Domingo, 14 de outubro de 2012
Balzac é Balzac. Sendo assim, é compreensível que tenha sido
convocado, mais uma vez, pelo Diário para a série “Conversas com
Escritores Mortos”. As frases abaixo foram extraídas do livro “Código
dos homens honestos”.
Monsieur Balzac, o senhor é considerado um dos maiores
romancistas de todos os tempos – e também é conhecido por ter criado
personagens excelentes. Vautrin é, particularmente, meu favorito. O que
tem a dizer sobre ele?
Vautrin é um canalha – ou antes, um ladrão.
Isso quer dizer que o senhor o desaprova?
É claro que não. Os ladrões constituem uma classe especial da
sociedade: contribuem para o movimento da ordem social; são o
lubrificante das engrenagens e, como o ar, penetram em qualquer lugar;
os ladrões são uma nação à parte, no interior da nação.
Estou confusa. Então o senhor aprova os ladrões?
Acho que é necessário, antes de tentar desvendar as astúcias dos
ladrões, tecer sobre eles algumas considerações imparciais; talvez
ninguém mais possa analisá-los sob todos os ângulos e com total
sangue-frio. Mas certamente não serei acusado de querer defendê-los,
pois isso seria mais que injusto. Afinal, não posso defender aqueles que
podem, a qualquer momento, me roubar.
E quais seriam suas considerações imparciais?
O ladrão é um ser raro; a natureza o concebeu como uma criança mimada
e despejou sobre ele toda sorte de perfeições: um sangue frio
imperturbável, uma audácia a toda prova, a arte de aproveitar o momento
exato, tão fugaz e tão lento, a agilidade, a coragem, uma boa
constituição física, olhos penetrantes, mãos ágeis, fisionomia aberta e
expressiva, todas estas qualidades não são nada para um ladrão e, no
entanto, são consideradas como a soma das capacidades de um Aníbal, de
uma Catarina, de um Mário, de um César.