Segunda, 1 de novembro de 2010
Por Ivan de Carvalho
Ontem, antes do fim da apuração do pleito presidencial, com a contagem oficial anunciada pelo Tribunal Superior Eleitoral atingindo 99,19 por cento, já estavam disponíveis números capazes de mostrar, grosso modo, como se posicionou a sociedade brasileira, representada por seus 135.804.433 eleitores, conforme o total oficial fornecido pelo TSE.
Citando o que já esteve e continua em todos os noticiários de televisão, rádio e jornais. Compareceram 105.958.167 eleitores e, destes, 98. 852.433 votaram em Dilma Rousseff, governista do PT ou José Serra, oposicionista do PSDB. Dos que compareceram para votar, 7.119.440 votaram em branco ou anularam, deliberadamente (a maior parte) ou não, seus votos.
A abstenção foi alta. Superou a abstenção já elevada do primeiro turno, como, aliás, se esperava, pois já não havia eleições para as Assembléias Legislativas, o Congresso Nacional e muitos governadores de Estados, alguns dos quais com grande ou média densidade eleitoral (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Ceará, Pernambuco). Ontem, segundo o TSE, com aqueles 99,19 por cento de sessões eleitorais apuradas e computadas, a abstenção era de 21,44 por cento, de forma que se pode dizer com grande aproximação, que 21,44 por cento do eleitorado se abstiveram.
De qualquer modo, dos 135 milhões de eleitores brasileiros, 37 milhões presumivelmente não se interessaram em votar em Dilma ou Serra. Dos 99 milhões que votaram em um dos dois candidatos, 56 por cento (55.345 mil, aproximadamente) preferiram a candidata petista do governo Lula e 44 por cento (aproximadamente 43.506 mil) optaram pelo candidato oposicionista, do PSDB.
Esse é o dado básico do qual se há de partir para qualquer análise política abrangente do cenário nacional a partir do pleito de ontem. O eleitorado brasileiro – que, pelo princípio democrático e pela óbvia realidade, representa a sociedade – não embarcou em um só projeto.
O governismo, por um somatório bastante conhecido de fatores favoráveis (esmagadoramente favoráveis em relação aos desfavoráveis), obteve um vantagem de 12 pontos percentuais (desta vez, os institutos de pesquisa eleitoral conseguiram acertar – quem sabe se eles não houvessem errado tanto antes, na campanha para o primeiro turno, os resultados de ontem teriam sido bem diferentes, porque a campanha para o pleito de 3 de outubro poderia ter tomado rumos bem diversos dos que assumiu).
Mas a oposição, mesmo tendo traçado e executado estratégias tão ineficazes quanto equivocadas desde 2005 (razão essencial pela qual perdeu as eleições presidenciais de 2006), conseguiu 44 por cento dos votos válidos. Se temos 56 a 44 por cento, temos um país politicamente dividido (não no sentido de divisão maligna, mas de divisão que evita o esmagamento de um dos lados e enseja o exercício do contraditório democrático, caso a oposição exerça efetivamente, com a eficácia que faltou de 2005 para cá, a função que o eleitorado acaba de lhe atribuir).
Resta ainda assinalar que, apesar do poderosíssimo poderExecutivo federal ao qual lhe cabe se opor (desde que não quando se tratar do interesse público), a oposição não ficou desvalida. Mesmo perdendo cadeiras no Congresso Nacional, manteve os governos dos poderosos Estados de São Paulo (PSDB) e Minas Gerais (PSDB), aos quais acrescentou, ainda no primeiro turno, Paraná (PSDB), Tocantins (PSDB), Santa Catarina (DEM), Rio Grande do Norte (DEM) e ontem elegeu quatro governadores do PSDB: Roraima (Anchieta), Alagoas (Teotônio Vilela, o filho), Pará (Simão Jatene) e Goiás (Marconi Perillo). A eleição deste último foi uma derrota pessoal de Lula, que tudo fez para impedir a reeleição de Perillo. Ao todo, a oposição tem dez governadores, ao que se acresce Omar Aziz, do Amazonas, filiado ao PMN. Com boa vontade, assim, a oposição chega a 11.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.