Quarta, 26 de janeiro de 2011 
Artigo publicado originalmente em "Auditoria Cidadã da Dívida" 
Os jornais de hoje [26/1] destacam o enorme e crescente rombo nas 
“Transações Correntes” do Brasil com o exterior em 2010, que 
simplesmente dobrou no ano passado, passando de US$ 24 bilhões em 2009 
para US$ 48 bilhões em 2010. Isto significa que as despesas do país com 
serviços, juros da dívida e remessas de lucros ao exterior estão bem 
maiores que o saldo comercial, ou seja, o país está pagando ao exterior 
um valor bem maior do que recebe. O resultado disso é que o país tem de 
se endividar lá fora para cobrir este rombo.
Cabe comentar, inicialmente, o comportamento assustador das 
importações, que subiram de US$ 128 bilhões em 2009 para US$ 181 bilhões
 em 2010, em grande parte devido ao dólar desvalorizado (que torna as 
importações mais baratas), consequência da enxurrada de capital externo 
que vem para o país ganhar as maiores taxas de juros do mundo na dívida 
interna. Portanto, este rombo externo é também consequência da política 
de endividamento.
Cabe ressaltar também que as remessas de lucros subiram US$ 6 
bilhões, mais que os US$ 5 bilhões de crescimento das “viagens 
internacionais”, colocadas como principais vilões do rombo externo pela 
grande imprensa, para justificar mais medidas de contenção de consumo. 
Segundo a grande imprensa, este rombo estaria sendo resolvido pela 
entrada de “capital produtivo” no país, o chamado “investimento direto”.
 Porém, a realidade é bem diferente.
Analisando-se a tabela do Banco Central,
 verifica-se que o tão propalado aumento em US$ 22 bilhões no 
recebimento de “investimentos estrangeiros diretos” foi completamente 
anulado pelo crescimento de US$ 22 bilhões nos investimentos no exterior
 de empresas brasileiras, que passam por um processo de 
internacionalização.
Na realidade, o que compensou o crescimento do rombo das “Transações 
Correntes” foi, simplesmente, a maior tomada de empréstimos externos 
pelas empresas e bancos brasileiros, em grande parte para aplicar em 
títulos da dívida interna, conforme comentado em diversas edições 
anteriores deste boletim.
Portanto, o endividamento mostra mais uma vez seu círculo vicioso: os
 altíssimos juros exigidos pelos rentistas atraem capitais ao país, o 
que provoca desvalorização do dólar, aumentando as importações, levando o
 país a ficar cada vez mais dependente da entrada de capitais 
especulativos para serem novamente remunerados pelos maiores juros do 
mundo.
Mas não são somente empresas que estão tomando empréstimos no 
exterior. O Jornal Valor Econômico mostra que o município do Rio de 
Janeiro planeja se endividar no exterior para investimentos relacionados
 às Olimpíadas de 2016 por meio da emissão de US$ 2 bilhões dos chamados
 “Olympic Bonds”, que pagariam juros de 10% ao ano, enquanto países do 
Norte pagam juros quase zero.
- - - - - - - - - - - - -
Acesse "Auditoria Cidadã da Dívida"
- - - - - - - - - - - - -
Acesse "Auditoria Cidadã da Dívida"
 
 
 
