Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

As causas anônimas da quinta-feira 13

Quinta, 20 de junho de 2013
“A tentativa mais constante é de atribuir as mobilizações à classe média irritada com a corrupção. Os jovens rebeldes se transformaram em bons filhos de família, bem comportados, que estariam tendo sua primeira lição de democracia, salutar e necessária. Mas isso passa longe da verdade”
Bajonas de Brito Júnior *
Os jornalistas e analistas políticos das mídias tradicionais se esforçam para acertar, no chute, a origem do fenômeno. Uns dizem que foi o sistema de “mobilidade urbana” (a expressão virou moda, depois de servir às empreiteiras para moverem muito dinheiro dos cofres públicos), porque o maior problema são as passagens no país inteiro. Outros afirmam que foram as obras da Copa, fala-se também da situação da saúde e da educação e há quem jure que a causa de tudo foi a corrupção (foi o que disse anteontem ao vivo Jorge Pontual, na Globonews, direto de New York como sempre, insistindo que tudo – passagens, obras da Copa, saúde, etc. – está como está por causa dos corruptos).

A esse rosário juntam-se ainda a PEC 37, o Marco Feliciano no Congresso (que aprovou a Cura Gay em meio à onda de protestos no país, tão petulante está o fundamentalismo evangélico), a inflação e o tomate, as repressões contra os índios, como vimos recentemente no Museu do Índio no Rio, e o assassinato de um índio em desocupação comandada pela Polícia Federal. Na verdade, o que é mais fácil do que apontar causas para a revolta popular no Brasil hoje? Não é uma ou outra barbaridade, é quase tudo que está submerso no caos.

De uma coisa, porém, a grande mídia tem se esquecido de mencionar: a própria mídia brasileira e suas manipulações grosseiras. Mas isso já seria pedir demais, não? O fato é que até a quinta-feira 13, as maiores redes repetiam em uníssono que as cidades não podiam ficar reféns de uns poucos vândalos e baderneiros radicais. Mas, de repente, dois fatos novos vieram espalhar o pânico nas edições: as tentativas fracassadas do Datena, ao vivo, de manipular a opinião contra os manifestantes e a pesquisa do Datafolha mostrando a maioria da população favorável aos manifestantes. Esses dois acontecimentos tiveram lugar na noite do dia 13. 

* É doutor em Filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas. É coordenador da revista eletrônica Revista Humanas e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).