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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Prefeitura e sucessão

Quinta, 20 de janeiro de 2011
Por Ivan de Carvalho
Recentemente, abordei aqui o tema da sucessão municipal em Salvador, tendo em vista o cenário que existia na época, já com uma guerrilha em curso entre o comando estadual do PMDB e o prefeito João Henrique. Mas agora há justificativa para revisitar o tema, já que a guerrilha transformou-se em batalha campal e guerra sem quartel.

    A Executiva Estadual do PMDB reuniu-se, decidiu e anunciou que o prefeito está suspenso do partido por 90 dias, prazo no qual tramitará um processo de expulsão dele da legenda. Sem disposição para sofrer essa prolongada tortura política, João Henrique entrou na Justiça Eleitoral com um pedido de sua desfiliação do PMDB, partido graças ao qual conquistou (juntamente com o apoio que recebeu do DEM e de ACM Neto no segundo turno) a reeleição para a prefeitura.

    Um novo episódio aconteceu ontem. Numa reunião ampliada e que durou toda a manhã, as direções estadual e municipal e a bancada de vereadores do PMDB decidiram romper politicamente com o prefeito. Quatro vereadores estavam presentes e assinaram o documento do partido e um quinto, que viajava, autorizou que o incluíssem entre os assinantes. Somente o vereador Alfredo Mangueira, que também está viajando, não pôde ser contatado.

    Agora, o PMDB está na oposição ao prefeito João Henrique, mas o partido não fechou questão quanto à aprovação ou não das contas do prefeito referentes a 2009, cuja rejeição o Tribunal de Contas do Municípios recomendou. Os vereadores peemedebistas estão livres para votar pela aprovação ou rejeição.

   Com o rompimento formal e irreversível entre o PMDB e o prefeito, a sucessão de 2012 em Salvador ganha novos elementos. Tem-se como certo que o PT, liderando uma coligação, lançará um candidato a prefeito. Pode ser o persistente deputado Nelson Pelegrino, que não pensa em outra coisa, pode não ser, no que outros pensam.

    São ainda vertentes importantes na sucessão:

   1. O Democratas, partido no qual há dois nomes. O do deputado ACM Neto, que já disputou a prefeitura em 2008 e o do deputado José Carlos Aleluia, que na semana passada declarou que seu nome “está à disposição”. O Democratas e esses dois políticos, que agem de comum acordo, têm até 2012 para fazer suas avaliações

  2. O PMDB. Tem na agulha o nome do deputado estadual e ex-presidente da Câmara Municipal, Alan Sanches. Mais de 30 mil votos só na capital. No entanto, o PMDB pode perfeitamente fechar uma coligação com o Democratas, o PR e partidos menores. Neste caso, o candidato a prefeito seria quase certamente do Democratas (ACM Neto ou Aleluia). As articulações de uma tal aliança já poderiam prospectar o cenário da sucessão de governador de 2014.

3. A terceira vertente seria mesmo a do prefeito João Henrique. Como a lei já não lhe permite candidatar-se novamente e outra vez emergir de uma situação de forte rejeição para a vitória espetacular, ele poderá, ou apoiar o candidato do PT (dependente de o PT querer e de acordos que sejam ou não feitos) ou lançar um candidato do seu grupo para marcar território eleitoral, marcar presença na campanha, ganhar espaço para uma campanha majoritária e eleger um grupo de vereadores ligado a ele. Mesmo que esse grupo, como vem ocorrendo tão sistematicamente, acabe se desligando.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.