Quinta, 20 de janeiro de 2011
Da "Auditoria Cidadã da Dívida"* 
Os jornais de hoje [19/1] destacam a decisão do COPOM (Comitê de Política 
Monetária do Banco Central) de aumentar ainda mais a taxa de juros 
“Selic”, que já era a maior do mundo, e incide sobre a dívida interna 
brasileira.
Desta forma, confirmam-se os alertas da Auditoria Cidadã da Dívida 
sobre a continuidade da política econômica no governo Dilma, feitos na edição de 23/11/2010 deste Boletim (véspera do anúncio da atual equipe econômica) que mostrou os equívocos e as alternativas a esta política.
Naquela edição, este boletim afirmou:
"Conforme comentado nas edições anteriores desta seção, a 
presidente eleita Dilma Rousseff já garantiu que, qualquer que seja o 
próximo presidente do Banco Central, o sistema de metas de inflação 
continuará. Portanto, continua "tudo como dantes no Quartel de 
Abrantes".
Conforme esperavam os rentistas, hoje a Taxa Selic foi aumentada de 
10,75% para 11,25% ao ano, o que gerará um aumento de cerca de R$ 10 
bilhões por ano nas despesas com juros da questionável dívida interna 
brasileira. Tais R$ 10 bilhões representam uma quantia 20 vezes superior
 ao montante de recursos que o governador do RJ alega ter recebido da 
União em 4 anos para combater os desastres decorrentes das chuvas.
Embora apenas 46% da dívida interna sejam compostos por títulos 
indexados à “Taxa Selic”, os investidores exigem taxas iguais ou 
superiores à Selic para comprar os demais títulos, como os “pré-fixados”
 ou vinculados a índices de preços (mais juros). Segundo o Tesouro Nacional,
 dia 13/1 os investidores exigiram taxas de juros de até 13% ao ano para
 emprestar ao governo nos títulos “pré-fixados”, e no dia 11/1 exigiram 
taxas de juros de 6% mais a inflação (o que soma cerca de 12% ao ano) 
nos títulos vinculados a índices de preço.
Portanto, na prática, os rentistas já estão ganhando – às custas do 
povo - taxas de juros muito maiores que a Selic, que já são as maiores 
do mundo.
Desta forma, tal aumento de R$ 10 bilhões anuais nos gastos com juros
 da dívida está até subestimado. Este valor seria suficiente para 
viabilizar um aumento de R$ 35 no salário mínimo, que desta forma 
poderia subir dos R$ 545 propostos pelo governo (que apenas repõem as 
perdas inflacionárias) para R$ 580.
Curiosamente, R$ 580 é o valor exato reivindicado por algumas 
Centrais Sindicais, que serão recebidas pelo governo na semana que vem, 
conforme noticia o jornal Estado de São Paulo. Porém, cabe ressaltar que
 o salário mínimo poderia aumentar muito mais, caso o país não 
precisasse destinar a maior parte do orçamento para a questionável 
dívida pública, que deveria ser auditada, conforme prevê a Constituição.
Os trabalhos da recente CPI da Dívida na Câmara dos Deputados puderam
 questionar diversos itens desta dívida, o que resultou em diversas 
propostas feitas pelo Relatório Final da CPI, aprovado pela própria base
 do governo e também pelo PSDB. Notícia da Agência Câmara mostra as 
recomendações feitas por este Relatório Final, como a revisão dos 
contratos de endividamento dos estados com a União, a limitação à 
emissão de títulos da dívida para viabilizar empréstimos do BNDES, além 
da necessidade de transparência sobre os votos de cada integrante do 
COPOM e sobre a emissão de títulos para compra de dólares das reservas 
internacionais.
As recomendações também incluem a divulgação correta, pelo Tesouro 
Nacional, dos montantes pagos de juros da dívida. Isto porque, 
atualmente, uma parcela deste pagamento (referente à correção monetária)
 é divulgada pelo governo como se fosse amortização, dando a entender 
que as despesas com juros seriam bem menores do que realmente são.
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*Este artigo foi publicado originalmente no site da "Auditoria Cidadã da Dívida"
 
 
 
