Dilma Rousseff, abriu processo contra o deputado Luiz Bassuma, por “militar” contra a liberação do aborto. Juntamente com outro deputado, ele foi suspenso por um ano. “Fui punido por unanimidade”, disse à Folha em entrevista divulgada ontem, na qual frisa que “o estatuto do PT diz que, por questões filosóficas, religiosas, éticas e de foro íntimo nenhum filiado será punido. O último governo quis legalizar o aborto duas vezes e não conseguiu, nós conseguimos impedir”.
O Sr. diz o governo Lula? – pergunta a Folha. E o deputado baiano, que é espírita (os espíritas não admitem o aborto) responde: “O Lula. Aí, em 2009, o PT resolve me punir com um ano de suspensão”. Assim punido, Bassuma decide sair do PT e ingressa no PV. Foi punido porque era contra o aborto? – pergunta a Folha. “Se eu ficasse caladinho, poderia ter ficado no PT até hoje. Eles não queriam que eu liderasse o movimento. Era porque eu defendia a vida, era contra o aborto.
Ora, eu ia escrever sobre mais algumas coisas, mas a importância do que afirma Luiz Bassuma vai me manter no assunto até o fim deste comentário. Ele diz: 1) Que, por “militar” contra a liberação do aborto, foi punido “por unanimidade”. A punição foi imposta pelo diretório nacional do PT; 2) Afirma que o presidente Lula e seu governo quiseram legalizar o aborto duas vezes. Dilma Rousseff era a ministra-chefe da Casa Civil da presidência da República e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que foi escolhido por Lula e defendeu publicamente a descriminalização do aborto, como o fez Dilma Rousseff. Esta já não sustenta a proposta, o que para Bassuma caracteriza uma atitude “eleitoreira”. Daí que não pensou duas vezes sobre quem apóia no segundo turno.
- - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista político baiano.
- - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista político baiano.