Segunda, 15 de outubro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Em entrevista exclusiva ao Congresso
em Foco, a diretora-executiva do Ibope-Inteligência, Márcia Cavallari, mostrou
pouca imaginação ao tentar explicar os erros cavalares do instituto em várias
capitais de estados – entre elas, Salvador, Manaus e Curitiba, os desacertos
mais espetaculares – em relação ao primeiro turno das eleições para prefeito.
Segundo ela, o eleitor brasileiro se empolga menos com as eleições e,
preocupado em não repetir erros de votações anteriores, decide cada vez mais na
última hora em quem votar.
Ora, caso se aprofunde pouquinha
coisa mais essa tendência de cada vez mais eleitores deixarem para decidir na
última hora, o Ibope e os demais institutos melhor fariam se pusessem a viola
no saco durante as campanhas eleitorais e se limitassem a fazer pesquisas de
boca de urna, nas quais, indica o bom senso, os eleitores que já terão votado
ou estarão entrando no local de votação já decidiram. Mas nem isso resolveria o
problema do Ibope em Salvador, onde errou feio até na pesquisa de boca de urna
por expressionantes (ouvi esta palavra no último sábado, pela primeira vez, e
aprovo sua criação, se para efeito de desqualificação da recente atuação do
Ibope) sete pontos percentuais dos votos válidos.
Curioso foi o sistema de erro
seletivo do Ibope em Salvador. Na pesquisa de boca de urna, deu 43 por cento
dos votos válidos a Pelegrino, do PT, contra 36 por cento para o democrata ACM
Neto. E, em princípio, não dá nem para suspeitar que haja sido um erro
intencional, pois essa pesquisa é a única que não poderia ter influência nas
eleições, já que sua divulgação é permitida apenas após o fechamento das urnas.
Nas duas pesquisas anteriores, o
Ibope também errou feio. Na noite de sábado, 6 de outubro, menos de 12 horas
antes de se iniciar a votação do domingo, 7, o Ibope deu ao candidato do PT
seis pontos percentuais a mais que os atribuídos ao candidato democrata,
considerados apenas os supostos votos válidos – 43 a 37. Pelo total de votos, seriam
cinco pontos, 34 a 29. No entanto, apesar da pesquisa Ibope de boca de urna e
dessa pesquisa cujos resultados foram divulgados no sábado (feita, segundo
anunciado, de segunda a sábado), o candidato ACM Neto conseguiu ir para o
segundo turno em primeiro lugar, embora por estreitíssima vantagem sobre o
competidor Nelson Pelegrino.
O problema maior para a informação
correta da sociedade, do eleitor e dos candidatos foi a pesquisa Ibope
divulgada no dia 27 de outubro. Deu 43 a Pelegrino e 41 a ACM Neto. Foi peça
importante na divulgação espontânea pela mídia e mais ainda na propaganda
eletrônica do candidato a prefeito pelo PT. Foi a pesquisa da “virada” e do
“Pelegrino está na frente”. O eleitor Maria Vai com as Outras, que vota em quem
ele pensa que vai ganhar, pendeu para Pelegrino. A pesquisa também roubou a
Neto, pelo menos publicamente, a liderança na preferência dos eleitores e, com
ela, o quase único instrumento de que dispunha para atrair doações de recursos
para a campanha, enquanto a campanha petista, que tinha como atrativo para os
doadores o apoio dos governos federal e estadual, passou a ter também o da
suposta liderança. Finalmente, a máquina de campanha de Pelegrino sentiu-se
estimulada, enquanto a de ACM Neto não se deixou deprimir apenas porque
dispunha de pesquisas internas (tracking
diário) segundo as quais o petista se aproximara, mas em nenhum momento
ultrapassara o democrata.
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Este artigo foi
publicado originnariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho
é jornalista baiano.