Quinta, 18 de agosto de 2011
Por Ivan de Carvalho
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, do PMDB
e indicado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, em nome de seu
partido e especialmente da bancada peemedebista na Câmara dos Deputados pediu
demissão ontem.
Na fila ainda está o ministro do Turismo, Pedro
Novais, também indicado pelo PMDB, e especialmente pelo presidente do Senado,
José Sarney, um pouco em nome da bancada peemedebista nesta Casa do Congresso,
muito em nome dele mesmo e seu grupo. Pedro Novais foi ontem ao Congresso,
atendendo a convite para explicar as denúncias de irregularidades em seu
ministério, mas sabe-se que a presidente Dilma deu orientação para ele ir. E
ele admitiu que “alguma coisa pode ter havido”.
O ministro da Agricultura apresentou ontem carta
de demissão, acusando a revista Veja
e o jornal Folha de S. Paulo de
fazerem denúncias de corrupção infundadas que o levaram a deixar o governo para
não permanecer exposto a essa artilharia.
Esperto, inteligente, observador, Wagner Rossi –
depois de cuidar de deixar bem claro que não estava saindo por desejo do
governo, pois elogiou fortemente a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente
Lula – escreveu no penúltimo parágrafo de sua carta que “só um político
brasileiro tem condições de pautar ao mesmo tempo a Veja e a Folha de S.
Paulo”.
Assim, o ministro, ou ex, praticamente acusou
alguém muito importante na oposição e, como ele não disse o nome da pessoa a
que se referia, convém ser prudente. Mas como ele deixou claro que estava
atirando em um alvo bem definido, certamente é porque pretendia ser entendido.
Observando-se o quadro das oposições no país,
nota-se que os três políticos mais influentes são do PSDB, o principal partido
oposicionista – o senador Aécio Neves, o ex-governador paulista José Serra e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Fazendo um raciocínio algo
superficial, pode-se excluir da equação Aécio Neves, tendo em conta que os dois
veículos de comunicação “acusados” por Wagner Rossi estão sediados em São Paulo.
Restariam FHC e José Serra.
Que o leitor faça sua escolha enquanto Rossi não
deixar vazar o nome do vilão de sua pouco verossímel história de bruxo.
Quanto a mim, prefiro ressaltar a sucessão de
crises políticas no governo Dilma Rousseff, enquanto a crise
econômico-financeira internacional vai lentamente sitiando o país, cujo governo
não preparou e não tem um projeto de nação a longo prazo e nem um plano
consistente para enfrentar essa crise que vem de fora, tendo preferido montar
um projeto de poder.
Note-se que houve a crise na Casa Civil, forçando
a saída de Antônio Palocci; a mudança no Ministério de Relações Institucionais;
a crise no Ministério dos Transportes, que afastou Alfredo Nascimento do cargo
e o PR do governo; a queda do ministro da Defesa e a nomeação de um novo
ministro, Celso Amorim, muito mal visto por grande parte do estamento militar,
por seu histórico no Ministério das Relações Exteriores; a complicada
investigação no Ministério do Turismo e agora essa crise no Ministério da
Agricultura, culminando com uma apressada e, vamos combinar, estranha saída do
ministro.
Como no samba de Adoniran Barbosa, há dias muito
oportunamente lembrado pelo jornalista Vitor Hugo Soares, “a situação aqui tá
muito cínica”. O que complica é que a determinação do sargento Oliveira – “os
mais pió vai pras crínica” – é difícil de cumprir, pois o SUS está um horror.
Ou continua um horror. Foi o que bem mostrou ontem o programa “Que venha o
Povo”, da TV Aratu, com uma filmagem clandestina
(feita por um acompanhante de doente) no interior do Hospital Roberto Santos.
Ali também “a situação tá muito cínica” e a cada dia “mais pió”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.